Empresários falam em demissões

Vários setores atingidos pela mudança falam em corte de postos de trabalho e aumento de preços

O custo extra gerado pelo fim da desoneração da folha de pagamento vai ser repassado aos preços finais da indústria e, pior, acompanhado de desemprego. De forma geral, os vários setores atingidos pela mudança falam em demissões e aumento de preços. O setor de máquinas e equipamentos, por exemplo, fala em um corte de 40%.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pastoriza, estima que as vagas, hoje em 350 mil na indústria de bens de capital mecânicos, podem ser reduzidas em até 43% até o fim do ano. Uma parte dos cortes, diz, seria por conta de empresas encerrando operações.

O dirigente teceu severas críticas ao relatório do projeto de lei que prevê uma redução menor no benefício da desoneração para alguns setores. “Em cima desse cenário já difícil, chega essa notícia privilegiando setores que não precisam dessa proteção.”

O fechamento de vagas também preocupa o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), José Romeu Ferraz Neto. Ele avalia que, se a redução da desoneração for aprovada, será “um tiro no pé” do governo. Isso porque, segundo Ferraz Neto, obras públicas e concessões são os maiores contratantes de mão de obra e, portanto, mudanças nas regras de tributação significarão mais custos também para o governo. O setor de construção emprega 3 milhões de pessoas, de acordo com o presidente do Sinduscon-SP. “No ano passado, houve 270 mil demissões no setor e, para 2015, a previsão é de 480 mil demissões.”

O mesmo vai acontecer com os setores de tecnologia da informação (TI), que podem demitir até 81 mil pessoas entre 2015 e 2017, segundo levantamento realizado em conjunto por sete entidades dos setores de TI e de call center. O estudo considerou também o impacto sobre o setor de call center, incluído no grupo de exceções – com previsão de uma alta menor na alíquota. O fim da desoneração para call center causaria a demissão de 70 mil pessoas até 2017.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, afirmou que mexer na alíquota, num momento em que a atividade da indústria está em baixa será danoso para as empresas. “Isso aumentará custos e deve reduzir capacidade de exportação do setor eletrônico. Num quadro assim, o mais provável é a demissão de empregados”, disse.

Já as companhias aéreas e as empresas de transporte rodoviário de passageiros aguardam a aprovação do projeto para detalhar de quanto será o aumento de custos para cada segmento. Mas projetam aumento de despesas, mesmo com a possibilidade de integrarem uma lista de exceções em que a alta de tributos será limitada a 50%. A alíquota do setor de transporte aéreo de carga e de passageiros regular iria de 1% a 1,5%, enquanto o de transporte rodoviário coletivo de passageiros passaria de 2% a 3%.

A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) disse que como ainda não há nada definido sobre a inclusão do setor aéreo nessa lista, a entidade – que representa TAM, Gol, Azul e Avianca – prefere não comentar.

Já entre as empresas de transporte rodoviário de ônibus, a preocupação maior é com o fato de o setor pagar alíquotas maiores que o setor aéreo porque esse modal vem perdendo passageiros para os aviões ao longo dos últimos anos. Por isso, a perda de competitividade – pagando alíquotas maiores que a aviação – preocupa a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati).

 As novas regras também não agradaram o setor de transporte marítimo, incluído na lista de exceções da alta de tributos. O setor marítimo terá um aumento de 50% na alíquota, para 1,5%. Em geral, as empresas de cabotagem (navegação doméstica) consideram que a elevação não onerará a folha. Mas a inclusão do transporte de longo curso (importação e exportação de cargas) na regra está deixando as multinacionais – que dominam o setor no Brasil – preocupadas.

 “Incluir os ingressos do longo curso se torna desinteressante e o longo curso estava excluído antes dessa regra. Em última análise, poderia significar que vai custar tudo mais caro [operar no Brasil]”, diz Mark Juzwiak, diretor de relações institucionais da Hamburg Süd e da Aliança, que atuam no Brasil tanto na cabotagem quanto no longo curso.

De acordo com ele, o longo curso funciona como uma competição internacional. “É um desastre, pois temos de competir com o mercado internacional de fretes e os armadores estrangeiros têm uma estrutura de custos totalmente diferente.”

No setor de hotelaria a expectativa também é de aumento de custos, mas o impacto será heterogêneo. “Os hotéis que empregam mais funcionários foram os mais beneficiados pela mudança de cálculo quando a alíquota passou a ser feita sobre o faturamento bruto em vez de em relação ao INSS”, disse o presidente do Forum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), Manuel Gama.

Segundo o executivo, qualquer aumento de custos neste ano é ampliada pela conjuntura de demanda fraca. “Os indicadores da hotelaria este ano estão mais baixos que os de 2014. Estamos atravessando uma crise brava em todos os aspectos em vários setores, e o setor hoteleiro não pode ficar fora disso”, disse.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, disse que o projeto que reduz a desoneração da folha de pagamentos vai reduzir a competitividade das empresas exportadoras de calçados. “Existe uma incoerência do governo em manter o sistema para alguns setores. A desoneração foi criada para aumentar a competitividade do setor exportador. Agora, o governo decidiu favorecer alguns setores que não têm esse viés”, disse.

Fonte: Valor Econômico

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