Juros altos no Brasil – Centenas de economistas lançaram um manifesto criticando os juros altos no Brasil e defendendo a redução na taxa básica de juros, a Selic, fixada pelo Banco Central (BC).
Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano. Com um inflação acumulada em 2022 de 5,79%, o Brasil tem o maior juro real do mundo.
A questão tornou-se alvo de um embate entre o presidente Lula (PT) e o BC, na figura de seu presidente, Roberto Campos Neto, nas últimas semanas.
“A taxa de juros no Brasil tem sido mantida exageradamente elevada pelo Banco Central e está hoje em níveis inaceitáveis. O discurso oficial em sua defesa não encontra nenhuma justificativa, seja no cenário internacional ou na teoria econômica, e o debate precisa ser arejado pela experiência internacional”, diz o manifesto.
O texto foi publicado como um abaixo-assinado em uma plataforma virtual e, até o momento, obteve quase 5 mil assinaturas. (assine aqui)
O texto é liderado por figuras renomadas da economia brasileira, como:
- Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda;
- Antonio Corrêa de Lacerda, economista e ex-presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia);
- Nelson Marconi, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e coordenador do programa econômico de Ciro Gomes (PDT), em 2022;
- Monica de Bolle, professora adjunta da Universidade Johns Hopkins;
- Leda Paulani, professora da faculdade de Economia da USP (Universidade de São Paulo);
- Luciano Galvão Coutinho, ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Consequência dos juros altos no Brasil
O manifesto critica a recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter o patamar elevado da Selic pela quinta vez consecutiva. Segundo o texto, os juros altos no Brasil levam a um “estrangulamento das atividades produtivas e criadoras”.
“Nenhum dos países dotados de recursos e economias estruturadas possui uma taxa de juros sequer próxima da que prevalece no Brasil e que o Banco Central pretende manter por longo período”, diz o manifesto. “E todos esses países reconheceram o caráter excepcionalíssimo do surto inflacionário recente, explicado pela pandemia e pelo conflito bélico [na Ucrânia], não por excesso de demanda”, completa.
O grupo sugere que a política monetária esteja orientada, além de controlar a inflação, pelos objetivos de extinguir a pobreza e reduzir desigualdades, além de cumprir metas de sustentabilidade e preservação da natureza.
Um dos argumentos mobilizados é que um cenário de desemprego e recessão econômica pode dar “substrato para a emergência do fascismo, do militarismo, da xenofobia e do ataque a minorias” no país.
“Uma governança econômica que seja capaz de debelar o atual estado de estagnação e crise não é somente importante para a melhora das condições de vida da população, mas é também essencial para que retomemos uma trajetória de construção democrática”, afirma o texto.
“Os economistas signatários deste manifesto declaram publicamente o apoio a uma política que seja capaz de reduzir substancialmente a taxa de juros, propiciando as condições para a retomada do desenvolvimento com estabilidade sustentável”, finaliza.
Leia o manifesto contra os juros altos no Brasil na íntegra:
“TAXA DE JUROS PARA A ESTABILIDADE DURADOURA. MANIFESTO DE ECONOMISTAS EM FAVOR DO DESENVOLVIMENTO DO BRASIL
A eleição de outubro renovou as esperanças de que o Brasil possa reencontrar os caminhos para a estabilidade política e um lugar respeitável no mundo. O Brasil precisa de paz e de perspectivas. O mundo precisa da estabilidade do Brasil.
O presidente Lula tem sabido enfrentar, desde 30 de outubro, alguns dos desafios mais sérios, a começar pela trama da contestação dos resultados das urnas e as arruaças promovidas pelos maus perdedores, bem como soube construir um orçamento viável para as emergências amplamente reconhecidas. O governo de amplo espectro mostra o compromisso com a inclusão e a governabilidade. Mas é preciso mais.
A superação dos desafios brasileiros só pode ser alcançada com uma nova política econômica, promotora de crescimento e prosperidade compartilhada. A razoabilidade da taxa de juros é uma condição indispensável para a normalidade econômica. Sem isso, os investimentos perderão para as aplicações financeiras e as remunerações do trabalho e da produção vão perder para a especulação.
A taxa de juros no Brasil tem sido mantida exageradamente elevada pelo Banco Central e está hoje em níveis inaceitáveis. O discurso oficial em sua defesa não encontra nenhuma justificativa, seja no cenário internacional ou na teoria econômica e o debate precisa ser arejado pela experiência internacional. Nenhum dos países dotados de recursos e economias estruturadas possui uma taxa de juros sequer próxima da que prevalece no Brasil e que o Banco Central pretende manter por longo período. E todos esses países reconheceram o caráter excepcionalíssimo do surto inflacionário recente, explicado pela pandemia e pelo conflito bélico, não por excesso de demanda.
O Brasil só poderá alcançar os objetivos da estabilidade econômica, política e institucional se juntos formos capazes de aumentar a produção e a produtividade, os empregos e os bons empregos, além dos serviços que são prestados à população e aos mais carentes. O estrangulamento das atividades produtivas e criadoras não é uma solução. As empresas precisam investir para aumentarem a produção e a qualidade e sustentabilidade dos seus produtos e o uso econômico da biodiversidade. As obras de infraestrutura precisam ser retomadas para proverem serviços com custos mais reduzidos para as empresas e as famílias. É no crescimento e no desenvolvimento que o Brasil pode superar as turbulências que nos afligiram.
A excepcionalidade do momento exige serenidade, mas isso não significa se conformar com caminhos estéreis. Precisamos recolher da experiência internacional os melhores ensinamentos e aplicá-los à nossa realidade. E na nossa realidade há hoje muito mais oportunidades de investimento e criação de novas riquezas do que na maior parte dos países.
O Brasil, sem as amarras de uma política monetária inadequada, poderá finalmente buscar os verdadeiros equilíbrios, aqueles que são a razão da política econômica: eliminação da pobreza, redução das desigualdades, preservação da natureza e sustentabilidade.
O momento é excepcional também pelo contexto político. A história mostra que o desemprego e a depressão econômica são substrato para a emergência do fascismo, do militarismo, da xenofobia e do ataque a minorias, avançando sobre as instituições democráticas. Uma governança econômica que seja capaz de debelar o atual estado de estagnação e crise não é somente importante para a melhora das condições de vida da população, mas é também essencial para que retomemos uma trajetória de construção democrática. Os economistas signatários deste manifesto declaram publicamente o apoio a uma política que seja capaz de reduzir substancialmente a taxa de juros, propiciando as condições para a retomada do desenvolvimento com estabilidade sustentável.”
Fonte: Brasil Independente