Prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, aponta a distorção do capitalismo como principal causa da desigualdade social no mundo
Filho de uma professora primária e de um vendedor de seguros, o economista Joseph Stiglitz passou a infância em uma típica família de classe média americana, no município de Gary, no Estado de Indiana. A cidade era um território fértil para prosperar o “sonho americano”, o ideal exportado para o mundo de igualdade de oportunidades que beneficiava a população dos Estados Unidos. Aos 72 anos, Stiglitz hoje lamenta toda vez que visita sua terra natal e constata que Gary se tornou o emblema de um sonho que ficou no passado. “Os EUA foram a primeira sociedade de classe média, mas estamos prestes a nos tornar o primeiro país com uma sociedade de classe média que deixará de ser de classe média”, diz Stiglitz, em entrevista ao Valor.
Prêmio Nobel de Economia, Stiglitz ajudou a pôr o tema da desigualdade no centro do debate, quando escreveu o artigo “Do 1%, para o 1% e pelo 1%”, publicado na revista “Vanity Fair”, em maio de 2011. No texto, o ex-economista chefe do Banco Mundial descrevia a crescente má distribuição de renda nos EUA, onde 1% da população controlava mais de 40% da riqueza e recebia mais de 20% da renda. Quatro meses depois, surgiu o movimento Occupy Wall Street, com o slogan “Nós somos os 99%”.
Conselheiro econômico de Hillary Clinton, pré-candidata democrata à Presidência dos EUA, Stiglitz propõe uma agenda ampla para mitigar o problema, que inclui aumento de impostos para os mais ricos e limite de monopólio. Ele diz estar otimista com Hillary e que ela tem sido enfática em sua crítica a Wall Street e ao setor financeiro. “Não quero afirmar que existe unanimidade nesse sentido. Ainda há pessoas no Partido Democrata muito próximas de Hillary que tentam defender os abusos de Wall Street.”
O problema atual, observa Stiglitz, não está no capitalismo, mas em como o capitalismo do século XXI teria sido distorcido por outro modelo econômico, a chamada economia pelo lado da oferta, que caracterizou a era Reagan. “A marca atual do capitalismo é um simulacro de capitalismo”, escreveu. “Se fizéssemos os mercados agirem como mercados, teríamos menos desigualdade.”
A desigualdade é justamente o tema de “Great Divide: Unequal Societies and What We Can Do About Them” (A grande divisão: sociedades desiguais e o que podemos fazer a respeito, em tradução livre), que será lançado no Brasil pela editora Alta Books no segundo semestre. No livro, o economista (foto) afirma que a desigualdade é uma escolha, resultado cumulativo de políticas injustas e prioridades mal direcionadas. Em novembro, o economista fará uma palestra, em São Paulo, dentro do projeto Fronteiras do Pensamento.
Na entrevista a seguir, concedida, por telefone, Stiglitz fala da crise da Grécia e da situação econômica brasileira. “O Brasil precisa é de uma reforma fundamental em seu setor financeiro. Vocês têm uma das taxas reais de juros mais altas do mundo. Não é de surpreender que isso esteja afugentando os investidores.”
Valor: O senhor escreveu que os que têm apenas o diploma do ensino médio viram seus salários caírem 13% ao longo dos últimos 35 anos, nos EUA. Por outro lado, os rendimentos de altos executivos seriam hoje cerca de 300 vezes maiores do que a média dos salários de um trabalhador típico, proporção mais elevada do que no passado e sem evidência de aumento proporcional na produtividade. Como o senhor explica o aprofundamento da desigualdade?
