1º de Maio das centrais sindicais reúne milhares em SP – O Dia do Trabalhador deste ano foi marcado pelo primeiro ato unificado de todas as centrais sindicais em diversas capitais do país. Em São Paulo, o ato reuniu milhares de sindicalistas, trabalhadores e militantes no Vale do Anhangabaú, e contou também com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula aproveitou a oportunidade para fazer alguns anúncios e focou sua fala em quais medidas já tomou e pretende tomar em prol da classe trabalhadora nos próximos quatro anos.
Ele começou o discurso criticando novamente os juros altos que, segundo o presidente, são responsáveis por frear a geração de empregos.
“A gente não pode viver num país onde o emprego não é levado a sério pelos governantes. A gente não pode viver num país onde a taxa de juros não controla a inflação, ela controla na verdade o desemprego neste país, porque ela é responsável por uma parte da situação que nós vivemos hoje”, afirmou.
Ainda sobre a geração de empregos, Lula contou que, em suas viagens internacionais, tem apresentado a empresários estrangeiros o plano do governo para o próximo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), convidando-os para investir no Brasil.
“[O PAC] Vai ser o maior projeto de obras de infraestrutura desse país, e a gente então vai voltar a gerar emprego. Porque o que transforma o trabalhador numa pessoa mais que honrada é ele e a mulher trabalhar e, no final do mês, levar comida para casa com o suor do seu trabalho.”
Salário mínimo e renda
Temas do primeiro pronunciamento em rede nacional do presidente neste domingo (30), a volta da Política de Valorização do Salário Mínimo e o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda também foram lembrados por Lula durante o ato do Dia do Trabalhador.
“O trabalhador receberá, além da inflação, a média do crescimento do PIB. E essa é uma coisa extremamente importante, porque quando o salário mínimo aumenta, quem ganha não é só o trabalhador que ganha o mínimo, ganha o cidadão do comércio, o cidadão que vende cachorro-quente, que vende pastel, que vende comida, porque o trabalhador, tendo mais dinheiro, compra mais. Ele comprando mais, o comércio vai gerar emprego, e vai encomendar coisa da indústria. A indústria vai gerar emprego, e vai começar a funcionar aquilo que eu disse na televisão ontem, a roda da economia começa a girar, e todo mundo começa a ganhar, até os mais ricos ganham com o aumento do salário mínimo”, explicou.
Assim como fez no pronunciamento em rede nacional, Lula reafirmou o compromisso de isentar de Imposto de Renda para todos que ganhem até R$ 5 mil até o fim de seu mandato. A partir deste 1º de Maio, a isenção passa de R$ 1.903 para R$ 2.640.
Isenção de imposto na PLR
As mudanças no Imposto de Renda, porém, não devem parar por aí. Lula anunciou que o governo está estudando a isenção da cobrança sobre a PLR (Participação nos Lucros e Resultados). A questão foi apresentada a ele pelo presidente da CSB, Antonio Neto, durante reunião com as centrais sindicais na última quinta-feira (27), em Brasília.
Durante o encontro, Lula considerou a cobrança um “absurdo”, tendo em vista que o Brasil não cobra imposto sobre lucros e dividendos dos empresários, e demonstrou que acatou a demanda apresentada por Neto.
“E os trabalhadores se preparem, porque a pedido das centrais sindicais, nós começamos a estudar: se o patrão não paga imposto de renda sobre o lucro, se o patrão não paga imposto de renda sobre o dividendo que ele recebe, por que que os trabalhadores têm que pagar imposto no PLR? Por quê? Então nós estamos estudando, o Haddad estava na reunião, para quem sabe no próximo ano, da mesma forma que um patrão que ganha milhões não paga sobre o lucro, o trabalhador não pode pagar imposto de renda sobre a participação dele no lucro da empresa”, falou durante o ato desta segunda.
Trabalhadores em aplicativos
Pauta central durante sua campanha em 2022, Lula voltou a garantir que sua gestão criará uma forma de proteger os trabalhadores em aplicativos, mas sinalizou que isso não necessariamente passará por formalizar todos sob o regime da CLT, que completou 80 anos neste 1º de maio de 2023.
“Não tem problema que o cara trabalhe em aplicativo, muitas vezes o cara não quer assinar a carteira, não tem problema. Mas o que nós queremos é que a pessoa que trabalha com aplicativo ele tenha um compromisso de seguridade social, porque se ele ficar doente tem que ter cobertura para essa pessoa ser tratada”, disse.
