Pesquisador alerta sobre aumento de distúrbios mentais em TI

Roberto Heloani ministrou a palestra Metas enlouquecem trabalhador no Seminário de Pauta

A última palestra do primeiro dia do Seminário de Pauta da Campanha Salarial 2015 ficou a encargo do Dr. José Roberto Heloani, psicólogo que atua há 16 anos nas áreas de assédio moral, sexual e de saúde no e do trabalho.

A palestra do professor Heloani iniciou com um vídeo que relatava até que ponto pode chegar um trabalhador, colocando a própria vida em risco como forma de protesto. “Muitos fenômenos como esse estão acontecendo ao redor do mundo. Por quê? As leis são feitas para proteger as pessoas e não devem ser contra elas. Mas não é isso o que acontece verdadeiramente”, lamentou.

O palestrante explicou que hoje o trabalhador não tem muita proteção. Ele ressaltou a importância da atuação do Sindicato. “O limite entre a empresa e o lar mudou completamente. Antes você acabava seu expediente e ia para casa. Hoje você termina o horário de trabalho e, bastando ter seu desktop e celular em mãos, uma enxurrada de e-mails começa a cobrar mais trabalho e fica difícil de desvincular-se do trabalho”, disse, ressaltando os perigos do home office, que acarreta em horas computadas não remuneradas, maiores escalas de trabalho, estresse, depressão e outras patologias. Os problemas são levados para casa. Isso confirma que um sistema baseado em resultados faz com que o assédio moral acabe se tornando um ciclo vicioso nas corporações.

Mesmo ciente dos problemas, o mundo corporativo tem, cada vez mais, exigido metas inatingíveis dos profissionais, comprometendo o bem-estar das pessoas. “Na área de TI, uma das maiores causas do afastamento da profissão são problemas relacionados aos transtornos mentais. A insegurança é grande, e a pergunta que nos fazemos é até quando teremos capacidade de trabalhar com a mesma força”, falou. “E é muito difícil aguentar isso, pois não existe espaço para o fracasso. O foco é o resultado, não interessando o que fez, desde que cumpra. É uma lógica perversa”, completou.

Limites

Hoje é possível que a empresa entre na sua casa e, se não colocar limites, ela interfere na vida familiar e pessoal. O setor de TI tem terceirização e quarteirização (pejotização) como formas de contratação de trabalho. “E esse profissional não tem direito a nada porque é uma pessoa jurídica. Você vai reivindicar o quê? Nada, porque tem que se submeter a tudo”, alertou Heloani. É o fantasma do desemprego que faz com que muitos trabalhadores tenham que lidar com a pressão e o assédio afirma o especialista.

O palestrante disse que sua maior preocupação é com o fim do comportamento coletivo no trabalho, com pessoas que competem entre si, dividindo o mesmo espaço. Para ele, essa é uma das motivações para o aumento do índice de suicídios. É o chamado assédio horizontal, que é praticado entre os próprios colegas de trabalho. “É um assédio sutil e, quanto mais cresce o grau de instrução, mais esses assédios se intensificam”, explicou.

Para o presidente do Sindpd, Antonio Neto, a exigência crescente de produtividade e metas devem ter uma atenção especial tanto da parte dos trabalhadores quanto dos diretores e das próprias empresas. “Em agosto nós publicamos uma matéria no site do Sindicato com o tema ?Metas enlouquecem trabalhador?, porque consideramos que é uma questão que nós devamos pensar para que, nas discussões entre empresas e trabalhadores, saibamos como lidar”, afirmou.

 Intolerância com as agressões

O assédio moral existe em todos os lugares e deve ser punido com todo o rigor que merece, pois é um tipo de flagelo, segundo o professor Heloani. “Ele é feito de forma intencional e pode ser indireto, como quando a pessoa manda e-mail para todo mundo, menos para alguém especificamente; se “esquece” de chamar para a reunião; ignora em eventos sociais, etc.”, exemplificou. “Você deve ser intolerante com certas intolerâncias. No Brasil, confunde-se informalidade com falta de educação e cortesia. No mundo das empresas, as pessoas não conhecem a história do outro e podem fazer uma brincadeira que pode machucar muito”, alertou.

O suicídio diz muito sobre um grupo, porque é sinal de que não foi acolhido. “Quando todos só pensam no cumprimento da meta, o outro é coisa, não gente. Pois não dá tempo para pensar ou sentir, muito menos se colocar no lugar do outro”, complementou. A avaliação extenuante pode ser considerada imoral e pode ser um tipo de patologia social. “O assédio não é um crime individual; é um problema que decorre na própria forma de gerenciar o trabalho”, disse o psicólogo.

Consequências

Sobre as consequências de tantos abusos, Heloani ressaltou as doenças físicas e psicológicas com agravante do suicídio, transtorno mental, síndrome do pânico, depressão, entre outras. Quando visitou o INSS, o professor relatou que muitos profissionais de até 40 anos estão com depressão e quadros de transtornos mentais.

Quando questionado sobre como o Sindicato deve agir no momento de atendimento de um trabalhador que está sofrendo assédio moral, Heloani recomendou que fosse realizado pelo próprio Sindicato, mesmo que a empresa se negue, um comunicado ao CAT (Comunicação de Acidentes de Trabalho).

O Sindpd tem enfrentado diariamente casos de assédio no ambiente de trabalho. E, como relatado por participantes, trabalhadores tem problemas com o INSS no reconhecimento das patologias do trabalho e, para que isso aconteça com mais facilidade, o palestrante fez algumas ressalvas. “Hoje em dia já se admite que se faça um dossiê na própria agenda com testemunhas, datas, e-mails, com a maior quantidade de detalhes. Até o ano passado não se admitia gravação. Em função e em decorrência da dificuldade de comprovar as várias formas de assédio, a Justiça já aceita esse tipo de prova”, sugeriu o palestrante. “E isso é uma ótima defesa. Você pode usar de todo e qualquer meio”, informou.

Para o professor, a atuação do Sindicato é essencial para evitar que esses casos não continuem crescendo. “É uma atuação mais assídua que resguarda o trabalhador. Por isso, comecem a fortalecer ainda mais a instituição na qual vocês atuam”, finalizou.

Fonte: Sindpd

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