Câmara lança página na internet sobre os 30 anos das Diretas Já

A Câmara dos Deputados lançou uma página especial no seu portal na internet dedicada aos 30 anos das Diretas Já

Depoimentos, reportagens e fotos lembram os principais fatos que marcaram o movimento pela redemocratização do Brasil, a partir de 1982. Confira a página aqui.

No dia 25 de abril, fez  30 anos que a emenda da Diretas Já, do deputado Dante de Oliveira, foi derrubada no Congresso. Depois de participar da maior campanha política de nossa história, os brasileiros tiveram de adiar mais uma vez o sonho de votar para presidente. O regime militar que governou o país por 21 anos não permitia eleições diretas para presidente. A frustração foi enorme, mas durou pouco.

Eram apenas duas palavras – Diretas Já – mas que resumiam o desejo de milhões de pessoas, de todo o país. O engajamento foi amplo. Reuniu estudantes, sindicalistas, artistas, atletas e políticos da oposição. “Não haverá solução para os nossos problemas se o povo brasileiro não escolher seu presidente”, disse o ex-governador de São Paulo Franco Montoro.

As eleições para presidente estavam proibidas desde o golpe militar de 1964. Vinte anos depois, a junção da crise política com a econômica enfraqueceu o regime. A inflação passou de 200%.

A emenda à Constituição, que pretendia restabelecer eleições diretas para a presidência, foi apresentada pelo deputado Dante de Oliveira em março de 1983. O primeiro comício aconteceu em Abreu e Lima, em Pernambuco.

A praça nem era a principal da cidade e o comício reuniu pouca gente. No máximo, cem pessoas. O público temia retaliação por parte dos militares. Nem o fotógrafo que foi contratado para registrar o ato político no dia não apareceu.

Era 31 de março de 1983 – aniversário do golpe militar. Severino Farias, o vereador mais votado pelo PMDB no recém-emancipado município, se juntou a outros três vereadores e aproveitou a data para desafiar o regime. “Teve a eleição para escolher vereador, por que também não tem o direito de escolher o presidente da República? De ter eleição direta para presidente”.

No mês seguinte, o PMDB lançou oficialmente a campanha nacional de apoio às Diretas Já, mas só sete meses depois o movimento decolou. Em novembro de 83, o Estádio do Pacaembu, em São Paulo, foi palco da primeira manifestação pública expressiva a favor das Diretas Já. Em janeiro de 84, um comício em Curitiba, no Paraná, reuniu cinquenta mil pessoas.

Alguns dias depois, no aniversário de São Paulo, ocorreu aquele que é considerado o primeiro grande comício das Diretas Já, na Praça da Sé, e as manifestações se espalharam por todo país. Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre e Rio de Janeiro. O último grande comício, no dia 16 de abril no Vale do Anhangabaú (SP), reuniu quase 1,5 milhão de pessoas.

O movimento cresceu tanto a ponto de ganhar ícones, como o deputado Ulysses Guimarães – o senhor Diretas Já – e uma musa: a cantora Fafá de Belém. A gargalhada – marca registrada de Fafá – foi o que chamou a atenção do então senador Teotônio Vilela, um dos principais idealizadores da campanha das Diretas Já.

“Ele disse: minha filha, a nossa gargalhada junta pode fazer o chão desse país tremer. Temos que fazer uma grande corrente de quem quiser e quem vier. Nós temos que banhar esse Brasil de esperança”, conta Fafá.

Fafá acompanhou tudo de perto. Até no dia da votação. Naquele 25 de abril de 1984 –  a rotina da capital do país mudou. O governo decretou estado de emergência no Distrito Federal e o Exército chegou a cercar o Palácio do Planalto para evitar a aproximação dos manifestantes. Na noite da votação, houve até um blecaute.

O povo se concentrou na frente do Congresso para pressionar os parlamentares. O professor de história da UNB Antônio José Barbosa estava lá. “Na Esplanada dos Ministérios em frente à Catedral de Brasília e vendo passar ao lado o general Newton Cruz, que era o comandante militar do Planalto com o seu cavalo, cavalo branco, dando chicotadas para todos os lados – pra manter a ordem naquele momento”.

A tensão não existia apenas do lado de fora do Congresso Nacional. Dentro também. O PDS, partido que sustentava o regime militar, e substituiu a ARENA montava a estratégia para barrar a aprovação da emenda, orientando seus parlamentares a não comparecerem à sessão. Já congressistas e governadores da oposição procuravam demonstrar confiança na vitória, empolgados pela campanha das Diretas Já.

O público, que lotava as galerias, acompanhava a sessão voto a voto. O país todo aguardava com ansiedade a decisão.

“Na Assembleia Legislativa deputados de todos os partidos iniciam uma vigília que vai durar ate o final da votação da emenda Dante de Oliveira”, narrou a repórter Isabela Assumpção.

No Congresso, a emenda das Diretas Já recebeu 298 votos. Faltaram 22. Ela foi rejeitada. O brasileiro teve que adiar mais uma vez o sonho de escolher o presidente. “O povo unido jamais será vencido. A luta continua”, relatou Ulysses Guimarães.

O movimento deixou raízes. Menos de um ano depois, no dia 15 de janeiro de 1985, o colégio eleitoral elegeu Tancredo Neves, do PMDB, como o primeiro presidente civil em 20 anos. “A eleição de Tancredo foi indireta, mas como se direta ela tivesse sido feita. Isso foi sentido pela sociedade”, completa o professor de história.

Fonte: Agência Câmara de Notícias e G1

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