Secretário-geral da CSB, Alvaro Egea, participou de Ato Sindical organizado pela Comissão Nacional da Verdade e criticou criminalização sofrida por sindicalistas
O Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical da Comissão Nacional da Verdade (CNV) se reuniu na terça-feira, 1 de outubro, para relembrar e homenagear o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), principal organização sindical existente antes do golpe militar de 1964.
Com a participação dos representantes da CSB, Ismael Antônio de Souza, e o secretário-geral, Álvaro Egea, o Ato Sindical Unitário serviu de oportunidade para os sindicalistas discutirem a repressão ao movimento sindical que perdura até os dias de hoje e a impunidade presente na investigação de crimes cometidos durante ditadura.
O evento aconteceu na sede do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo e contou com a presença dos fundadores da antiga entidade: Clodismith Riani, do CGT em Minas Gerais, e Raphael Martinelli, ex-líder ferroviário. Os dois remanescentes do grupo relataram, em um vídeo exibido durante o ato, os conflitos e prisões ocorridas nos dias que antecederam o golpe.
O CGT enfrentou a implantação da ditadura ainda no governo João Goulart. Em 1964, o Comando realizou uma greve geral para lutar pela sua legitimidade e contra a perseguição sofrida por trabalhadores. No mesmo ano, o grupo foi desfeito e seus líderes foram barbaramente perseguidos, torturados e exilados.
Para Martinelli, o trabalho da CNV é importante em respeito aos amigos de militância que foram mortos. “Quantos companheiros nossos morreram na tortura? É por eles que estamos aqui exercendo nosso papel de patriotas”, afirmou Martinelli.
Repressão e Impunidade
A coordenadora da CNV e do Grupo de Trabalho, Rosa Cardoso, relembrou as lutas do CGT e a importância delas para consolidação da democracia, citando o direito à manifestação nos espaços públicos.
“Quando a gente revê e comemora as lutas do passado, nós estamos também refletindo sobre as lutas que estão hoje nas ruas e sobre o direito de manifestação. Os jovens de hoje podem olhar para essas lutas do passado e se identificar com elas”, explicou.
Em seu discurso, Rosa Cardoso também comentou que o comportamento autoritário promovido pelas empresas contra a classe trabalhadora ainda continua a existir. “É preciso desfazer isso. É por isso que esse grupo de trabalho quer conhecer claramente esse passado”, acrescentou a coordenadora.
O secretário-geral da CSB, Alvaro Egea, compôs a mesa dos representantes sindicais e criticou a cultura de repressão que o sindicalismo brasileiro sofre, como herança do regime militar.
“É preciso combater essa cultura da repressão. O movimento sindical continua sendo mal visto pela mídia e pelo judiciário. Observamos uma postura da Justiça do Trabalho de criminalizar o movimento, por meio do esfacelamento das contribuições do sindicato e decisões liminares que querem acabar com o direito de greve”, defendeu Egea.
O secretário-geral e os representantes sindicais concordaram sobre a necessidade de uma postura mais enérgica em punir militares e civis por envolvimento em prisões, torturas, desaparecimentos e mortes de trabalhadores. “Eu quero me somar àqueles que acham que nós precisamos não somente buscar a verdade, mas também a punição, porque senão a nossa história vai ficar incompleta”, reivindicou.
Países da América do Sul, como a Argentina, que passaram por ditaduras no mesmo período em que o Brasil, e condenaram os repressores da época, foram citados como exemplos de sucesso no respeito aos direitos humanos e à memória do país.
O próximo ato da CNV ocorrerá no próximo dia 7 de outubro, em Ipatinga – Minas Gerais, para relembrar os 50 anos do Massacre de Ipatinga, no qual oito trabalhadores foram metralhados por PMs na porta da Usiminas.