A categoria luta para que malha ferroviária brasileira aumente e o transporte de passageiros se torne prioridade
Há 160 anos, no dia 30 de abril, era inaugurada a primeira estrada de ferro do Brasil. Este marco oficializou a data como Dia do Ferroviário. A ferrovia era um trecho de apenas 15 km ligando o porto de Mauá até Raiz da Serra, no Rio de Janeiro. O autor da façanha era o Barão de Mauá, que obteve o monopólio da linha por quatro anos. Em 1958, D. Pedro II inaugurou a estrada de ferro que levava o seu nome. Após a Proclamação da República, a linha teve seu nome alterado para Estrada de Ferro Central do Brasil.
Atualmente, a malha ferroviária do País é ineficiente. As ferrovias estão irregularmente distribuídas pelo território nacional. Enquanto a Região Sudeste concentra quase metade (47%) as ferrovias, as Regiões Norte e Centro-Oeste, juntas, concentram apenas 8%, de acordo com dados do Centro de Estudos e Pesquisas Ferroviárias (CEPEFER). O Brasil possui hoje 30.000 km de ferrovias para tráfego, o que dá uma densidade ferroviária de 3, 1 metros por km² – bem pequena em relação aos EUA (150m/km²) e à Argentina (15m/km²).
Segundo Francisco Aparecido Felício (França), presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias Paulistas (Sindpaulista) e dirigente nacional da CSB, as ferrovias estão sucateadas em detrimento das rodovias. O País se afastou dos trilhos nos anos 1950, com o plano de crescimento rápido do presidente Juscelino Kubitschek, que priorizou rodovias. A construção de ferrovias era lenta para fazer o Brasil crescer “50 anos em cinco”, como ele queria. Em seis meses, você faz 500 quilômetros de estrada de terra. Isso em ferrovia leva três anos”, disse.
Além disso, o lobby das rodovias foi forte. Desde a era JK, os investimentos e subsídios no setor são grandes, não só para abrir estradas como para atrair montadoras. “Outro responsável foi o café, em baixa desde os anos 1930. Ele era transportado principalmente por trens, então várias empresas férreas faliram com a falta de trabalho. O foco do transporte ferroviário no Brasil é o transporte de carga. Por isso, os trens carregam só 3% dos passageiros do País (isso porque incluímos o metrô na conta). Mas, na próxima década, o cenário deve mudar, pois é necessário que seja investido no transporte de pessoas também”, avalia França.
De acordo com dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), uma única linha de metrô transporta até 60 mil passageiros por hora, enquanto um corredor de ônibus leva 6,7 mil. No Brasil, metrôs e trens tiram das ruas 14 mil ônibus e 1 milhão de carros ao dia. “Trens são imbatíveis em carregar muita gente de uma vez . Com mais linhas, o efeito se alastraria para as rodovias. Com mais trens de passageiros, as pessoas gastariam menos tempo no trânsito e a poluição também seria menor”, afirma o dirigente.
Um trem lança na atmosfera dez vezes menos gás carbônico por tonelada do que um caminhão. Isso porque, no Brasil, trens usam uma mistura que tem 20% de biodiesel, enquanto caminhões costumam usar outra com 5%, segundo relatório da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). “Além disso, caminhão vira sucata cedo. Sua vida útil é de dez anos em média. A do trem, 30 anos. Os políticos precisam começar a olhar para os trilhos. O Brasil tem que se tornar, enfim, um país de ferrovia”, ressaltou França.
Ferrovias e a história
O transporte ferroviário tem presença significativa na história do Brasil. Uma das marcas deixadas pelas locomotivas no País está na Revolução de 30, quando o então líder revolucionário Getúlio Vargas pegou um trem no Rio Grande do Sul e seguiu para o Rio de Janeiro, conduzindo as tropas gaúchas que iriam depor o presidente Washington Luís e começar um novo período da história nacional.
Os ferroviários também foram fundamentais para a construção do movimento sindical e para o fortalecimento dos trabalhadores. Guarino Fernandes dos Santos (1926-1987), um dos ícones do sindicalismo brasileiro e pai do presidente da CSB, Antonio Neto, foi líder dos ferroviários de Sorocaba e presidente da União dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana. Guarino foi preso e torturado pelo regime militar enquanto lutava pelos direitos dos trabalhadores ferroviários.