Joseph Stiglitz: Sempre existiu desigualdade, mas ela cresceu muito no último terço de século. Acredito que é porque mudamos as regras do jogo. Quando falo em mudar as regras do jogo, refiro-me às políticas de gastos públicos, às leis de falência, às leis antitruste, à lei de governança corporativa e a algumas das regras implícitas do que é certo ou errado, justo ou injusto. Só para dar alguns exemplos das consequências: mudamos as regras do setor financeiro para permitir que os bancos ficassem maiores e os bancos comerciais pudessem participar de atividades que envolviam mais risco – e abrimos a porta para conflitos de interesse. De certa forma, permitimos que os bancos agissem de forma predatória contra a sociedade. Um segundo exemplo é que consentimos que os CEOs – e quase os incentivamos pelo sistema fiscal – criassem sistemas de compensação que lhes permitiam ficar com uma fatia cada vez maior das receitas corporativas. Um terceiro exemplo é que enfraquecemos os sindicatos, impedindo que agissem como freio a esses abusos corporativos e causando redução no salário dos trabalhadores. O quarto exemplo é que mudamos as regras da globalização, fazendo que favorecesse as corporações, o que prejudica as pessoas comuns. Há um debate grande nos EUA, hoje, sobre se essas regras devem ser tornadas ainda piores ou se essa tendência deve ser interrompida.
Valor: Qual é a receita para combater o que o senhor qualifica de políticas para promoção da desigualdade?
Stiglitz: Não existe uma bala de prata. É uma agenda abrangente, que chamo de “Reescrevendo as Regras”, na qual incluo a introdução da equidade tributária, de forma que o capital pague imposto, que os que estão no topo paguem uma porcentagem de impostos que seja pelo menos tão alta quanto aqueles que não são tão ricos; empreender mudanças na governança corporativa, nas leis antitruste, limitar os monopólios, mudar as regras da globalização, fortalecer os sindicatos e melhorar nosso sistema educacional.
Valor: Aumentar os impostos sobre os mais ricos não poderia causar uma fuga de capital, como argumentam alguns economistas neoclássicos? Não há perigo de os empreendedores evitarem investir nos EUA?
Stiglitz: Começamos um experimento em 1980 no qual reduzimos as regras e as alíquotas cobradas dos mais ricos. O que aconteceu foi uma desaceleração do crescimento e a desigualdade aumentou. Se olharmos para o experimento do governo Reagan, foi um desastre. E o experimento continuou durante os governos Clinton [do qual Stiglitz foi presidente do Conselho Econômico] e Bush. O problema é que a maneira como escrevemos as regras da globalização facilitou que indivíduos e corporações fugissem da taxação. Esse é o problema do imposto progressivo. Se olharmos para os EUA, temos clara vantagem nesse sentido: os americanos pagam imposto em qualquer lugar do mundo, não importa de onde venha. Se decidem ir para outro país, pagam impostos da mesma maneira, não há como fugir, a não ser que abdiquem da cidadania americana. Nesse caso, há um imposto para indivíduos que abdicam da cidadania. No âmbito das empresas, se quiséssemos, e é claro que essa é uma questão política, poderíamos instituir um imposto global para as empresas, porque nenhuma empresa vai dizer: “Não vamos vender para os americanos porque o imposto é alto demais”.
Valor: Os EUA ainda têm o poder de negociar.
Stiglitz: Não só de negociar, mas também de dizer: “Se vocês quiserem entrar no mercado americano, terão de pagar impostos sobre suas vendas para os americanos”. Os EUA estão em uma posição em que poderiam impor um imposto mínimo mundial e extrair uma fatia de todo o lucro mundial. Acho que o argumento [dos neoclássicos] não tem validade alguma para os EUA. Para os países menores, há um problema. É por isso que muitos de nós acreditamos que precisa haver um acordo tributário mundial, para que não haja a corrida para o imposto mais baixo entre os países em desenvolvimento. [Stiglitz integra um grupo de economistas que discute uma significativa reforma no sistema tributário global das corporações. Ele alega que algumas multinacionais são conhecidas por transferir seus lucros e rendimentos para subsidiárias para se beneficiar de impostos mais baixos em certos países].
Valor: O senhor é próximo da senadora Hillary Clinton, pré-candidata democrata à Casa Branca. Acredita que, se eleita, ela vai seguir a agenda de crescimento e prosperidade compartilhada que o senhor menciona no documento “Reescrevendo as Regras”?
