Central dos Sindicatos Brasileiros

Sindicato Têxtil de São José dos Campos luta para garantir os direitos de 90 empregados demitidos

Sindicato Têxtil de São José dos Campos luta para garantir os direitos de 90 empregados demitidos

Com o apoio da CSB, direção da entidade atua para ampliar benefícios aos trabalhadores dispensados pela Radicifibras

O grupo empresarial do ramo têxtil Radicifibras, empresa especializada na fabricação de fibras acrílicas e nylon, anunciou no dia 6 de janeiro o encerramento de uma das duas unidades de São José dos Campos. A medida provocou a demissão de 90 funcionários. De acordo com o presidente do Sindicato Têxtil de São José dos Campos, Alexandre de Oliveira, a empresa alegou que estaria com dificuldade de se manter no mercado, devido ao elevado preço da matéria-prima e à difícil concorrência com os produtos importados. A demanda pelo material fabricado vem caindo desde 2010, com quedas anuais nas vendas variando de 30% a 40%.

O sindicato vem trabalhando incansavelmente para amparar e defender todos os trabalhadores demitidos, atuando nas negociações que estão sendo feitas com os dirigentes da empresa, a fim de garantir que todos os direitos e verbas rescisórias sejam quitados.

“A empresa garantiu o pagamento integral das verbas rescisórias de todos os dispensados. Como o caso foi recente, ainda estamos em negociação, buscando ajustar questões específicas de trabalhadores com direito de estabilidade, além de prosseguir em busca de mais benefícios”, afirmou o presidente.

A outra unidade do grupo permanecerá aberta, e a intenção da empresa é manter a fábrica com condições de retomada. Na última reunião, o sindicato foi informado de que alguns trabalhadores serão remanejados para finalizar os trabalhos.  Por esse motivo, as demissões devem acontecer, gradualmente, até abril.

Orientações do sindicato

O presidente da entidade orienta os empregados dispensados a aguardar a comunicação sobre a data exata da homologação dos Termos de Rescisão de Contrato de Trabalho (TRCT), que deve ser realizada na própria sede do sindicato.

Aqueles que têm estabilidade provisória – dirigentes sindicais, cipeiros, pré-aposentadoria, beneficiários de auxílio-doença, auxílio-acidente e gestantes – também serão completamente ressarcidos, de acordo com a direção do sindicato.

Aos dirigentes sindicais aposentados, a empresa declarou que pretende pagar, integralmente, os 36 meses de estabilidade referentes ao mandato  sindical, devendo constar essa ressalva no TRCT.

Os demais trabalhadores com estabilidade devem procurar a diretoria do sindicato para saber sobre as propostas que estão sendo negociadas. Segundo Alexandre de Oliveira, o único acordo não fechado foi em relação aos cipeiros, ainda em processo de definição.

Para os que estão em estado de pré-aposentadoria, a empresa  precisa pagar mensalmente o salário e fazer o recolhimento dos encargos previdenciários até completar o período que falta para a concessão da aposentadoria.

Aqueles que não aceitarem as propostas de indenização, devem exigir que a empresa respeite o período de estabilidade provisória até o seu encerramento.

A luta do sindicato e da CSB

A CSB tem dado apoio integral para que o Sindicato Têxtil de São José dos Campos – filiado à Central – possa dar todo o suporte aos trabalhadores demitidos.  O secretário-geral da CSB, Álvaro Egea, lamentou o episódio e se solidarizou ao grupo de funcionários que foi prejudicado pelo corte.  “Manifestamos nossa solidariedade e apoiamos integralmente a ação do sindicato, no sentido de buscar a negociação coletiva e a garantia dos direitos dos trabalhadores”, afirmou Egea.

Além do cumprimento legal dos direitos trabalhistas em caso de rescisão, a direção do sindicato também batalhou pela manutenção do convênio médico por mais três meses para os funcionários dispensados.  “Eles se comprometeram a avaliar também casos específicos, como aqueles que estão com cirurgias marcadas, sendo possível estender por mais três meses”, afirmou Oliveira.

Outra medida foi procurar o apoio do governo municipal. O sindicato conseguiu a isenção do pagamento do IPTU dos trabalhadores demitidos, e está negociando o oferecimento de vagas para cursos profissionalizantes em entidades especializadas como o SENAC e SENAI.

Crise na indústria e no setor têxtil

O caso da empresa Radicifibras não é isolado. Em dezembro de 2013, a multinacional General Motors demitiu um grupo de 450 trabalhadores e anunciou o fechamento da linha de montagem de veículos de passageiros da unidade de São José dos Campos. Em março, ela já havia dispensado 598 trabalhadores.

De acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), a indústria brasileira apresentou em novembro de 2013 um recuo de 0,2% em relação a outubro do mesmo ano, confirmando o desempenho oscilante do setor. Em 2012, a consultora britânica EIU (Economist Intelligence Unit) considerou o desempenho da indústria nacional o pior entre 25 nações emergentes e importantes economias da América Latina.

Desde o governo Collor, tem havido no Brasil um processo de sucateamento e retrocesso na indústria, sobretudo no setor têxtil e de vestuário.  De acordo com Álvaro Egea, que também é presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Confecção e de Vestuário de Guarulhos, o governo se omite e não consegue frear esse processo por falta de política industrial.

“Essas demissões coletivas revelam uma face perversa dessa política cruel de desindustrialização e liquidação da nossa indústria, que os governantes vêm assistindo de camarote. Nosso setor é extremamente castigado pela política de abertura de importações”, explicou Egea.

Os prejuízos dessas demissões vão desde o núcleo familiar dos trabalhadores dispensados até a economia local, que também é afetada.

“São José dos Campos está perdendo muito com essas demissões. É um grande golpe essa quantidade de trabalhadores desempregados. O governo precisa dar mais atenção ao setor têxtil. Não só nossa cidade, mas em todo o Brasil”, reclamou Alexandre de Oliveira.