Consultora jurídica apontou números que mostram que a presença feminina no Congresso está aquém do mínimo necessário
A participação da mulher no cenário político nacional foi o destaque da palestra da advogada Sarah Campos durante o Encontro Nacional da Mulher Trabalhadora da CSB. Segundo a consultora jurídica, a presença das mulheres no parlamento brasileiro ainda é muito pequena.
“Mesmo tendo alcançado 30% de candidatas, as mulheres continuam representando apenas aproximadamente 10% dos eleitos no Poder Legislativo”, explicou. Segundo Sarah, em 2014, constatou-se 9,9% de mulheres na Câmara dos Deputados e 16% no Senado.
Sarah Campos apresentou números da participação das mulheres nos parlamentos latino-americanos. Dados da Inter-Parliamentary Union (IPU), em 2015, apontam que a América Latina era a segunda região do mundo em razão da maior média de representatividade parlamentar feminina (26,6%), atrás apenas dos países nórdicos (média de 41,5%).
Bolívia e Cuba ocupam a segunda e a terceira colocações mundiais, com 53,1% e 48,9% de mulheres no parlamento, respectivamente. Entretanto, as disparidades evidenciam que o problema está longe de uma solução.
“O Haiti está na última colocação por não contar com nenhuma representante do sexo feminino. O próximo país com menor percentual, puxando a média da região para baixo, é o Brasil”, revelou a advogada.
A divisão sexual do trabalho é apontada pela consultora como um importante agravante deste quadro. “Essa questão, que sobrecarrega as mulheres com os afazeres domésticos, funciona também como um dos principais obstáculos à participação das mulheres na política”, criticou Sarah. Segundo ela, “a responsabilização desigual pelas tarefas domésticas, que ocasiona restrições no acesso a tempo, impacta sobre a atuação das mulheres no mercado de trabalho e, consequentemente, no seu acesso à renda”.
“Isso resulta em uma menor disponibilidade das mulheres à dedicação que é necessária tanto para uma campanha política quanto para o exercício ativo de um mandato, o que também resulta na diminuição das possibilidades de construção de uma carreira política e menor acesso a movimentos e espaços de organização coletiva”, completou.
Para Sarah Campos, a reestruturação da sociedade, e não apenas as leis eleitorais, é o fator preponderante na maior participação política da mulher.
“Faz-se necessário um compromisso da sociedade e do Estado com a causa, mediante a adoção de ações afirmativas que reconheçam as condições de partidas desiguais entre homens e mulheres e criem certas vantagens compensatórias da discriminação e exclusão estruturais historicamente impostas às mulheres”, pontuou a consultora sobre a necessidade de políticas públicas como estímulo para a mudança do atual cenário.
A mudança cultural da sociedade, em que os homens também assumam a divisão de tarefas domésticas e de criação dos filhos, é importante, na visão da palestrante, para que a mulher tenha condição mais efetiva de igualdade e também possa participar dos eventos sociais e políticos.
Segundo a consultora, uma proposição possível dentro do movimento sindical é “inserir o tema da participação da mulher nas eleições sindicais, com adoção inclusive da reforma dos estatutos dos sindicatos, federações, confederações e centrais”.
“É essencial pensar também em novas estratégias de organização e fomento dos movimentos pelos direitos das mulheres no Brasil, assegurando-lhes maior poder de pressão sobre os órgãos decisórios”, reforçou Sarah. “Uma forte organização feminina e mobilização social são importantes potencializadores de mudanças. Nós precisamos ocupar o nosso espaço”, emendou.