Segundo o economista, grupos estrangeiros estão dominando o mercado nacional
José Eduardo Cassiolato, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi um dos palestrantes mais aguardados do Seminário de Pauta 2013. O especialista abordou os prejuízos para o Brasil causados pela desnacionalização do setor de tecnologia, no segundo dia do evento (25).
Cassiolato abriu as discussões afirmando que grupos estrangeiros estão dominando o mercado nacional e impedindo o desenvolvimento do Brasil, uma vez que eles chegam com a tecnologia desenvolvida em seu país de origem e implantam aqui. O presidente do Sindpd, Antonio Neto, completou a afirmação do palestrante dizendo que “esses grupos veem os brasileiros somente como mão de obra para produtos primários e manufaturados, pois eles querem dominar o nosso mercado de software e computador”.
Para o economista, um dos principais problemas é a falta de políticas de investimentos no setor tecnológico brasileiro. Ele apresentou o exemplo do mercado chinês que está se fortalecendo a cada dia. O país não impede a chegada de empresas estrangeiras, desde que a tecnologia implantada pelas companhias seja repassada. “Quando a Embraer, uma das únicas empresas brasileiras que investe em pesquisas e desenvolvimento, chegou à China ela foi obrigada a repassar a tecnologia e ensiná-los a construir avião. Tempos depois, havia uma empresa chinesa que fazia o mesmo produto com a tecnologia brasileira. Isso não acontece aqui”, disse.
“Até agora não fomos capazes de fazer como os chineses e outros países. Precisamos de um projeto de levar o país pra frente. Queremos continuar importando quase 100% de computadores, ou vamos querer ter um papel mais ativo?”, indagou Cassiolato.
O especialista ainda fez uma análise do mercado mundial e garantiu que o caminho mais sensato não é dificultar a entrada das empresas internacionais, mas implantar ações com o objetivo de estimular e fortalecer área de desenvolvimento tecnológico. “Em todo lugar do mundo elas são importantes, mas quando negociam bem, com projetos e propostas dentro do país. A culpa em relação ao problema que vivemos hoje é nossa. A mesma IBM que faz uma série de coisas aqui, quando vai negociar com a China ela faz outro. Se ela faz lá, porque não pode fazer aqui? Infelizmente a política econômica nacional ainda é dissociada da política industrial”, concluiu.
Para o diretor do Sindpd, Antonio Randolfo, o tema da palestra é atual e de extrema importância para os dirigentes do sindicato. “A apresentação do Cassiolato foi muito oportuna para nossa área de TI, tão importante para o crescimento do país. No Brasil, um dos principais problemas que encontramos é a falta de investimento em ciência e tecnologia, que é de responsabilidade do Estado. Os países que cresceram e se desenvolveram sempre focaram nessa área”, disse Randolfo.
O palestrante:
José Eduardo Cassiolato é graduado em Economia, pela Universidade de São Paulo, concluiu mestrado no mesmo tema pela Universidade de Sussex. Doutor em Economia pela mesma instituição, é atualmente professor associado 3 da Universidade Federal do Rio de Janeiro, presidente do comitê científico da Rede Globelics – Global Research Network on the Economics of Learning, Innovation and Competence Building Systems – e professor convidado – Université de Rennes I. Com experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Industrial, atua principalmente nos seguintes temas: inovação, tecnologia, sistema de inovação, competitividade e indústria.
Fonte: Sindpd