Agricultores sem terra fizeram uma manifestação na Câmara Municipal de Presidente Venceslau (SP) na noite desta segunda-feira (27) em repúdio a uma fala do vereador Bruno Dassie (PV) na semana passada.
Em discurso sobre regularização fundiária durante uma sessão, o vereador disse que os assentados produzem muito pouco nas terras que “ganham” e as vendem por valores muito baixo quando têm oportunidade.
“Claro que tem gente produzindo, mas a maioria [dos assentados] está com terras paradas. Em alguns casos, não dá uma semana e a gente vê alguns trocando as terras por carro, por ‘galinha’… Produzir que é bom, é quase nada”, falou.
A declaração gerou indignação dentre os assentados da região que, liderados pelo presidente do MAST (Movimento dos Agricultores Sem Terra), Lino de Macedo, foram à Câmara mostrar pessoalmente que a afirmação do vereador era uma inverdade.
Cerca de 70 agricultores levaram alimentos que eles próprios produziram nas terras que ocupam, que foram até mesmo levados para casa por alguns vereadores.
Lino de Macedo, que é membro da executiva nacional da CSB e do Consea (Conselho de Segurança Alimentar, recriado por Lula no mês passado), disse que o objetivo da manifestação era “mostrar à sociedade e ao vereador que somos uma comunidade organizada, que estamos produzindo para acabar com a fome”.
Lino de Macedo no Palácio do Planalto, tomando posse no Consea
O sindicalista pontuou que falas como a de Dassie podem prejudicar anos de luta e tornar o processo de assentamento mais burocrático. Segundo ele informou, o Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) já iniciou o mapeamento dos lotes para os assentados na região.
“Por pior que seja o assentamento, ele dá dignidade às famílias com empregos, moradia, educação, saúde e produção de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos”, ressaltou Lino.
Fala de vereador foi uma “metáfora”
Em entrevista ao jornal Diário de Prudente, o vereador Bruno afirmou que seu pronunciamento na tribuna foi distorcido.
“Meu pronunciamento na Câmara dos Vereadores, por questões políticas, foi distorcido por blogueiros. Jamais ataquei quem produz, falei que está havendo troca de lotes numa metáfora”, alegou.
Ele explicou que quis dizer que “a regularização fundiária irá trazer a segurança jurídica que tanto precisamos e, como consequência, teremos o progresso com o Pontal livre das invasões”.
A manifestação dos agricultores sem terra lotou o auditório da Câmara, onde cabem apenas cerca de 70 pessoas, e muitos ficaram de fora. Eles permaneceram no local das 19h às 23h e expuseram alimentos produzidos por eles, como feijão, abóbora e mandioca.
Lino pediu direito de resposta antes do início da sessão, o que foi negado, e ele não pôde falar na tribuna. No entanto, o líder do MAST entendeu que o vereador se retratou com os assentados e o conflito foi resolvido.
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