Stiglitz: Acho que sim. Sou muito otimista. Ninguém quer ser eleito presidente para fracassar [risos]. Infelizmente, os EUA estão numa encruzilhada. Não sei quais são os dados exatos, mas a renda dos 90% menos ricos dos EUA não registra um crescimento significativo há um terço de século. Qualquer presidente que não consiga fazer aumentar a renda para a classe média entrará para a história como um fracassado. Já ficou claro que o sistema atual não funciona, não só para os pobres. Falo da maioria dos nossos cidadãos. Os americanos percebem cada vez mais que perdemos a classe média. Os EUA foram a primeira sociedade de classe média, mas estamos prestes a nos tornar o primeiro país com uma sociedade de classe média que deixará de ser de classe média. A obrigação de qualquer presidente é, pelo menos, lutar para assegurar que os pré- requisitos para o estilo de vida da classe média estejam acessíveis para a maioria dos cidadãos. Para isso será preciso reescrever as regras, modificar as políticas nessa direção que indico. Creio que a maioria dos assessores de Hillary concorda. Em qualquer área relacionada à política, sempre haverá divergências. Não quero afirmar que existe unanimidade nesse sentido. Ainda há pessoas no Partido Democrata muito próximas de Hillary que tentam defender os abusos de Wall Street, mas ela tem sido muito forte em seu discurso e sua crítica a Wall Street e o setor financeiro. Já deu uma indicação com relação a essa área.
Valor: Novo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), lançado na semana passada, diz que a distância entre ricos e pobres está crescendo em muitos países. O senhor acredita que as medidas que sugere para a economia dos EUA também poderiam funcionar em outros países que enfrentam esse problema da desigualdade?
Stiglitz: Sim, acredito nisso, muito mesmo. Diria, e isto é visível nos dados, que os países que seguiram a política americana foram os países que tiveram o pior desempenho. Há uma clara ligação entre nossa política – a política americana, que ajudou a gerar desigualdade e problemas como a globalização – e aqueles, como os países escandinavos, que trabalharam para conter o aumento da desigualdade. Suécia, Finlândia e Noruega conseguiram crescimento na renda per capita igual ou mais rápido do que os EUA, e com muito maior igualdade.
Valor: O senhor critica aspectos de “O Capital no Século XXI”, best-seller mundial sobre desigualdade do economista francês Thomas Piketty. Enquanto ele aponta ser a desigualdade inerente ao capitalismo, o senhor diz que as regras do mercado é que precisam mudar…
Stiglitz: Para Piketty, a principal causa do aumento da desigualdade está associado aos fundamentos do sistema capitalista e seu processo de acumulação da riqueza. Para mim, a principal causa reside nas políticas que em muitos casos traem a economia de mercado, pois contrariam o que poderia se chamar de regras básicas de mercado. Se fizéssemos os mercados agirem como mercados, teríamos menos desigualdade. O problema real é que temos mercados distorcidos, em parte por motivos políticos. Na verdade, grande parte do suposto aumento na riqueza econômica não vem da poupança das pessoas, mas dos ganhos de capital gerados, por exemplo, pelo QE [afrouxamento quantitativo], por baixas taxas de juros que causam bolhas nos preços de ativos, e isso deixa os muito ricos mais ricos.
Valor: Qual será o impacto do aumento da taxa de juros americana, pela primeira vez desde 2006, sobre a economia mundial e a de emergentes como o Brasil?
Stiglitz: O aumento da taxa de juros é o retorno a uma economia mais normal, porque uma economia com taxa de juros zero não é normal. A mudança em si é como quando reduzimos a taxa de juros pela primeira vez: foi muito difícil para o Brasil e muitos outros países, porque entrou muito dinheiro nessas economias, o que causou muita instabilidade. O movimento inverso pode causar instabilidade, mas há diferenças. A primeira é que o aviso foi dado com tanta antecedência que os mercados já tiveram tempo para se ajustar. Em segundo lugar, muitos dos países que implementaram políticas para resistir ao grande fluxo de entrada de dinheiro em 2010 e 2011 têm um conjunto de instrumentos adicional, que é o de simplesmente inverter essas políticas. Eles já tentaram resistir ao fluxo de dinheiro entrando e agora, na verdade, esse não será o principal problema que enfrentarão.
