Sindpd sedia 1º ciclo de debates sobre assédio moral e discriminação nas relações do trabalho

Cerca de 500 pessoas entre profissionais de recursos humanos e pesquisadores estiveram presentes no evento

O encontro organizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em parceria com o Sindpd e realizado na última quinta-feira, 18/07, na sede do sindicato, em São Paulo, reuniu diversas áreas profissionais para discutir a questão do assédio moral nos ambientes corporativos. Com a presença do Superintendente Regional do Trabalho e Emprego do Estado, Luiz Antônio de Medeiros, além de psicólogos, sociólogos e advogados, o encontro serviu para apresentar as pesquisas e avanços tanto no diagnóstico quanto no combate ao abuso. “Esse é um estudo relativamente novo, essas palestras servem de guia para nossas ações, afinal, vivemos em uma democracia onde ninguém pode assediar ninguém, ninguém pode impedir a carreira de uma pessoa dessa maneira”, disse Medeiros.

Para o sociólogo Angelo Soares, professor da Universidade de Quebec, no Canadá, os problemas de assédio moral e de saúde mental são vividos não por conta da fragilidade das pessoas, mas por causa das transformações dos últimos 30 anos nas organizações e na sociedade. Soares é autor de uma pesquisa com diferentes grupos de trabalhadores – engenheiros, técnicos, funcionários de prefeituras, professores, trabalhadores de escritório e estivadores.

O resultado da pesquisa de Soares revela os ingredientes básicos que encorajam e toleram essa violência. A falta de justiça organizacional no ambiente de trabalho, de respeito, reconhecimento, confiança e cooperação, assim como a sobrecarga de trabalho, são as principais variáveis para que aconteça o assédio moral. Resultando em pessoas que trabalham mais horas sem pausas e, por fim, o medo de perder o emprego.

Assédio Moral, CSB, MTEPara ele, os métodos de gestão que são colocados hoje para motivar a competição entre as pessoas, causa individualismo e provoca uma estratégia perdedora. “O que dá uma boa produtividade está relacionado à visão de coletivo. Em vez de fazer com que as pessoas trabalhem juntas, estimula-se a competição, que vai à direção contrária, cujo único objetivo é o de conseguir mais dinheiro”, afirma.

“É tudo de bom para uma empresa dizer que o João assediou a Maria. Cuidado com essas armadilhas!” enfatizou a médica Margarida Barreto, doutora e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. “É necessário fazer um esforço para pensar que tipo de organização é essa, temos necessidade de entender isso”, afirma.

Segundo ela, um ambiente de trabalho onde as condições são cada vez mais precárias, mesmo não tendo baixos salários, mas pela sobrecarga do trabalho e por pressão intensa por produção, é um sinal de um ambiente favorável aos assediadores. “O cumprimento de metas criou uma reorganização do ambiente de trabalho nos últimos anos, que reestrutura e demite pessoas. Quem fica, internaliza essa lógica e passa a lutar pela manutenção do seu emprego, numa competição contra um inimigo”, disse a pesquisadora, que conclui: “O problema não está relacionado a uma suposta fragilidade do indivíduo. As estatísticas com índice de depressão sobem cada vez mais no país, depois da LER/DORT [Lesões por Esforços Repetitivos/ Doenças Osteoarticulares Relacionadas ao Trabalho], quando o corpo gritou, hoje é o assédio moral e a cabeça que gritam”.

Em seguida, quem tomou a palavra foi auditora fiscal Luciana Veloso Baruki, mestre em direito político e econômico do trabalho, que afirma ainda serem poucos os auditores especializados no assunto na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP). “O número de denúncias aumenta a cada dia, mas ainda são poucas as pessoas atuando na área, que geralmente são movidas por um interesse pessoal”, garante.

Luciana destaca casos de assédio como uma forma “estratégica” do modelo, quando a perseguição é conveniente, com o objetivo de desestruturar o trabalhador e fazer com que ele peça demissão, muitas vezes deixando-o de lado de suas atividades, colocando-o na “geladeira”. “Essa é a pior forma de humilhação. Já autuei casos de assédio moral em que pessoas estavam nessas circunstancias e, algumas vezes, o resultado é o pagamento de uma multa por danos morais, de valor irrisório, que não endossa o prejuízo e o trauma adquiridos”, afirma.

Já José Roberto Heloani, doutor em psicologia pela FGV-SP, denuncia: “A violência no trabalho é um reflexo de uma sociedade doentia que preza muito mais pelas mercadorias do que pelas pessoas e que educa crianças e adolescentes a pensar assim desde pequenos”. Para ele, é necessário mexer com a essência e a forma de organização no trabalho, e descartar o assédio como questão pessoal. “Trocar o assediador não vai resolver nada, isso não mexe com a forma de organização do trabalho. É o perigo que existe de colocar o assédio como uma questão pessoal e individual negando a essência do problema”.

“Combater o problema é difícil, ainda mais se pensarmos num empresariado avesso a lucros de longo prazo. Mas é um compromisso que devemos ter com o trabalhador, com a sociedade. Pensar num mundo de trabalho justo, pessoas vistas como pessoas e não como produto”, afirma Heloani.

Veja a galeria de fotos do 1º ciclo de debates sobre assédio moral e discriminação

Fonte: Sindpd

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