Histórica, greve de ‘servos de Deus’ confronta igreja do pastor Valdemiro

Os grevistas prometeram em ata que não iam usar carro de som na porta do templo para não atrapalhar os cultos. Por seu lado, o patrão disse, durante um sermão, que os trabalhadores em greve têm “a alma no fogo do inferno”. A histórica paralisação dentro da Igreja Mundial do Poder de Deus, denominação liderada por Valdemiro Santiago, tem uma negociação bem peculiar.

“Eles ficam falando de teologia da prosperidade, mas não são capazes de pagar em dia seus funcionários. A gente passa vergonha com impostos atrasados e sem vale-refeição para comer”, reclama a atendente Vera Lúcia Nazário, que foi obreira voluntária por três anos antes de virar atendente com carteira assinada. Há oito anos ela trabalha na central de carnês e boletos para quem paga dízimos e doações. Ela está no grupo de grevistas mobilizados na entrada da sede central no Brás, centro de São Paulo.

Segundo sindicalistas, incluindo os do Seibref (Sindicato dos Empregados em Instituições Beneficentes, Religiosas e Filantrópicas de São Paulo), esta é a primeira vez que há uma paralisação de funcionários diretamente da estrutura de uma igreja no Estado de São Paulo — não há notícia sobre paralisação similar no país. Além da área administrativa, parte do pessoal da TV Mundial também está parado.

Pelo menos 40% dos mais de mil trabalhadores da instituição aderiram ao movimento desde o último dia 9 até hoje (19), data em que a Igreja Mundial se comprometeu a pagar todos os salários e benefícios atrasados. Depois, os trabalhadores permanecem em “estado de greve”, esperando que a empresa cumpra até janeiro com as cotas que faltam do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) junto à Caixa Econômica Federal.

Durante um culto transmitido ao vivo no fim de semana, Valdemiro ameaçou demitir e terceirizar os serviços dentro da igreja. Horas depois, a Igreja Mundial tirou o vídeo do ar de todas as plataformas.

Obreiras ou operárias?

“É muito difícil convencer a entrar em greve, porque muitos confundem o trabalho com o amor a uma causa, e acabam aceitando os erros e excessos dos chefes. Mas o direito do trabalhador foi tão desrespeitado aqui que eles perceberam que há uma grande diferença entre o que os religiosos falam e o que eles fazem”, afirma Luis Gustavo De Falco, presidente da Seibref.

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