Valor: O ex-secretário do Tesouro dos EUA Lawrence Summers tem dito que o maior debate no mundo econômico é se as economias avançadas, como os EUA, a União Europeia ou o Japão, estão fadadas à estagnação secular. O senhor, no entanto, não concorda. Por quê?
Stiglitz: Acho que há duas partes nesse debate e acho que isso provoca muita confusão. Uma delas não é uma questão a ser debatida, porque já sabemos a resposta. No momento, há a questão da demanda agregada global. Na Europa há um grave problema de austeridade; nos EUA, temos uma forma mais branda de austeridade. A austeridade está impedindo nossas economias de alcançar o pleno emprego. Não se trata de um problema de inevitabilidade, mas de política econômica. Temos estagnação, mas a previ em meu livro de 2010. Não é nada de novo: é o que prevíamos caso não estimulássemos nossa economia o suficiente – e não a estimulamos, principalmente nos governos republicanos, mas até Obama teve sua parcela de culpa. A segunda parte é uma questão um pouco diferente, para a qual não há como sabermos a resposta. Tem a ver com inovação. Tivemos grandes ondas, grandes inovações, como a eletricidade e o computador. O ponto é: teremos inovações parecidas nos próximos 10, 20, 30, 40 anos? A natureza da inovação é que ela não pode ser prevista [Risos]. Se soubéssemos, já existiria. Continuamos inovando, mas estou preocupado, porque não estamos investindo tanto em pesquisa básica. Há boas razões para a inovação desacelerar, mas não é inevitável. Alguns economistas acreditam que estamos inovando tanto quanto no passado e outros acham que as grandes inovações estão no passado.
Valor: Há algumas semanas o senhor esteve tanto com o ministro das Finanças da Alemanha quanto com o da Grécia. Como avalia a evolução da crise grega?
Stiglitz: Quando a crise começou, minha posição era de que seria melhor para a Europa se encontrassem uma maneira de fazer o que chamo de concluir a agenda. A zona do euro era um projeto econômico incompleto: havia um projeto político, mas não haviam criado as instituições para fazê- lo funcionar. Em 2010, em vez de consertar as instituições, criaram um novo problema: a austeridade. Muitas outras pessoas e eu previmos que a política de austeridade seria um desastre. E foi. Todas as previsões da “troika” [União Europeia, Banco Central Europeu e FMI] estavam erradas. A parte econômica estava ruim. A Grécia diz que a “troika” acabou com o país e está absolutamente certa. O interessante é que quase nada do dinheiro que se diz ter sido dado à Grécia foi, de fato, dado à Grécia.
Valor: O dinheiro foi usado para pagar a dívida com os credores…
Stiglitz: Para pagar os credores europeus. Estavam pagando dinheiro a bancos europeus – em alguns casos, bancos americanos, mas estavam principalmente pagando dinheiro de dívida aos credores – e nada daquele dinheiro estava entrando nos bolsos dos gregos. Nesse meio tempo, os gregos estavam sofrendo por causa dessa política equivocada de austeridade. Desde o início, em 2010, pensei que a Grécia deveria simplesmente ter dado o calote na dívida. O dinheiro todo foi da Europa para a Europa. Os governos assumiram as dívidas dos credores privados, resgataram os credores privados, como ocorreu em todos os outros resgates, como aconteceu no resgate brasileiro de 1998. Os emergentes sabem que esses resgates não foram resgates do país, foram resgates dos bancos credores ocidentais. É verdade que a Grécia precisa de uma reforma, mas o problema real e fundamental é que a zona do euro precisa de uma reforma.
Valor: Qual seria o cenário caso a Grécia tenha de sair da zona do euro?
Stiglitz: É algo arriscado para a Europa agora e será ainda mais arriscado no futuro, porque significa que não há mais compromisso com a política da zona do euro. Se outro país tiver algum problema, a questão será se deve sair ou ficar e se receberá ajuda ou não. Se a Grécia tiver êxito, isso dará muito combustível para que outros digam: “A moeda única foi uma má ideia”. Acho que é uma estratégia muito arriscada, que prejudica a solidariedade e, em última instância, acho que ninguém quer ver um país do sudeste europeu abandonado à própria sorte. Há questões geopolíticas.
