O alto índice de aumento real conquistado em janeiro pelos trabalhadores deve perder força ao longo de 2012, segundo especialistas em mercado de trabalho consultados pelo Valor. Em janeiro, a média de ganho real em cem convenções coletivas registradas no Ministério do Trabalho foi de 3,65%, mas é a influência do reajuste do salário mínimo que explica esse aumento. “Quando o mínimo sobe fortemente, as negociações ganham impulso. Neste ano, a influência do piso nacional veio com peso ainda maior, mas esse efeito deve durar, no máximo, até abril”, diz José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Para o economista da LCA Consultores, Fabio Romão, os dissídios nesta época do ano têm uma particularidade. “A influência do reajuste do salário mínimo nas negociações coletivas é muito forte até maio, mês em que se concentram os dissídios, mas vai perdendo força ao longo do ano, trazendo os índices para baixo”, explica.
Para Romão, a tendência é que o índice médio nacional caia gradualmente, pois os trabalhadores cujo piso salarial e salário médio são superiores ao mínimo devem encontrar mais dificuldades em conquistar ganhos reais expressivos, já que a atividade foi fraca nos últimos trimestres de 2011 e deve permanecer assim no começo deste ano. “Os trabalhadores que recebem o mínimo não representam nem 25% do total da população ocupada. Os outros 75% terão dificuldades para negociar salários. Em contrapartida, a taxa de desemprego continua baixa, o que pode ajudá-los a barganhar”, diz.
Há uma concentração de categorias menos expressivas, com bases e poder de negociação menores no início do ano, segundo Silvestre. “A influência do mínimo nas negociações não acontece em categorias como a dos metalúrgicos e a dos bancários, cujos pisos salariais são maiores.” Segundo ele, os índices conquistados no primeiro quadrimestre não são uma boa medida para prever a taxa média do ano. “Nesse período, as projeções para o desempenho da economia ainda são prematuras. Pode haver grandes mudanças.”
Segundo o Dieese, que divulgará o balanço dos reajustes salariais negociados em 2011 nesta quarta-feira, o mesmo setor apresenta índices muito diferentes dependendo da região onde foi realizada a negociação. A região Sul, por exemplo, aparece em último lugar entre as macrorregiões, com ganho real médio de 2,96%. “Os pisos do Nordeste estão bem próximos ao piso nacional. Quando o mínimo sobe, eles sobem a taxas semelhantes, porque não podem ficar menores que o salário mínimo. Isso normalmente não acontece onde já se paga valores maiores”, diz Silvestre.
O Nordeste puxou para cima o índice nacional, com 4,72% de aumento real médio em janeiro. “Esse índice reforça a influência do mínimo. Há uma porção maior de ocupados com salário indexado ao salário mínimo na região Nordeste”, diz Fabio Romão, da LCA.
“Nós sempre usamos o mínimo como parâmetro. Nosso piso é muito baixo, por isso nos espelhamos no que acontece no país”, afirma Paulo Nicácio, diretor-financeiro do Sindicato dos Trabalhadores em Asseio, Conservação e Limpeza Urbana em Alagoas. Para não ficar abaixo do piso nacional, o reajuste conseguido pelo sindicato em Alagoas foi de 14%.
Fonte: Valor