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Desemprego sobe para 14,7% no 1º trimestre e atinge recorde de 14,8 milhões de brasileiros

Desemprego sobe para 14,7% no 1º trimestre e atinge recorde de 14,8 milhões de brasileiros

É a maior taxa e o maior contingente de desocupados já registrado pela série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Número de subutilizados chegou a 33,2 milhões e também atingiu nova máxima. Os chamados ‘desalentados’, que não são computados no número de desempregados, somaram 6 milhões.

O desemprego no Brasil atingiu a taxa recorde de 14,7% no 1º trimestre de 2021, em meio aos desafios impostos pela piora da pandemia no país, segundo divulgou nesta quinta-feira (27) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de desempregados também bateu um novo recorde, chegando a 14,8, milhões de pessoas.

“É a maior taxa e o maior contingente de desocupados de todos os trimestres da série histórica, iniciada em 2012”, informou o IBGE.

O resultado representa uma alta de 6,3%, ou de mais 880 mil pessoas na fila por uma vaga de trabalho no país, na comparação com 4º trimestre de 2020. Em 1 ano, 1,956 milhão de pessoas entraram nas estatísticas do desemprego.

Taxa de desemprego no trimestre terminado em março é a maior desde 2012 — Foto: Economia/G1

Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). No levantamento anterior, referente ao trimestre encerrado em fevereiro, a taxa de desemprego estava em 14,4%, atingindo 14,4 milhões de brasileiros – número recorde até então.

Apesar dos novos recordes negativos, o resultado veio dentro do esperado. A mediana das previsões em pesquisa da Reuters era de que a taxa ficaria em 14,7% no trimestre encerrado em março.

O primeiro trimestre de cada ano, como a gente já viu em outros anos, é um período de aumento da desocupação. Ou seja, não é um movimento específico deste ano, mas um comportamento relativamente esperado para este trimestre do ano. Mas, essa sazonalidade pode estar sendo aumentada pelos efeitos de 2020 sobre o mercado de trabalho”, avaliou a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.

Número de desempregados ao final do primeiro trimestre de 2021 é o maior desde 2012 — Foto: Economia/G1

Desalento atinge recorde

A população desalentada (quem desistiu de procurar uma oportunidade no mercado de trabalho) também atingiu patamar recorde, reunindo 6 milhões de pessoas, crescendo 25,1% ante o mesmo período de 2020. O percentual de desalentados na força de trabalho foi de 5,6%.

Ou seja, a taxa de desemprego só não é ainda maior no país porque muitos brasileiros desistiram de procurar uma ocupação.

Vale destacar que o IBGE considera como desempregado apenas o trabalhador que efetivamente procurou emprego nos últimos 30 dias anteriores à realização da pesquisa.

Somente o setor público e o trabalho familiar registrou aumento no número de ocupados — Foto: Economia/G1

Veja outros destaques da pesquisa:

  • Em três meses, número de desempregados aumentou em 880 mil pessoas;
  • População ocupada (85,7 milhões) ficou estável na comparação com o 4º trimestre, mas nível de ocupação recuou para 48,4%, contra 54,5% em igual trimestre do ano anterior. Ou seja, menos da metade das pessoas em idade de trabalhar estão ocupadas;
  • Em 1 ano, houve redução de 6,6 milhões de postos de trabalho no país;
  • Somente a categoria dos trabalhadores por conta própria cresceu (um acréscimo de 565 mil em 3 meses);
  • Número de empregados com carteira de trabalho assinada ficou estável frente ao trimestre anterior, mas caiu 10,7% (menos 3,5 milhões de pessoas) em 1 ano;
  • Número de empregados sem carteira assinada recuou 2,9% em 3 meses (menos 294 mil); Número de empregadores com CNPJ (3,095 milhões) é o menor da série, caindo 13,7% (menos 489 mil pessoas) na comparação anual;
  • Informalidade ficou estável (39,6%), com 34 milhões de pessoas;
  • Desemprego entre as mulheres atingiu recorde de 17,9%, enquanto que entre os homens a taxa foi de 12,2%;
  • Desemprego é mais alto para as pessoas com ensino médio incompleto (24,4%). Para brasileiros com nível superior completo foi de apenas 8,3%;
  • Entre os jovens de 18 a 24 anos, a taxa de desemprego (31%) foi bem mais alta do que a média nacional (14,7%).
  • Massa de rendimento real ficou estável em R$ 212,5 bilhões ante o trimestre móvel anterior, mas caiu 6,7% na comparação interanual (menos R$ 15,2 bilhões); já o rendimento médio ficou em R$ 2.544, contra R$ 2.566 no 4º trimestre de 2020.