Valor: O primeiro-ministro grego, Aléxis Tsípras, por exemplo, reuniuse com o presidente Vladimir Putin, da Rússia…
Stiglitz: Ninguém sabe o que vai acontecer hoje ou daqui a seis meses. Mesmo que a Rússia não ofereça auxílio hoje, ou que forneça auxílio em seis meses, a Europa precisa de solidariedade nas sanções. Será que a Europa vai dizer: “A Grécia não pode ser membro da União Europeia” e vai expulsar a Grécia? E se a Grécia apoiar a Rússia? Não há procedimentos na União Europeia para a expulsão de um país.
Valor: O Brasil atravessa uma fase difícil: baixo crescimento do PIB, taxa de desemprego em expansão e o governo realiza um ajuste fiscal muito severo e aumenta as taxas básicas de juros, porque a inflação está alta. São medidas inevitáveis?
Stiglitz: Em primeiro lugar, acho que, em termos gerais, a austeridade não funciona [Risos]. O Brasil tem um problema específico em seu setor financeiro, que é muito fragmentado. Algumas pessoas têm acesso a uma taxa de juros e outros a outras…
Valor: O senhor se refere ao BNDES, que oferece taxas melhores para seus financiamentos?
Stiglitz: Algumas pessoas têm acesso ao BNDES e outras não têm, portanto, têm de ir a outros bancos, que cobram taxas de juros altíssimas, que estão entre as mais altas do mundo. O Brasil precisa é de uma reforma fundamental em seu setor financeiro. Vocês têm uma das taxas reais de juros mais altas do mundo. Não é de surpreender que isso esteja afugentando os investidores. Todas essas questões são históricas, mas acho que qualquer um que olhasse para o sistema financeiro brasileiro, com suas taxas de juros reais altíssimas, diria: “Não surpreende que vocês não conseguem crescer”. É preciso pensar como reformar o setor financeiro do Brasil para que funcione melhor. Não há razão para o Brasil não crescer e, principalmente, para haver um aumento no desemprego. Vocês têm excesso de capacidade em determinadas áreas, mas a questão é o que está gerando inflação e quais são os gargalos e como solucioná-los.
Valor: Como o novo modelo de crescimento da China, mais concentrado no aumento do consumo interno, pode afetar emergentes como o Brasil, que exporta bilhões de dólares aos chineses?
Stiglitz: O crescimento chinês tem sido o motor do crescimento do mundo, e uma das grandes preocupações é com o fato de que, desde que a China passou a ser o motor do crescimento do mundo, quando ela desacelera, o mundo desacelera. A desaceleração da China está tendo um impacto importante em todo o mundo. Há uma lição importante nisso para o Brasil. O país se vê como fonte de matéria-prima, de soja, minério de ferro. Acho que o Brasil deve pensar na China como um gigantesco mercado consumidor, como você disse, e começar a exportar produtos com base em sua tecnologia de aviação, biocombustíveis, etanol. O Brasil deve fortalecer suas relações em pé de igualdade, não com base no tipo de exploração que marcou seu passado.
Valor: No ano passado, quando os Brics criaram o novo Banco de Desenvolvimento, o senhor se mostrou otimista com a força geopolítica da iniciativa e disse que era uma boa alternativa para a China, em virtude das gigantescas reservas monetárias que o país tem…
Stiglitz: O banco teve um papel importante na mudança da arquitetura geopolítica e financeira mundial, de duas maneiras. Mostrou que os Brics podem se juntar e fazer algo como um todo, já que os EUA e a Europa estavam afundados em seus problemas. É hora de os emergentes fazerem seu trabalho e crescer. A cooperação Sul-Sul é o caminho do futuro, principalmente levando em conta que os EUA não conseguirão exercer liderança pela via da parceria democrática enquanto os republicanos continuarem agindo como agem. Não estão comprometidos com o fortalecimento das instituições globais. Em segundo lugar, o banco possibilitou que a China criasse o Banco Asiático de Infraestrutura, que terá forte impacto na Ásia, em particular.
Fonte: Valor Econômico