Golpe desvendado: PF combina dados, inteligência e trabalho árduo

Após a publicação do relatório de investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado, incluindo suspeitas de um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, observamos uma enxurrada de postagens na internet fazendo comparações pouco relevantes com outros crimes cometidos em abstrato, algumas até risíveis, como a do deputado que afirmou que o plano seria similar ao dele, quando se apaixonou e planejou namorar a modelo Gisele Bündchen. Chega a ser absurdo!

Leia também: Nota das centrais sindicais: “União contra o golpismo e pela democracia”

Mas isso não surpreende, diante da falta de compromisso com a publicação da VERDADE nas mídias sociais, que não vetam e muito menos punem incentivos ao cometimento de crimes em suas plataformas. O que importa é o lucro, tudo em nome de uma FALSA LIBERDADE. Voltemos à investigação: ela começou no dia 26 de junho de 2023 e está na página 01 do relatório entregue ao STF.

Por que uma investigação está no STF?

Essa é uma pergunta e, até, uma afirmação distorcida por parte daqueles que querem fugir da responsabilidade. Vamos lá:

Está no STF devido ao envolvimento de altas autoridades, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, o que exige que os casos sejam tratados lá, conforme a CF/88 – FORO. Mas dizem alguns: “homicídio tem que ser ao menos tentado. Não há punição para planejamento de homicídio!” Aqueles que defendem a tentativa de golpe questionam assim.

O envolvimento no golpe, de forma geral, apura organização criminosa, interferência no Estado democrático de direito, incluindo o ataque ao próprio STF, e disseminação de falsas informações sobre fraude nas eleições. Não há provas de reunião sobre o tema GOLPE!

Tem sim! O próprio ex-presidente participou diretamente de reunião no dia 05/07/2022, onde discutiu estratégias para consolidar as narrativas dos crimes mencionados acima. Ele autorizou e participou de planejamentos operacionais e reuniões que incluíam o assessor Mauro Cid e militares das Forças Armadas, inclusive os das forças especiais, denominados “Kids Pretos”.

Ações golpistas do dia 8 de janeiro

Dizem alguns que as ações golpistas do dia 8 de janeiro e os ataques, como a explosão no Aeroporto de Brasília, surgiram sem planejamento. MENTIRA!

As ações golpistas e os ataques violentos foram, de fato, planejados. Inclusive, houve planos para o sequestro e morte do Ministro Alexandre de Moraes, do presidente e do vice-presidente. O relatório demonstra estratégias detalhadas de execução do golpe, com planos para ocupar instalações estratégicas e construir redes de fuga. Houve articulações clandestinas nas barbas do poder, com a cooptação de militares e outros servidores das forças policiais. Apoio armado!

O relatório contém mais de 800 páginas e sugiro a todos que leiam. Já é público. Encerro com uma pequena relação de atos CONCRETOS que comprovam a materialidade da tentativa de GOLPE:

  • Desinformação e manipulação do processo eleitoral;
  • Reunião ministerial do dia 07/05/22;
  • Planejamento (impressão) de ações golpistas;
  • Planejamento (impressão) de assassinatos e ações violentas;
  • Monitoramento de autoridades e espionagem;
  • Tentativa de união com as Forças Armadas;
  • Utilização de estrutura do Estado brasileiro e milícias digitais para disseminar informações falsas e fomentar/manipular narrativas;
  • Elaboração do plano de assassinato (punhal verde-amarelo);
  • Uso de militares das forças especiais;
  • Tentativa de incitação ao golpe no dia 15/12/22;
  • Formação de falso “gabinete de crise”;
  • Criação e financiamento para execução de ações golpistas.

E tem muito mais no robusto arcabouço probatório do relatório de inteligência dos policiais federais. A investigação é mais que robusta nesse sentido. Quem ainda acredita que não houve tentativa de golpe está imerso no “credo do bezerro de ouro”, uma falsa compreensão e fé de que um suposto líder não cometeria tais fatos tão graves.

Por Flávio Werneck, advogado, policial federal, vice-presidente da CSB, mestre em criminologia e pós-graduado pela Escola do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.

*Texto publicado originalmente no jornal Capital Federal
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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