O mercado de trabalho brasileiro fechou 408 mil postos de trabalho com carteira assinada em dezembro, segundo a média das estimativas de 12 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data. As projeções para dezembro são todas negativas e vão do fechamento de 351 mil a 460 mil vagas.
Se confirmado, ainda que negativo, este será o melhor saldo para um mês de dezembro desde 2011, quando também foram perdidos 408 mil postos formais. Dezembro, por características sazonais, é tradicionalmente marcado pelo fechamento de vagas.
O resultado negativo do mês deve superar o saldo positivo de 300 mil empregos formais gerados no acumulado de janeiro a novembro, na série ajustada para incluir informações enviadas com atraso pelas empresas. Na série sem ajustes, foram criados 205 mil vagas até novembro.
A média de 10 projeções aponta para um saldo negativo anual de 203 mil vagas formais em 2017, na série sem ajustes. Considerado o dado ajustado, o saldo negativo será de 108 mil. Apesar de o mercado formal fechar seu terceiro ano no vermelho, o saldo negativo é menor do que nos últimos dois anos. Em 2015 e 2016, foram fechadas, respectivamente, 1,54 milhão e 1,32 milhão de vagas com carteira, com ajuste.
É esperado que o Ministério do Trabalho e Emprego divulgue os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de dezembro e do ano de 2017 na próxima semana, mas ainda não há data definida.
Dois fatores explicam o fechamento de vagas característico de dezembro, diz Fábio Romão, economista da LCA Consultores. O principal deles é a demissão dos trabalhadores temporários da indústria, contratados para atender à demanda da produção para as festas de fim de ano. Além disso, há empresas e trabalhadores que aguardam o fim do ano para demitir ou pedir demissão – caso dos professores, com o término do ano letivo, por exemplo.
A LCA calcula que tenham sido fechados 460 mil postos de trabalho formal em dezembro. Em 2015 e 2016, foram encerradas 596 mil e 462 mil vagas no último mês do ano, respectivamente.
Embora o saldo de dezembro de 2017 deva ser menos negativo do que o de anos anteriores, isso não é um dado totalmente bom, alerta Helcio Takeda, da Pezco. A consultoria projeta uma perda líquida de 360 mil vagas em dezembro. Takeda lembra que, entre 2010 e 2012, quando o Brasil vivia o pleno emprego, a perda de vagas em dezembro era de 400 mil a 500 mil. “Nesse ano, o número deve ser menos negativo porque a economia está em recuperação, mas também porque as pessoas não se sentem seguras em pedir demissão e buscar oportunidades melhores”, diz.
A Pezco calcula um saldo negativo de 154 mil vagas para 2017. Por ramos da atividade econômica, a construção civil continuará com o saldo mais negativo do ano (-118 mil), segundo estimativa da consultoria, e somente o comércio (13 mil) e o setor agropecuário (28 mil) terão saldos positivos. A indústria de transformação seguirá no vermelho (-27 mil), mas já com saldo negativo muito menor do que no ano passado, quando foram fechados 322 mil postos no setor. A área de serviços também deverá ter perda de vagas em 2017 (-38 mil), devido à recuperação mais lenta do segmento.
Para 2018, a LCA acredita que o emprego formal volta ao campo positivo, com a geração de 800 mil novas vagas. “É pouco para recompor a perda de mais de 3 milhões de postos nos últimos três anos, mas já vai representar uma recuperação”, diz Romão. Segundo ele, o mercado formal só deverá retomar o patamar anterior à crise em 2020.
A Pezco estima um saldo positivo de 652 mil postos formais em 2018. No entanto, a projeção está sendo revisada para cima e pode chegar a 1 milhão, devido à dinâmica surpreendentemente positiva do emprego em 2017, que pode ganhar intensidade este ano, diz Takeda. A consultoria tem uma projeção para o PIB de 2018 acima da média do mercado, de 3,8%, contra 2,7% da mediana Focus.
Romão e Takeda avaliam que as eleições não ameaçam a retomada do mercado formal. “A recuperação econômica tende a favorecer um candidato com perfil de centro direita e comprometido com a agenda de reformas, nesse contexto, o efeito sobre a confiança dos empresários e investidores seria muito pequeno”, afirma Takeda.
Fonte: Valor Econômico