Flávio Werneck, vice-presidente da CSB, criticou a inércia do Ministério da Justiça, da Secretaria de Direitos Humanos do Departamento da Polícia Federal e do próprio DPF
Parlamentares e representantes sindicais da Polícia Federal (PF) cobraram nesta quarta-feira (10) ação do governo para conter a escalada de suicídios dentro da corporação. Conforme estatísticas dos sindicatos, o Brasil registra o suicídio de dois policiais a cada três meses. Esses números podem ser ainda mais graves, caso se incluam as mortes por causas desconhecidas e as tentativas de suicídio.
Eles participaram de reunião solicitada pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) para discutir, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, as condições de trabalho dos servidores da Polícia Federal (PF).
Para o presidente do sindicato dos policiais federais do Distrito Federal, Flávio Werneck Menegueli, e vice-presidente da CSB, “inércia é a palavra de ordem”, não apenas do Ministério da Justiça e da Secretaria de Direitos Humanos do Departamento da Polícia Federal (DPF), mas do DPF.
Paulo Pimenta informou que a diretoria da Polícia Federal se negou a participar da reunião sob o argumento de que o tema não deveria ser tratado em audiência pública, e sim em reunião corporativa. Essa explicação revela a “prepotência e descaso com a categoria” por parte dos dirigentes, disse o deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP).
Conforme suas estimativas, o cenário é fértil para o sentimento de raiva nutrido por 46% dos servidores perante a instituição. “Todo ambiente democrático é importante, qualquer debate é melhor do que o hoje silêncio imposto”.
A ausência de diálogo é resultado da forte hierarquia institucional, acredita o presidente do sindicato dos policiais federais do Rio Grande do Sul, Ubiratan Antunes Sanderson. “A chefia evita discutir a situação em público para não incentivar o suicídio”, disse. Nesse ponto, teve apoio do deputado Subtenente Gonzaga (PDT-MG): “A gestão da Polícia Federal tem sido o maior fator de problemas psiquiátricos, e não o trabalho operacional do agente”.
Problemas psíquicos
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Jones Borges Leal, por sua vez, cobrou as ações de assistência à saúde dos servidores anunciadas pelo Ministério da Justiça em 2010, que ainda não saíram do papel.
Segundo informou, mais de 30% dos policiais federais confirmam estar em tratamento psiquiátrico ou psicológico, sem contrapartida de atendimento médico. O Departamento da Polícia Federal (DPF) conta com apenas 14 psicólogos e 13 psiquiatras para atender todos os servidores, relatou.
De acordo Borges Leal, pesquisa feita com 2 mil profissionais constatou que 87% estão insatisfeitos com o trabalho, 97% reclamam da falta de oportunidade de crescimento na carreira e 76% notam ausência de liderança da chefia.
A insatisfação é acentuada entre agentes, escrivães e papiloscopistas e administrativos. “Nos últimos três anos, tivemos 20 suicídios, nós perdemos mais colegas para o suicídio que para o crime organizado”, comparou.
Assédio moral
Segundo ele, o assédio moral (exposição de trabalhadores a situações humilhantes), é a maior causa do suicídio entre os policiais, associada à insalubridade e às longas jornadas de trabalho. “Existem colegas que trabalham com interceptação telefônica que trabalham mais de 16 horas por dia, sem sábado e domingo”, contou.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Paulo Pimenta, cobrou a regulamentação da lei que cria o adicional de fronteira (Lei 12.855/13).
A lei prevê indenização de R$ 91 por jornada de oito horas trabalhadas por servidores públicos federais em postos de fronteira. O adicional destina-se a cargos responsáveis pela prevenção, controle, fiscalização e repressão dos delitos transfronteiriços. Para ser aplicada, a lei depende de um decreto presidencial que estabeleça em quais localidades estratégicas os servidores receberão o adicional.
Fonte: Agência Câmara
Reportagem – Emanuelle Brasil
Edição – Regina Céli Assumpção