Promessa aos trabalhadores
Lula encerrou seu discurso agradeceu a confiança que os trabalhadores deram a ela “a vida inteira” e atribuiu o sucesso deu seus primeiros mandatos à classe trabalhadora.
“Vocês me deram uma nova chance, e eu quero provar para vocês, que nesses próximos quatro anos, nós vamos fazer muito mais do que eu fiz nos primeiros oito [anos]. E vou fazer por conta do meu compromisso com o povo trabalhador. Vou fazer por conta do meu compromisso com as pessoas que ralam o dia inteiro, que acordam 5h da manhã, que andam duas horas de ônibus, que pegam um trem lotado ou um metrô entupido para levar um dinheirinho para casa, e essa gente muitas vezes não consegue ganhar o suficiente para uma cesta básica”.
CSB presente
A Central dos Sindicatos Brasileiros marcou presença no Vale do Anhangabaú com seu presidente nacional e dirigentes, além de centenas de filiados e militantes. Antonio Neto discursou poucos momentos antes de Lula e também criticou a política de juros do Banco Central.
“Nós queremos menos juros, e mais emprego. Que o Senado, que criou essa coisa esdrúxula do Banco Central independente, também dê o impeachment a esse Campos Neto, que tem horror ao povo brasileiro, e que está, acima de tudo, sabe o que? Boicotando o Brasil”, afirmou.
Neto comemorou a derrota de Bolsonaro nas urnas no ano passado, mas lembrou que agora é momento de muita luta para desfazer os retrocessos dos últimos anos.
“Foram seis anos, desde Temer no golpe, depois Bolsonaro, em que só diziam: ‘quer direito? Não tem emprego. Quer trabalho? Só sem direito’. Nós queremos emprego, queremos salário e queremos direito para todos os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil”, ressaltou.
Ele acrescentou que, países que serviram de inspiração para a Reforma Trabalhista de 2017, já reformularam as leis que hoje têm suas semelhantes em vigor no Brasil.
“É chegada a hora de rever a reforma trabalhista, reforma previdenciária, além da terceirização, que é sinônimo da escravidão. Por isso, meus companheiros, a Espanha, que foi a origem da reforma trabalhista brasileira, Portugal, que foi origem da reforma trabalhista brasileira, já voltaram atrás, porque perceberam que se não tiver a força trabalhadora bem remunerada, organizada, formalizada, nada funciona”, ressaltou.
O secretário de Organização e Mobilização, Paulo de Oliveira, também aproveitou o microfone para destacar a necessidade de se revogar os retrocessos da reforma trabalhista.
“Não é possível viver com a situação que nós vivemos da terceirização, que é a raiz da escravidão moderna. É preciso acabar com a relação onde o trabalho é regulado por acordos individuais, onde o trabalhador é sujeitado e se sujeita às condições do patrão. É hora de mudança, mas essa mudança só vem com a força do trabalhador e com a valorização do movimento sindical. Sem sindicatos fortes não há luta em favor do trabalhador”, disse.
O secretário-geral da CSB, Álvaro Egea, deu destaque aos 80 anos da CLT.
“Parabéns, porque hoje também nós estamos comemorando 80 anos da CLT, marco civilizatório promulgado pelo gestor Vargas, e que tantos já prometeram rasgar, mas nós sabemos que o sonho dos trabalhadores e trabalhadoras é ter direitos, é ser incluído nesses direitos todos, com o registro na carteira profissional, com salário garantido pelo sindicato, conquistas da convenção coletiva, aposentadoria e todos os direitos inerentes à legislação trabalhista. Parabéns à CLT!”, celebrou.
Representando a CSB Mulher, a diretora do Sindvestuário Guarulhos, Nilvone de Oliveira, falou sobre a necessidade de garantir igualdade e respeito às mulheres no mercado de trabalho, e a certeza de que serão feitos avanços nesse sentido durante este governo.
“Hoje nós temos pessoas lá no poder [no governo federal] que representam a nossa classe, que estão lutando em relação ao direito das mulheres, igualdade salarial, tanto para o homem quanto para as mulheres, isso é muito importante. Não à terceirização ao trabalho escravo, à precarização de salário e de trabalho. Chega de tanto sofrimento, principalmente para nós mulheres”, falou em seu discurso.
1ª Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil