Fórum de Guadalajara 2014 debate os efeitos do neoliberalismo na América Latina

Evento realizado em parceria com a CSB discutiu também a importância do fortalecimento do movimento sindical

A 2ª edição do Fórum de Guadalajara aconteceu no México, entre os dias 20 e 23 de outubro. O evento teve como tema “As bases para uma nova ordem mundial: a política como forma superior de caridade”. O encontro foi promovido pela Federação Revolucionária de Obreros e Campesinos do Estado de Jalisco (FROC-Jalisco), Confederação Revolucionaria de Trabalhadores Obreros e Campesinos Guadalajara (CROC) e pelo Movimento de Solidariedade Ibero Americana (MSIa) em parceria com a CSB.

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O fórum reuniu filósofos, políticos, economistas, sociólogos e sindicalistas para debater perspectivas e encontrar soluções para o processo de globalização e o efeito permanente das violações do direito internacional pelas potências hegemônicas. Os debates também trataram das ameaças à dignidade do trabalho humano, a crise financeira e a necessidade de novas regras éticas para um sistema econômico justo. Compareceram ao encontro sindicalistas do Brasil, México, Itália, Alemanha, Argentina, Camarões e Rússia.

O vice-presidente da CSB, Luiz Sergio Lopes, explicou que a participação no evento é fundamental para Imagem17melhorar a visão ideológica dos dirigentes sindicais. Para ele, unir as lideranças e estimular sua visão participativa são os princípios do encontro.“Nesses eventos formam-se as sementes da luta e da vontade de um mundo mais igual. Temos que ter consciência de que o capitalismo visa apenas a exploração do trabalho e o aumento das desigualdades, por isso é necessário que se pense em uma nova forma de governar”, afirmou.

Para Paulo Roberto de Oliveira, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo (Sindpd-SP), o encontro contribui para o fortalecimento e criação de políticas nacionalistas. “Este fórum nos permite ouvir o que os mexicanos têm a nos dizer sobre a sua realidade. E diante desta perspectiva da opressão do neoliberalismo, a troca de experiências é essencial para o mundo do trabalho e para unir as organizações sindicais de Brasil e México. Os governos latino-americanos precisam atuar em conjunto para o fortalecimento das economias e no combate ao imperialismo”, disse o dirigente.

Debates A abertura do fórum foi realizada por Luiz Sergio Lopes, Antonio Alvarez Sparza, secretário-geral da FROC, e, pelo cardeal primaz da cidade de Guadalajara. No primeiro dia do evento, foi apresentado para os participantes o painel “2014 – Ano de Crise: que lições podemos aprender das última guerras mundiais”.

No segundo dia, foi apresentado o painel brasileiro, focado no neoliberalismo e os trabalhadores. O vice-presidente da CSB fez uma exposição expondo toda a história do neoliberalismo no Brasil, bem como suas nefastas consequências para a população brasileira.

Lopes articulou sua explanação na possibilidade de intensificar o intercâmbio entre as entidades sindicais mexicanas e brasileiras para que o Brasil transmita a sua expertise no que diz respeito à luta contra as propostas que destroem os direitos dos trabalhadores. O dirigente enfatizou, ainda, a necessidade de os próprios mexicanos lutarem contra a opressão aos trabalhadores, como o Brasil tem feito constantemente em relação à pressão permanente para eliminar direitos e ganhos sociais. “Devemos lutar para que o governo brasileiro faça um equilíbrio entre o capital e o trabalho. Estamos sempre reagindo por meio do movimento sindical para evitar a desnacionalização da economia e garantir os direitos. Temos pela frente uma grande luta, um exercício de cidadania. É o povo que tem de conter esses desmandos, a força do Brasil está no seu povo. É necessário que sejam criadas leis que dificultem a importação de produtos que competem com os nacionais de forma desigual, só assim iremos fortalecer a economia brasileira”, concluiu.

Antonio Randolfo , secretário para Assuntos de Saúde, Segurança e Medicina do Trabalho do Sindpd, concorda com a coalizão de forças para a superação frente ao neoliberalismo e à globalização. Ele criticou a indústria predatória presente no Brasil, na qual a maioria dos eletrônicos, roupas e autopeças são importadas. “É fundamental encontrarmos um caminho de unidade para fortalecer a nossa economia e reindustrializar o Brasil no novo padrão tecnológico. Não podemos mais assistir a esse processo de destruição da nossa economia”, criticou.

Segundo Antonio Jorge Gomes, vice-presidente Sindicato dos Profissionais Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado do Rio de Janeiro (SINTEC-RJ) e da CSB, é muito importante também repensar a questão da exploração da mão de obra. “O neoliberalismo contribuiu para a perpetuação da precarização do trabalho. No Brasil, ainda existem fazendas com trabalhadores escravos, as mulheres continuam sendo tratadas de forma desigual e com salários menores. Não podemos nos esquecer da indústria chinesa, que se beneficia diretamente exploração da mão de obra escrava, por isso conseguem conquistar mercados com valores muito abaixo. Assim, a economia de muitos países tem sido devastada. Brasil e México precisam se unir em devesa no mercado latino-americano”, disse .

Para Ademir Francisco, secretário de relações sindicais do Sindpd, defender o trabalho, as organizações sindicais e os direitos adquiridos é defender a própria nacionalidade no combate ao liberalismo econômico. “Não existe nacionalidade se não defendermos o trabalho humano, suas organizações e direitos adquiridos. Sem isso, a nação desaba”, afirma.

De acordo com Edmilson Antonio de Assis, secretário da CSB, os mais atingidos pela crise global foram os trabalhadores, que tiveram seus direitos restringidos com a famigerada flexibilização ocorrida em muitos países. “A crise de 2008, da qual ainda estamos sofrendo as consequências, foi fruto do capitalismo predatório que tem como objetivo aumentar as desigualdades sociais. Muitos governos se preocuparam em salvar empresas que não se preocuparam em manter os empregos. Isso precisa mudar. É necessário que a prioridade seja os trabalhadores e a sociedade”, avaliou.

O painel de encerramento do fórum teve como tema “Legislação laboral, flexibilização e ações sindicais”. O expositor foi Igor Tiago Pereira, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Itatiba e Região. Os comentários ficaram a cargo de Marcelo Gonçalves, secretário nacional da juventude da CSB. “Tive a oportunidade de falar para uma plateia de centenas de jovens mexicanos e apresentei para eles os desafios que a juventude brasileira sofreu na década de 90 no enfrentamento com o liberalismo. Nós conseguimos mudar aquele cenário, por isso os jovens do México precisam se levantar contra os desmandos do capital e se unirem ao movimento sindical”, contou Igor Tiago.

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