Central dos Sindicatos Brasileiros

Produtores da agricultura familiar realizam protesto contra cortes no Programa de Aquisição de Alimentos

Produtores da agricultura familiar realizam protesto contra cortes no Programa de Aquisição de Alimentos

Trabalhadores reivindicam liberação do benefício para garantir a sobrevivência dos agricultores familiares

Cerca de 150 agricultores familiares dos municípios do Mirante do Paranapanema, Sandovalina, Presidente Venceslau, Presidente Epitácio e Caiuá (SP) fizeram um protesto, no dia 1 de setembro, contra a suspensão do repasse de recursos da Companhia de Nacional de Abastecimento (Conab) ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A manifestação aconteceu na praça de pedágio do km 639 da Rodovia Raposo Tavares (SP-210), em Caiuá.

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O protesto foi coordenado pelo Movimento dos Agricultores Sem Terra (Mast), liderado pelo presidente da entidade e diretor de assuntos de cooperativismo e economia solidária da CSB, Lino de Macedo. O ato também contou com a participação de 14 associações de agricultores familiares da região do Pontal do Paranapanema.

O Programa de Aquisição de Alimentos faz parte do Programa Fome Zero e constitui-se em um mecanismo complementar ao Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). Foi criado em 2003 e, de forma integrada, fortalece a agricultura familiar ao mesmo tempo em que atua para garantir a segurança alimentar das famílias que vivem no campo. O PAA utiliza mecanismos de comercialização que favorecem a aquisição direta de produtos de agricultores familiares ou de suas organizações, estimulando os processos de agregação de valor à produção.  O programa já beneficiou 3.915 municípios.

20150903130825 (1)Os agricultores familiares beneficiados pelo programa recebem cerca de R$ 8 mil reais por ano pela produção de hortifrutigranjeiros. Este ano, o governo cortou em 30% a verba destinada ao PAA. A Conab recebeu apenas 45 milhões para o Programa de Aquisição de Alimentos em 2015, enquanto a verba de 2014 foi de 150 milhões.

Com o corte na verba, quatro associações de agricultores familiares da cidade de Caiuá e duas no município de Presidente Venceslau não receberam o repasse pelo fornecimento de produtos da agricultura familiar para a Conab. “Estamos muito preocupados com o corte de verba para o programa, uma vez que os agricultores inscritos no PAA não têm outra fonte de renda imediata. Além disso, o corte ocorreu sem previa comunicação. Aos agricultores familiares só resta uma alternativa: mobilizar e lutar. A agricultura familiar gera mais de 80% da ocupação no setor rural e responde no Brasil por sete de cada 10 empregos no campo e por cerca de 40% da produção agrícola. Não podemos permitir que este setor tão importante para a economia fique esquecido e seja enfraquecido”, disse Lino de Macedo.

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Lucilei dos Santos Guillem, presidente da Associação dos Produtores Rurais do Assentamento Nossa Senhora das Graças em Caiuá, explica que sem a verba a cidade perderá muitos moradores, que terão que ir para a cidade grande em busca de oportunidades de emprego. “Esse benefício é fundamental para o desenvolvimento da agricultura familiar e para o sustento de centenas de famílias. Queremos apenas que o governo federal volte a fornecer o benefício desse programa, que auxilia vários produtores da agricultura familiar, não só na nossa região como também em todo o Estado de São Paulo. Se isso não acontecer, continuaremos a realizar novos protestos até que algo seja resolvido a esse respeito”, avisou.

Segundo Cleide Azevedo, agricultora de Caiuá, para os pequenos agricultores esse corte muda tudo. “O PAA é um programa de extrema importância para nós. Cerca de 80% dos agricultores que produzem na agricultura familiar utilizavam esse dinheiro para as despesas mensais e para compra de remédios. Ao todo 200 famílias estão sendo atingidas diretamente só em Caiuá. Caso o programa não volte, a cidade se tornará uma cidade fantasma”, argumentou.

A CSB entrou em contato com a Conab, que disse nada poder fazer, pois apenas distribui a verba que é repassada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A Conab compra os alimentos produzidos pelos agricultores familiares, entregando-os para escolas, creches, entidades sem fins lucrativos e distribui o excedente para a população urbana e rural.

O secretário-geral da CSB, Alvaro Egea, afirmou que a Central solicitou uma reunião em caráter de urgência com representantes do Ministério para que o problema possa ser solucionado o mais rápido possível. “Muitos trabalhadores estão em situação de fome. Temos que reestabelecer esse benefício o mais rápido possível.  Os agricultores vão fazer o que com os alimentos que já foram cultivados? O governo está cortando dos mais pobres, e isso é um absurdo. Nós, da CSB, apoiamos a manifestação das famílias e estamos requerendo uma audiência em caráter de urgência com o secretário de segurança alimentar do ministério”, destacou Egea.