Dirigente abordou a busca por direitos das mulheres e a importância da organização sindical
Na abertura do segundo dia de palestras e debates do Encontro Nacional da Mulher Trabalhadora da CSB, em Brasília, nesta quinta-feira (9), Creuza Maria de Oliveira, secretária-geral da Fenatrad (Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas), falou sobre a luta das mulheres em busca de mais direitos e também abordou a importância da organização sindical do público feminino.
Para mostrar os avanços já conquistados e os muitos desafios que ainda existem pela frente, Creuza detalhou a trajetória de batalhas travadas pelas trabalhadoras domésticas no Brasil. A dirigente foi presidente da Fenatrad de 2003 a 2016 e é uma das principais lideranças do segmento no País.
“Nossa trajetória de lutas é de muitas décadas. A categoria das trabalhadoras domésticas tem uma história que vem do trabalho escravo. Nesse processo, a gente mudou em vários momentos: fomos escravas, mucamas, mães de leite. De lá para cá, mudamos de escrava para criada, empregada e hoje dizemos: somos trabalhadoras e fazemos parte da classe operária brasileira. A nossa luta tem sido pelo desenvolvimento dessa profissão”, afirmou a dirigente.
Organização sindical
Creuza de Oliveira também abordou as peculiaridades da organização sindical das trabalhadoras domésticas que, segundo ela, enfrentam desafios ainda maiores na comparação com outras categorias. De acordo com a dirigente, o fato de a maioria das trabalhadoras estar alocada dentro do ambiente residencial dificulta o acesso das domésticas à informação. Por esse mesmo motivo, ela diz que é comum as trabalhadoras sofrerem pressão de patrões e empregadores para que elas não se vinculem ao movimento sindical.
“É uma organização muito difícil. Enquanto em muitos sindicatos os homens brigam para estar na direção, no caso das trabalhadoras domésticas, a gente tem que insistir, às vezes até que chorar, para que as companheiras possam se unir à nossa luta”, explicou a secretária-geral. “Além disso, nós mulheres infelizmente não fomos educadas para fazer política, e estar à frente de um sindicato é fazer política.”
Histórico de abusos
A dirigente também detalhou casos de abusos, desrespeito e discriminação enfrentados pelas trabalhadoras domésticas ao longo dos anos e que, segundo ela, infelizmente ainda ocorrem com frequência no ambiente de trabalho. Foram apresentadas histórias de mulheres abusadas sexualmente e psicologicamente, acusadas indevidamente por patrões de terem cometido roubos ou furtos e até mesmo casos de trabalho escravo existentes ainda hoje.
“Muitas leis não são cumpridas, muitas pessoas são omissas ou coniventes e, com isso, ainda existe trabalho escravo no nosso setor. Tivemos na Bahia recentemente o caso de uma menina que começou a trabalhar aos 10 anos de idade, foi mantida em cárcere privado e até mesmo impedida de ir ao enterro da própria mãe”, detalhou Creuza.
“Em Pernambuco, houve o caso da trabalhadora Fátima, que chegou a ser presa, a apanhar na delegacia para confessar um roubo. Depois, descobriu-se que na verdade foi o filho da patroa que havia roubado a joia. Infelizmente, são coisas que ainda acontecem muito”, lamentou a dirigente.
Avanços ainda necessários
No campo da legislação que protege os direitos das trabalhadoras domésticas e das mulheres em geral, embora tenham sido registrados avanços nos últimos anos, ainda falta muito para que a situação chegue a um patamar ideal, na avaliação de Creuza de Oliveira.
Ela citou, por exemplo, a convenção 189 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a primeira norma internacional vinculante destinada a melhorar as condições de vida de todas as pessoas que atuam como empregadas no trabalho doméstico no mundo. A convenção já foi ratificada por 26 países, mas ainda não foi reconhecida pelo Brasil. “Estamos lutando para que ela seja ratificada aqui também”, explicou.
A dirigente também disse que a luta por mais igualdade entre homens e mulheres deve ser uma constante. “Na nossa área, há homens que estão nesta carreira, mas que não admitem ser domésticos. São caseiros, motoristas, trabalhadores que fazem atividades domésticas e que recebem um tratamento totalmente diferente. Eles são tratados com mais respeito do que as mulheres nessa profissão, então a gente luta por mais respeito e dignidade”, disse.
“Nossa luta não é apenas por direito trabalhista. Lutamos também pelos direitos das mulheres, da mulher negra. Precisamos de moradia, educação, saúde, creche para os nossos filhos. Também é preciso pensar na sociedade, nessa riqueza que é dividida de forma desigual, em que poucos têm muito e muitos não têm quase nada”, completou Creuza.
Acompanhe no portal da CSB a cobertura completa do Encontro Nacional da Mulher Trabalhadora da Central.