A mão de obra na construção ficou 11,79% mais cara nos 12 meses finalizados em fevereiro, o maior aumento para um período de 12 meses desde 2004, segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV). No período, o Índice Nacional de Custo da Construção – Mercado (INCC-M) avançou 7,93%.
O forte reajuste nos custos de trabalho no setor, explica a coordenadora de estudos de construção civil da FGV, Ana Castelo, resulta da grande demanda por profissionais. “A atividade no setor se desacelerou no ano passado, mas o mercado de trabalho continua aquecido.” Em 2011, lembra Ana, foram criadas 211 mil vagas na construção no Brasil. “Vai ser difícil fugirmos desse patamar de elevação em mão de obra”, avalia.
A constatação da especialista da FGV se baseia nas perspectivas para 2012, que incluem pressões derivadas do programa Minha Casa, Minha Vida e de obras de infraestrutura. “Com Copa e Olimpíada à vista, o setor de construção deve se manter aquecido”, afirma. “A única forma de escapar dessa pressão é aumentar a produtividade, o que não acontece da noite para o dia”, diz Ana.
No ano passado, 69% da alta de 7,58% no INCC-M foi decorrente de reajustes em mão de obra. Para Ana, há uma grande probabilidade de o item continuar respondendo pela maior parcela da inflação do setor. “Só não sabemos se a participação se manterá em torno de 70%”, ressalta a coordenadora da FGV.
As dúvidas resultam da grande incerteza quanto ao comportamento dos demais componentes do INCC. Novos aumentos nos preços do petróleo e de outras commodities minerais podem influenciar os preços de materiais e equipamentos. Neste ano, o petróleo tipo brent acumula alta de 14%, enquanto o cobre e o alumínio já subiram mais de 10%.
Ao mesmo tempo, a entrada de importados no mercado brasileiro ajudou a conter as pressões sobre os materiais de construção, que nos 12 meses encerrados em fevereiro subiram 4,01%. “Por enquanto, temos mais influências de baixa que de alta em materiais e equipamentos”, comenta Ana.
Já os serviços, que figuram como o grande vilão da inflação no Brasil, têm se mostrado comportados no setor de construção. Nos últimos três anos, os aumentos têm girado em torno de 5,5% ao ano, ficando abaixo da inflação geral do setor. “Mas esse é um elemento de grande incerteza. Não dá para prever como os serviços irão se comportar, porque vários itens influenciam os preços, como energia”, ressalta Ana.
Neste ano, as eleições devem contribuir para uma menor pressão sobre os serviços. Das sete capitais pesquisadas pela FGV, três não registraram reajuste em tarifas de transporte. “Nesta época no ano passado, todas as capitais já haviam elevado suas tarifas de transporte”, compara Ana.
Fonte: Valor Econômico