Mercado já vê Selic de 8,5% este ano

A aceleração do ciclo de alívio monetário pelo Comitê de Política Monetária (Copom) levou tesourarias e economistas a projetarem a taxa básica Selic ao redor de 8,5% em dezembro deste ano. Taxa que, se confirmada, será a mínima histórica – a atual marca é de 8,75%, atingida em julho de 2009. Quando se olha o juro real, entretanto, o recorde já foi alcançado: ontem estava em 3,23%. Nos nove meses em que a Selic permaneceu em seu piso de 8,75% em 2009, o juro real era bem maior, ao redor de 5,5%.

A medida mais usual de juro real considera os contratos de swap prefixados de 360 dias, que tinham taxa de 8,71% ontem, e a projeção do IPCA para 12 meses à frente, atualmente em 5,30%.

Pelas novas expectativas do mercado, o atual ciclo de afrouxamento monetário iniciado em agosto chegará a 4 pontos percentuais. Esse resultado é emblemático. Sugere que o BC vê o momento com tanta preocupação quanto na crise de 2008/2009, quando a Selic deslizou 5 pontos. Incentivaram o BC a acelerar o corte o enfraquecimento da economia internacional, a perspectiva de frágil expansão do PIB no primeiro trimestre e inflação mais branda no curto prazo.

No mercado, a previsão de uma queda mais forte da taxa Selic já aparece nos preços. Os contratos de juros futuros encerraram o pregão de ontem indicando a aposta em mais um corte de 0,75 ponto em abril e mais uma redução, de 0,50 ponto, em maio. Com isso, a taxa básica cairia a 8,50% ao ano.

A consequência desse movimento é o recrudescimento da inflação no ano que vem. Percepção que alimenta ainda mais a ideia de que o BC não está focado no centro da meta, de 4,5%. O BC pode estar buscando essa marca em prazo mais longo, mas desconhecido pelo mercado. Ou ainda privilegiando outras metas: crescimento econômico e desvalorização cambial.

“A comunicação oficial do BC, escrita e falada, já sinalizava juro menor. Estava claro que o Copom pisaria no acelerador. Mas havia dúvida sobre um corte maior agora ou um período mais prolongado de baixa. Começou a ficar evidente que o BC foca a inflação de curto prazo, que tem vindo mais baixa, o enfraquecimento da atividade econômica internacional e o desempenho frágil da economia brasileira”, afirma o economista Carlos Eduardo Gonçalves, professor da FEA/USP, que não considera a taxa de expansão do PIB de 2,7% em 2011 o fator determinante para a aceleração do corte do juro. “Dados do início de ano apontam para avanço do PIB de 0,5% no primeiro trimestre, e isso é pouco.”

O economista lembra que o próprio modelo estatístico do BC aponta para inflação perto de 5,5% em 2013. Ele considera que o BC pode até perseguir a meta central de 4,5%, mas em prazo mais longo. E entende que é impossível conciliar política monetária mais flexível com meta de inflação rigorosa.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, considera que a aceleração do corte da Selic vai estimular mais a atividade e colocar o crescimento em 2013 mais forte, na casa dos 5%. “Espero que o governo não esteja preocupado com câmbio. Já basta se preocupar com o crescimento em primeiro lugar e a inflação em segundo”, pondera o economista, que alerta para a dificuldade de se prever os passos do BC que, diz ele, “escreve uma coisa no Relatório de Inflação, outra na ata e decide outra na reunião seguinte”. “Nesse clima de vale tudo, em que o que é escrito não parece valer muito, vou chutar que o BC pode manter a queda de 0,75 ponto sob algumas justificativas. Como ele cada vez mais ignora o longo prazo e olha apenas o que acontece no curto prazo, isso se justificaria porque inflação e atividade neste momento estão fracos.”

O ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman acredita que, depois de acelerar o ritmo de corte, será difícil para o Copom interromper o ciclo de alívio monetário antes que a Selic caia para 8,75% ou 8,5%. A mudança de passo, acredita, perseguiu três novos objetivos do BC: alcançar uma taxa de juros de um dígito (meta já atingida); estimular o crescimento econômico e contribuir para a desvalorização do câmbio. “Ou seja, a meta de inflação perdeu lugar nesse cenário”, afirma. “Não restam dúvidas de que a inflação de 4,5% não é mais o objetivo do BC.” Para ele, a reação natural do mercado agora é a elevação das expectativas de inflação. “Essa situação lembra 2007, quando o BC acelerou o corte de juros e acabou provocando a disparada da inflação no ano seguinte”, diz.

Já o economista-chefe do J. Safra, Carlos Kawall, também vê a Selic caindo para perto de 8,5% este ano. Antes, sua previsão era de que os juros recuassem para 9,5%. Mas Kawall considera que o ambiente de desaceleração da atividade, confirmado nos dados da produção industrial divulgados esta semana, explica essa decisão. “Há elementos que explicavam o crescimento no governo Lula que não estão mais presentes agora”, afirma, citando a política fiscal menos expansionista e a perda de vigor do crédito, afetado pelas medidas macroprudenciais. “Essas medidas ainda pesam sobre a economia. Assim, estou num ponto menos otimista em relação à atividade.”

Entre os bancos que revisaram suas estimativas para o rumo da política monetária também estão o Bank of America Merrill Lynch e o Banco Prosper, que esperam novo corte de 0,75 e mais um de 0,50. Como lembra o economista da Prosper Correta, Eduardo Velho, a tradição na gestão da política monetária é que os movimentos mais acentuados da taxa sejam adotados no início do ciclo, e não nas proximidades do seu término.

Fonte: Valor Economico

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