Othon Luiz Pinheiro da Silva, almirante da reserva da Marinha do Brasil, é uma figura central na história do programa nuclear nacional. Um dos idealizadores do submarino nuclear brasileiro, o almirante Othon tem uma carreira marcada pela dedicação à ciência e à tecnologia e foi responsável por avanços significativos da área no país.
A prisão injusta da qual foi vítima em 2015 por um dos braços da Operação Lava Jato não foi capaz de apagar o legado do almirante Othon, que no próximo dia 12 de dezembro receberá a Medalha Henrique Morize, a mais alta comenda da Academia Brasileira de Ciências.
Início da carreira
Nos anos 1960, Othon foi promovido a segundo-tenente do Corpo da Armada e, pouco depois, ingressou no Corpo de Engenheiros da Marinha. Em 1964, matriculou-se na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), onde vivenciou um ambiente acadêmico diferente da rigidez da Escola Naval. Essa convivência o ajudou a desenvolver habilidades de diálogo e cooperação com civis, o que seria crucial para sua atuação futura.
Durante esse período, ele trabalhou para estabelecer uma unidade da Marinha dentro da USP, iniciativa inédita no Brasil. Essa unidade, conhecida como COPESP (Coordenadoria para Projetos Especiais), integrou a maior universidade do país com um projeto militar. Mais tarde, essa unidade foi rebaixada ao Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo, mas permanece como um marco da colaboração entre militares e acadêmicos no Brasil.
Papel na pesquisa nuclear brasileira
Desde os anos 1980, Othon esteve envolvido em esforços para desenvolver a autonomia brasileira no setor nuclear. Esses esforços começaram ainda sob a liderança do Almirante Álvaro Alberto, que iniciou os estudos para o programa nuclear nos anos 1950, e ganharam impulso sob os governos de Juscelino Kubitschek.
Nos anos 2000, o Almirante Othon desempenhou um papel importante no acordo Brasil-França para a construção de um submarino nuclear em um projeto que incluía a transferência de tecnologia entre os países.
O projeto, porém, despertou a desconfiança internacional de que o Brasil, depois de determinado tempo usando o urânio, pudesse transformá-lo em plutônio – que é residual do urânio – fora do controle da Agência Internacional de Energia Atômica de Viena. Se havia alguém no país que poderia dominar esse processo, esse alguém era justamente o almirante Othon.
Até então, apenas os países do chamado Clube de Londres (Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia) eram os únicos proprietários de artefatos e submarinos nucleares. A França passou a sofrer pressão por parte dos Estados Unidos contra o projeto, até que em novembro de 2008 o país retirou a transferência de tecnologia do Centro Radiológico, um mês antes da assinatura do contrato final, em 21 de dezembro daquele ano.
Neste processo, a França enviou uma equipe que vasculhou os computadores da Marinha no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, e nas instalações de Aramar, em Sorocaba, deletando tudo o que havia sido encaminhado para a Odebrecht fazer seu preço para a construção do Centro Radiológico.
Prisão e injustiça
Quando o acordo para a construção do submarino nuclear foi fechado, o Brasil insistiu que a empresa de engenharia responsável por construir o estaleiro fosse nacional, enquanto a França propunha uma companhia francesa. O Brasil não aceitou e escolheu a Odebrecht para assumir o projeto.
Othon entra na história ao ser contratado pela empreiteira para atuar na construção do Centro de Manutenção Especializada, vinculado ao submarino nuclear. Quando a empreiteira passa a ser investigada por pagamentos feitos por meio da Strategic, uma empresa sediada no exterior, o nome do almirante entra no radar dos investigadores.
Até que em 2015 Othon foi mais uma vítima das arbitrariedades da Operação Lava Jato. Ex-presidente da Eletronuclear, ele foi arrolado no processo conhecido como “Operação Radioatividade”, uma das ramificações da Lava Jato.
Na ocasião, o delegado Wallace Fernando Noble Santos invadiu o apartamento do almirante, algemou-o e o levou preso. Mais tarde, o delegado foi demitido por corrupção, após investigações apontarem seu envolvimento em esquemas de propina para interferir em inquéritos.
O julgamento de Othon foi conduzido pelo juiz Marcelo Bretas, que o condenou a 43 anos de prisão. Bretas, posteriormente afastado do cargo, enfrentou acusações de parcialidade e de favorecer interesses de terceiros.
Dos 43 anos de prisão, o almirante cumpriu 601 dias. Em março de 2022, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região reduziu a pena para 4 anos, 10 meses e 10 dias de prisão, que foi substituída por duas medidas restritivas de direitos.
Em sua defesa, Marcelo Odebrecht, então presidente da companhia que leva seu sobrenome, declarou que os pagamentos a Othon não provinham de desvios de dinheiro público, mas de fundos próprios no exterior.
Othon sempre alegou ser vítima de pressões internacionais relacionadas à sua atuação no programa nuclear e pediu o arquivamento do processo. Hoje ele aguarda uma decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal sobre seu caso.
Leia: História: sob ataque, 13º salário foi conquista dos trabalhadores após greve geral em 1962
Com informações de Brasil 247 e jornal GGN
Foto: reprodução Portal Naval