Entidades lutam por reparação de multinacionais às vítimas da ditadura

Evento aconteceu no Arquivo Histórico do Município de São Paulo e reuniu movimentos sociais e sindicatos

O Fórum de Trabalhadores por Verdade, Justiça e Reparação de São Paulo, do qual a CSB é integrante, em parceria com a Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo, promoveu, no dia 11 de junho, um ato público pelas vítimas da ditadura. O evento aconteceu no Arquivo Histórico do Município de São Paulo e contou com o apoio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.

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O ato teve como objetivo discutir quais os caminhos possíveis a serem percorridos para a busca por justiça e reparação, responsabilizando empresas e empresários que colaboraram com a ditadura perseguindo trabalhadores, delatando, elaborando listas sujas e demitindo. O encontro reuniu movimentos sociais, sindicatos, centrais sindicais e comissões de memória e verdade de todo o País.

Para Alvaro Egea, secretário-geral da CSB, esse ato é muito importante porque passados seis meses da entrega do relatório pela Comissão Nacional da Verdade com as recomendações, nada foi feito.  “O documento ficou nas mãos da presidente Dilma Rousseff, e com a crise econômica e política que se instaurou, os assuntos relacionados à CNV ficaram esquecidos. Nossa tarefa aqui não é de homenagens. É de fazer cumprir as recomendações das comissões, especificamente sobre os crimes contra os trabalhadores e suas famílias. Estamos aqui para mobilizar a sociedade e criar uma pressão no governo para que seja criada uma secretaria permanente nacional de reparação e justiça. Os empresários que financiaram a ditadura precisam ser responsabilizados. Buscamos uma reparação coletiva e também a preservação das memórias dos trabalhadores, para que a ditadura não se repita”, afirmou.

Duro golpe

A reparação e responsabilização das empresas que contribuíram com o golpe militar faz parte do processo de democratização do País, explicou Egea. “Precisa haver esse processo de justiça de transição para que o Brasil se torne uma democracia completa. Ainda há muitos traços dos governos militares nas leis nacionais”, completa o dirigente.

Ismael Antonio de Souza, representante da CSB no Fórum, ressalta que a ditadura foi um golpe contra os trabalhadores, e muitas mortes e desaparecimentos ainda estão sem respostas. “As vítimas e as famílias das vítimas do regime militar precisam de reparação e justiça. A ditadura favoreceu uma única classe, a dos ricos. Os financiadores desse regime não podem ficar impunes. Os empresários e militares que torturaram e perseguiram os trabalhadores e ainda estão vivos precisam responder por suas ações no banco dos réus”, argumentou.

O ex-ferramenteiro e sindicalista Lucio Bellentani, que foi preso e torturado dentro da Volkswagen, reforçou a necessidade de criar uma secretaria dentro do governo federal que investigue os crimes contra a humanidade cometidos durante o período da ditadura.  “É preciso fazer um resgate da memória da classe trabalhadora, não há registros da luta dos sindicalistas daquela época, o que temos ainda é pouco. Além disso, nós, que fomos vítimas dos militares e da ditadura fabril que se instalou no Brasil, não nos sentimos livres. É como se ainda fôssemos torturados diariamente pelas nossas lembranças e também porque os culpados nunca forma punidos. Queremos justiça”, contou.

Rosa Cardoso, que foi coordenadora do  Grupo de Trabalho “Ditadura e Repressão aos Trabalhadores, às Trabalhadoras e ao Movimento Sindical e comissária da CNV, enfatizou que as investigações e os documentos regatados pela comissão representam uma vitória dos trabalhadores. “Esse é um momento de pedido de reparação e justiça dos crimes contra a humanidade. São crimes inafiançáveis. Queremos que as empresas e empresários autores de torturas e financiadores da ditadura sejam responsabilizados por seus atos. Recomendamos que a autoanistia não pode ser aplicada em quem cometeu estes crimes”, afirmou.

O procurador do Ministério Público Federal, Pedro Machado, presente no ato, acredita que a reparação coletiva, por meio da construção de memoriais, por exemplo, pode ser uma alternativa. “Os presidentes destas empresas hoje não têm interesse em ver seus nomes ligados aos crimes do passado. A justiça para estes casos também é lenta e muitas vezes ineficiente, por isso tentar a conciliação seria uma alternativa viável tanto para as vítimas quando para as empresas”, declarou.

Entre as empresas e entidades acusadas de colaborar com a ditadura estão Ultra, Itaú, Souza Cruz, Volkswagen, Pirelli, Antarctica, O Globo, os jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, GM, Brastemp, Esso, Votorantin, Scania, FIESP, SESI, Usiminas, Light, Cosipa, Brastemp, Duratex, Philips, Eternit, entre outras.

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