Argumentos para as reformas trabalhista e da Previdência caíram por terra

Não geraram empregos, nem retomada da confiança e da atividade econômica 

Creio que hoje já é seguro concluir que um dos elementos dos discursos utilizados nas reformas trabalhista e previdenciária caiu por terra. Me refiro à retomada econômica que eles supostamente gerariam. A reforma trabalhista foi aprovada sob o argumento de que geraria empregos. Não gerou. A reforma da Previdência, ainda que inadiável por questões fiscais, foi apresentada como um grande ponto de inflexão, a partir do qual haveria retomada da confiança e, como resultado, da atividade econômica. Não houve nem um, nem outro.

Sobre a reforma da Previdência, o que ela poderia oferecer para alimentar a confiança de investidores e empresários já está feito. E, convenhamos, não foi muito. Ela vai auxiliar enormemente na questão fiscal, mas ainda tem reduzido impacto na atividade econômica.

O caso da reforma trabalhista é diferente, porque além de não ativar a economia, altera o mercado de trabalho de uma maneira não necessariamente positiva. Desde que ela foi aprovada, já escrevi neste espaço que ela potencialmente geraria compressão de salários e aumento da desigualdade. Os dados que temos até este momento do ano confirmam minhas hipóteses.

Este mês o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou um estudo indicando que o nível de ocupação voltou aos patamares pré-crise. O trabalho traz uma notícia boa e uma ruim. A boa é que há mais emprego. A ruim é que estamos observando um aprofundamento da informalidade e elevação da desigualdade.

Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) indicam geração líquida de mais de 593 mil entre janeiro e agosto deste ano. No entanto, apenas 47,1% deste saldo são contratações de semana cheia, sendo que no mesmo período de 2013 eram 73,1%. Ou seja, estamos contratando jornadas menores. Sobre remuneração, comparando agosto de 2019 com agosto de 2018, houve ganho real médio de 1,3%, mas que está concentrado apenas em contratos de mais de 30 horas semanais. Para contratos abaixo de 30 horas, houve perda real média de 2,5% – para jornadas de até 12 horas, por exemplo, a perda real chegou a 4,5%.

Assim, quando se fala em retomada da economia, me parece que o mais central não é identificar se ela é robusta ou não. Ela deve acontecer, mais cedo ou mais tarde. Minha maior preocupação é a sua cara. Por enquanto, os sinais são claros: elevação da desigualdade, acompanhada por tudo de ruim que ela traz para a sociedade.

Fonte: Zero Hora – Ely José de Mattos

Compartilhe:

Leia mais
Design sem nome (2) (1)
CSB defende transição tecnológica justa em reunião de conselheiros com ministra Gleisi Hoffmann
painel 7 transição tecnológica e futuro do trabalho
Encontro Nacional CSB 2025: painel 7 – Transição tecnológica e futuro do trabalho; assista
regulamentação ia inteligência artificial
Regulamentação da IA é tema em destaque para centrais sindicais no Congresso
papa leão XIII e papa leão XIV
Com o nome Leão XIV, novo Papa homenageia Leão XIII, defensor dos trabalhadores e abolicionista
mapa mundi brasil no centro
IBGE lança mapa-múndi com Brasil no centro e hemisfério sul na parte de cima
geração de empregos recorde em fevereiro
Procurador denuncia "pejotização" como forma de burlar direitos trabalhistas
csb centrais sindicais com ministro maurcio godinho tst
Centrais entregam agenda jurídica do movimento sindical ao vice-presidente do TST
csb menor (40)
Desigualdade de renda no Brasil é a menor desde 2012, aponta IBGE
csb menor (1)
Encontro Executiva Nacional CSB 2025: painel 6 – Trabalhadores e meio ambiente
ministro do trabalho luiz marinho em audiencia na camara
Ministro do Trabalho defende fim da escala 6x1 e jornada de 40 horas na Câmara