Central dos Sindicatos Brasileiros

Dia Mundial da Saúde promove reflexão sobre condições de trabalho dos profissionais

Dia Mundial da Saúde promove reflexão sobre condições de trabalho dos profissionais

Trabalhadores na área da enfermagem pedem agilidade na regulamentação da redução da jornada do trabalho

Em  7 de abril, é celebrado o Dia Mundial da Saúde. Levantamento divulgado em 2011 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),revela que 58,1% dos entrevistados apontam a falta de médicos como o maior problema do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), em apenas três dos 27 estados brasileiros, a média de médicos por habitantes está abaixo do mínimo exigido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Maranhão, Pará e Amapá têm, cada, menos de um profissional por mil habitantes, o que seria o mínimo para garantir atendimento pelo menos razoável à população. Segundo dados do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 55% dos 388.015 médicos brasileiros atuam no SUS.

Segundo Maria Barbara , vice-presidente da CSB e presidente da Federação dos Empregados em Estabelecimento de Serviços de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, o problema é que não só os médicos, mas todos os profissionais de saúde estão concentrados nas regiões Sudeste e Sul . “É necessária uma reorganização da estrutura atual para que as regiões menos favorecidas possam contar com o número mínimo de médicos para atender os mais carentes”, afirma.

 SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do País. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado em 1988 pela Constituição Federal. Segundo dados do Conselho Nacional de Saúde (CNS), 80% dos 190 milhões de brasileiros recebem atendimento médico exclusivamente do SUS.

Em setembro de 2000, foi editada a Emenda Constitucional nº. 29, também conhecida como a Emenda da Saúde. O texto assegurou a coparticipação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios no financiamento das ações e serviços de saúde pública. A nova legislação estabeleceu, ainda, limites mínimos de aplicação em saúde para cada unidade federativa. Nos estados, por exemplo, os investimentos em saúde devem ser de 12% da receita bruta corrente. Já os municípios têm o índice de 12%. Essa medida garantiu que os investimentos governamentais na saúde pública continuassem.

“Nós temos um dos melhores sistemas públicos de saúde do mundo. O projeto do SUS é excelente, o que falta é organização e investimento nos profissionais”, ressaltou Maria Barbara .

Avanços

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2013, as áreas de destaque no atendimento de saúde pública brasileira  são as de tratamento da AIDS e atendimento nas unidades básicas de saúde. Em 1990, a mortalidade infantil era de 53,7 óbitos para cada mil nascidos vivos. Em 2010, o número diminuiu para 18,6 óbitos por mil nascidos vivos.

O combate a doenças como a AIDS e malária também é objetivo internacional. O IBGE aponta que os casos de infecção pelo vírus HIV mantiveram-se estáveis na população geral brasileira. A incidência entre 1997 e 2010 variou apenas de 17,1 para 17,9 casos a cada 100 mil habitantes. Também caiu a taxa brasileira de mortalidade por malária, doença infecciosa transmitida pelo mosquito Anopheles. A redução foi de 1,1 por 100 mil habitantes em 2000 para 0,2 em 2010, sendo que 99,9% dos casos ocorreram na Região Amazônica.

Trabalhadores da área da enfermagem

Segundo a vice-presidente da CSB, o Dia Mundial da Saúde é mais estímulo para as reivindicações dos enfermeiros, técnicos e auxiliares em enfermagem. A categoria pede a regulamentação da jornada de trabalho, prevista no projeto de Lei 2295/00, que reduz de 44 horas para 30 horas semanais a jornada de trabalho. A lei está em tramitação na Câmara dos Deputados desde 2000. Há 14 anos a categoria luta pela regulamentação. Segundo Maria Barbara, o objetivo é promover um amplo debate a respeito das condições de trabalho dos profissionais de enfermagem, bem como tratar da regulamentação da sua jornada de trabalho.

O processo de trabalho na área da saúde pode ser muitas vezes repleto de tensões e contribuir para a precariedade das condições de trabalho e sobrecarga dos trabalhadores, o que contribui para aumento de falhas e afastamentos. “A redução na jornada de trabalho é só a ponta do iceberg, é necessário que seja feita uma pesquisa sobre o perfil psicológico e familiar desse profissional, pois são fatores que afetam diretamente o rendimento e a qualidade do trabalho. Há muitos casos em que o estresse acumulado do trabalho junto com problemas de ordem familiar contribuíram para a redução da atenção ao trabalho e desequilíbrio físico e emocional”, afirma Maria Barbara.

De acordo a dirigente, os profissionais de enfermagem ‑ ao longo de sua atuação ‑ tendem aceitar certas situações de risco que não são inerentes à profissão. Muitas vezes, submetem-se a trabalhar em condições desumanas, como a falta de recursos humanos e materiais, a sobrecarga de trabalho, relações interpessoais/profissionais conflitantes e outras  condições que podem colocá-los frente a várias situações de risco, vulnerabilidade e incapacidade. “Tudo isso interfere na qualidade da assistência aos pacientes, nas relações com colegas e contribui para o desgaste físico e emocional do trabalhador. O profissional  da saúde lida com vidas, por isso precisa estar com o emocional saudável para que o atendimento seja o mais adequado possível. Também não podemos esquecer do investimento em capacitação e qualificação”, avalia.


Perfil do profissional

O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) fez uma análise de dados coletados nos conselhos regionais em 2010 e traçou o perfil do profissional no Brasil. A conclusão foi a de que a maioria dos profissionais são técnicas de enfermagem, do sexo feminino, solteira, com idade entre 26 a 35 anos, mora na região Sudeste e no estado do Rio de Janeiro. “Somos uma classe formada por mulheres, em sua maioria, o que faz a redução da jornada de trabalho ainda  mais necessária, já que muitas são mães e precisam de tempo para se dedicarem à família e ao lazer”, explica Maria Barbara.

Confira o número de profissionais por categoria dentro da enfermagem, que soma 1.449.583 trabalhadores:

Profissionais da área de enfermagem 1.449.583 Porcentagem do total de profissionais na categoria
Enfermeiros 287.119 19,81%
Técnicos de enfermagem 625.862 43,18%
Auxiliares de enfermagem 533.422 36,80%
Parteiras 106 0,01%

*Dados do censo de 2010 do COFEN