A decisão que mira a valorização do real, no entanto, acabou espirrando no mercado de juros futuros, onde as taxas caíram, mostrando aumento na probabilidade de um corte superior a meio ponto percentual na Selic já na reunião do Copom da próxima semana.
Segundo essa visão, o incômodo do governo com o câmbio poderia acelerar a estratégia de corte da Selic para reduzir o diferencial entre juros interno e externo e reduzir a atratividade de capital especulativo. Na visão de um gestor, isso tudo não passaria de “papo” de mesa de operação.
Paralelamente, mexeu com o mercado a movimentação de um grande banco que fez uma acentuada compra de contratos futuros, o que derrubou as taxas. Muita gente enxergou no movimento uma aposta num corte mais acentuado do juro na próxima semana. Mas há quem tenha visto, na verdade, uma compra para zeragem de posição vendida fundamentada na crença de um corte de apenas 0,5 ponto. “Um grande player faz negócio e depois todo mundo sai correndo atrás de explicação”, diz esse gestor.
Não se pode descartar que, como o viés é de baixa na taxa de juros, nada mais natural do que apostar nisso. Por isso mesmo, não custa nada montar algumas posições que ganham com uma queda mais acentuada da Selic.
Esse tipo de movimentação é comum quando a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) se aproxima. A decisão do colegiado será divulgada no dia 7 de março. O diretor-executivo e chefe de pesquisas para a América Latina do Nomura Securities, Tony Volpon, acredita que um aumento no passo de redução da Selic é um evento de probabilidade não desprezível.
Faz tempo que Volpon defende que o governo trabalha com três metas (inflação, crescimento e câmbio) e atua conforme cada uma delas é “ameaçada”. No momento atual, o especialista acredita que a “meta de câmbio” se tornou prioridade, conforme o real ameaça perder a linha de R$ 1,70.
Se tal premissa está correta, duas observações podem ser feitas. Primeira, novas medidas cambiais podem ser tomadas. Segunda, a meta de conter a valorização excessiva do real vai na mesma direção da redução da Selic para estimular o crescimento econômico.
“Isso, na nossa visão, eleva a probabilidade de uma aceleração no ritmo de cortes da Selic”, diz Volpon, ponderando que mantém sua visão de redução de meio ponto percentual no próximo encontro do Copom.
No mercado de câmbio, nem IOF sobre captações, nem leilões de compra do BC (foram dois ontem) surtiram efeito. O dólar comercial fechou o dia com baixa 0,47%, negociado a R$ 1,712 na venda. Como se vê pelo comportamento da moeda, a medida não teve impacto imediato.
O mercado pareceu estar no modo “compra no boato e vende no fato”, já que na quarta-feira o dólar teve forte alta em meio à crescente expectativa de que o governo faria algo no câmbio (instabilidade externa e compras do BC também ajudaram).
Em relatório enviado a clientes, os analistas do Credit Suisse apontam que essa ampliação do prazo de isenção de IOF para três anos deve ter impacto limitado sobre as captações externas, pois a maioria das operações realizadas recentemente tem um prazo muito superior a três anos. O prazo médio pelas contas da instituição é de 9,7 anos.
Ainda de acordo com o Credit Suisse, as emissões privadas em janeiro e fevereiro somaram cerca de US$ 18 bilhões. Mas, contrastando com isso, os ingressos efetivos referentes a essas operações somaram apenas US$ 300 milhões em janeiro, sugerindo que as empresas mantêm grande parte do dinheiro captado fora do Brasil. Tal quadro pode gerar a expectativa de um aumento de fluxo referente a essas operações.
Para o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, o “fator expectativa” seria o vetor mais relevante no atual movimento de valorização do real, já que o fluxo cambial, não mostra essa “chuva de dólares” de que tanto se fala.
Fonte: Valor Econômico