Nas instituições privadas de ensino superior, foram observados avanços quantitativos na participação das pessoas com os menores rendimentos
O acesso das pessoas mais pobres à universidade cresceu nos últimos anos, reduzindo quantitativamente a desigualdade no ensino superior do país. A conclusão está na Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2014, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A participação dos 20% mais pobres no ensino superior público subiu de 1,7% para 7,2%, entre 2004 e 2013, enquanto a proporção dos 20% mais ricos recuou de 55% para 38,8%.
Nas instituições privadas de ensino superior, foram observados avanços quantitativos na participação das pessoas com os menores rendimentos. Entre 2004 e 2013, a participação dos 20% mais pobres no ensino superior privado subiu de 1,3% para 3,7%, enquanto a dos mais ricos recuou de 68,9% para 43%.
“O número frio indica avanço, mas esse avanço precisa ser acompanhado de qualidade. Mas não se avalia qualidade do ensino na pesquisa, nem há acompanhamento para verificar o impacto que essas mudanças estão tendo na vida dessas pessoas”, afirma ela.
Apesar dos avanços relacionados ao ensino superior, os indicadores brasileiros são os mais baixos se comparados aos dos países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Os números do Brasil ficam muito abaixo até mesmo de países emergentes como Turquia (21%) e México (24,1%).
Na avaliação do pesquisador do IBGE André Simões, o maior acesso dos 20% mais pobres ao ensino superior é resultado de políticas públicas voltadas, como o sistema de cotas.
Embora o acesso dos mais pobres às universidades tenha aumentado, o IBGE calculou cerca de dez milhões de jovens brasileiros, com idade entre 15 e 29 anos, que não estudam nem trabalham, os chamados “nem-nem”. O contingente é quase equivalente à população de Portugal e três vezes superior ao número de habitantes do Uruguai. Segundo cálculos do instituto, existem 49 milhões de brasileiros nessa faixa etária, e um a cada cinco está no grupo “nem-nem”. O IBGE pondera que, desse contingente, 26,3% estão em busca de emprego.
Entre as grandes regiões, o Sudeste tem o maior índice de jovens “nem-nem”, com 37,9%. A participação feminina chega a 69%. Dos jovens que não estudam, nem trabalham, 63% são pretos ou pardos, ao passo que 48% têm ao menos um filho. “Os nem-nem no Brasil têm uma cara. A maioria é formada de mulheres, com nível de escolaridade mais baixo e já são mães”, diz Cintia Simões, do IBGE.
O instituto também verificou aumento na proporção de pessoas de 25 a 34 anos que ainda vivem na casa dos pais, chamados por especialistas de “geração canguru”. Entre 2004 e 2013, a proporção dos indivíduos deste segmento morando com os pais subiu de 21,2% para 24,6%.
Já no mercado de trabalho, o desemprego caiu de 8,7% para 6,4% entre 2004 e 2013. As pessoas com os 10% menores rendimentos concentravam apenas 1,2% da renda total no ano passado. Numa sociedade perfeitamente igualitária, cada décimo (10% das pessoas com rendimentos) teria 10% da soma desses rendimentos. Por outro lado, o IBGE computou que os 10% mais ricos da população concentraram durante todo o período analisado mais de 40% da totalidade da renda per capita.
Na avaliação do economista Sérgio Besserman, os dados que indicam melhoria no mercado de trabalho, como a taxa de desocupação, precisam ser relativizados. Ele diz que os resultados são fruto de programas de transferência de renda, dinâmica demográfica e o fato de os brasileiros estarem mais tempo na escola.
“O mistério que rondava o mercado de trabalho e de que tanto se falava acabou. Não houve avanço significativo no mercado de trabalho. Avanços como na taxa de desocupação são pontuais e não são resultado de uma dinâmica sustentável. Os indicadores do mercado de trabalho tendem a piorar. De 2004 para cá, o país não foi capaz de sustentar o mercado de trabalho. Falta aumentar renda e formalizar muita gente”, diz ele.
Fonte: Valor Econômico