“Como a gente vinha observando anteriormente, grande parte do avanço da ocupação vinha do crescimento da informalidade, o que não ocorreu neste trimestre. A taxa de informalidade ficou estável na comparação com o 4º trimestre de 2020, o que pode ajudar a explicar a estabilidade da ocupação”, destacou a pesquisadora.

Falta trabalho para 33,2 milhões

contingente de pessoas subutilizadas no país chegou a 33,2 milhões e também atingiu o recorde da série, com aumento de 3,7% (mais 1,2 milhão de pessoas) frente ao trimestre móvel anterior e de 20,2% (mais 5,6 milhões) na comparação anual. Já a taxa de subutilização ficou em 29,7%, contra 28,7% no trimestre anterior. Há 1 ano, estava em 24,4%.

O contingente classificado pelo IBGE como trabalhadores subutilizados reúne, além dos desempregados, os desalentados, aqueles que estão subocupados (trabalham menos de 40 horas semanais), e os que poderiam estar ocupados, mas não trabalham por motivos diversos.

No 1º trimestre, estavam nessa condição:

  • 14,8 milhões de desempregados: pessoas que não trabalham, mas procuraram empregos nos últimos 30 dias (no 1º trimestre, eram 13,7 milhões);
  • 7 milhões de subocupados: pessoas que trabalham menos de 40 horas por semana, mas gostariam de trabalhar mais;
  • 11,4 milhões de pessoas que poderiam trabalhar, mas não trabalham (força de trabalho potencial): grupo que inclui 6 milhões de desalentados (que desistiram de procurar emprego) e outras 5,4 milhões que podem trabalhar, mas que não têm disponibilidade por algum motivo, como mulheres que deixam o emprego para cuidar os filhos.

Comércio é setor que mais perdeu vagas

Na análise por grupamento de atividade, o comércio é o que mais perdeu postos de trabalho na comparação com o 1º trimestre de 2020: queda de 9,4%, ou menos 1,6 milhão de pessoas. A única alta foi em Agricultura (4% ou mais 329 mil pessoas). Veja no gráfico abaixo:

Comércio foi o setor com o maior número de fechamento de vagas em 1 ano. — Foto: Economia/G1

Na quarta-feira, o Ministério a Economia divulgou que a economia brasileira gerou 120.935 empregos com carteira assinada em abril, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Esse foi o menor saldo positivo mensal registrado em 2021.

Economistas avaliam que uma melhora no mercado de trabalho só deverá ser mais visível a partir o segundo semestre, e condicionada ao avanço da vacinação e uma recuperação mais firme do setor de serviços – o que mais emprega no país e o mais afetados pelas medidas de restrição para conter o avanço do coronavírus.

Para Rodolfo Morgato, economista da XP, a população ocupada só deverá retornar aos níveis pré-pandemia ao final de 2022.

“Esperamos que os indicadores de mercado de trabalho acompanhados pela PNAD exibam sinais de melhoria consistente – embora a um ritmo moderado – ao longo dos próximos meses, partindo da premissa (fundamental) de que o processo de reabertura econômica não sofrerá revezes significativos no curto prazo”, avaliou.

Fonte: G1