Reunião, que aconteceu na sede da CSB, traçou os próximos passos das ações do GT
Em reunião realizada na sede da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) na manhã desta quarta-feira (23), centrais sindicais, Ministério do Trabalho (MTE) e outras entidades, entre elas o Intercâmbio, Informações, Estudo e Pesquisa (IIEP), retomaram as atividades do Grupo de Trabalho (GT) da Comissão da Verdade. Na ocasião, Antonio Artequilino, do MTE, foi apresentado como o novo coordenador do grupo, e foram estabelecidos os próximos passos para concretizar o levantamento das intervenções nas entidades sindicais, a localização, pesquisas e sistematização da documentação das assessorias de segurança do Ministério do Trabalho. O GT, que voltou após pedido do Secretário das Relações do Trabalho do MTE, Carlos Lacerda, terá um ano para finalizar os estudos.
Além de indicar dois representantes, um titular e um suplente, as centrais farão a indicação de um técnico (pesquisador) e de um representante do meio acadêmico para ajudar nos trabalhos.
A próxima reunião do GT acontece no dia 8 de dezembro, no Ministério do Trabalho, em Brasília. Nessa data, além das questões técnicas, será feito um cronograma das próximas atividades. Estão previstos encontros bimestrais e também reuniões públicas em outras regiões do País.
Depois de alguns meses em inatividade, a volta do GT da Comissão da Verdade mostra que a proposta inicial da Comissão não morreu e que o resultado é importante para o atual momento vivido pelo Brasil.
“Criamos esse grupo em abril para levantar todas as informações das intervenções que o governo fez de 1946 até 1985, e ele esteve um tempo sem funcionar. Agora o MTE atendeu a um pedido das centrais e resolveu retomar os trabalhos. Já marcamos o próximo encontro e vamos, durante o ano de 2017, trabalhar com os técnicos do MTE, das centrais e do Arquivo Nacional, além dos acadêmicos, para que seja revelada toda a verdade escondida atrás de caixas de documentos e diários oficiais. Essa verdade que interessa tanto aos trabalhadores e historiadores também é importante para o atual momento do Brasil, porque pairam ameaças contra a liberdade de organização dos sindicatos. Nós queremos que esse GT seja uma trincheira em defesa da liberdade conquistada com a Constituição de 1988”, disse Alvaro Egea, secretário-geral da CSB, que ressaltou a importância da centrais nesta iniciativa.
“O papel das centrais é estratégico. Sabemos que as recomendações da Comissão da Verdade são importantes, mas se não tiver uma força política, como as centrais sindicais cobrando iniciativas do Estado, elas não acontecem. As centrais são as representantes políticas dos trabalhadores, e elas estão de parabéns pela iniciativa unitária”, completou Egea.
Lúcio Bellentani é o presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados do Brasil, e na década de 1970 foi preso, passou por diversas sessões de torturas, com direito a palmatórias, pau de arara, choque elétrico e chegou a ser arrastado em um veículo amarrado pelas mãos. Com esse histórico, o sindicalista se mostrou satisfeito com o rumo que o GT tomou, e acredita que esses 12 meses de trabalho podem ser estendidos.
“A reunião foi bem produtiva e bastante objetiva, conseguimos o comprometimento real do Ministério do Trabalho para o prosseguimento desse grupo. Antes, não havia esse comprometimento, não havia essa participação, estávamos órfãos, sem saber o que fazer. Precisávamos de um prazo para agilizar os trabalhos, precisamos estipular alguns períodos, algumas etapas. Mas, se houver necessidade de um esticamento desse prazo, não vejo problema”, esclareceu Bellentani.
Líder sindical desde os 16 anos, Raphael Martinelli, que foi torturado e perseguido pela ditadura, sofreu na pele todas essas intervenções feitas pelo regime militar. Hoje, com mais de nove décadas de vivência, o atuante sindicalista se sente esperançoso com a retomada do GT de uma maneira unitária.
“Estamos vendo as centrais sindicais juntas nessa luta com o Ministério do Trabalho, e isso é muito importante. Esse trabalho de unidade dos trabalhadores sempre foi a minha luta na vida sindical e é fundamental. Esse estudo será um histórico para nós, trabalhadores, vamos mostrar o que foi a ditadura e o que ela fez. Esse estudo vai mostrar também quem eram os espiões dentro dos sindicatos, mostrar os pelegos, os canalhas, e todas essas informações estão nos arquivos das intervenções. Eu espero que, em 2017, a gente esclareça tudo. A volta do GT é uma vitória, e estamos todos de parabéns”, explicou Martinelli.
Para o secretário do Fórum dos Trabalhadores da Verdade Justiça e Reparação, Sebastião Neto, as pesquisas seguirão duas linhas, e os resultados poderão ser mais sérios do que se imagina.
“Com essa retomada do GT entre as centrais sindicais e o MTE, tudo indica que poderemos fazer dois tipos de trabalhos: levantar os dados e informações sobre as intervenções e levantar a estrutura secreta das Delegacias Regionais do Trabalho (DRT). Esse é o caminho para saber como era a cooperação entre o exército, a polícia e as estruturas que deveriam defender os trabalhadores, mas que na verdadese voltavam contra eles. São coisas graves e sérias, e essa pesquisa pode resultar em um desvelamento da história. Ninguém sabe como foram essas intervenções, vamos começar esse trabalho, mas não sabemos nem o tamanho dele ainda”, falou.
Papel do Ministério
O Ministério do Trabalho, que será representado no grupo pelo seu Coordenador Geral de Relações do Trabalho, Antonio Artequilino, será o órgão com a incumbência de atender à recomendação da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e coordenar as atividades do GT.
“O MTE vai coordenar os trabalhos de maneira democrática e dialógica, envolvendo sempre os representantes das centrais e demais entidades, que nos ajudarão nesses trabalhos de investigação. Nós vamos organizar as reuniões de acordo com o cronograma que será estabelecido”, falou o coordenador Artequilino, que também é historiador.
“Não é possível compreender a situação atual, se não levarmos em conta o nosso passado. Precisamos compreender aqueles momentos difíceis em que estivemos à mercê de Estados de exceção, que promoveram grandes perseguições e abusos. É importante que esses fatos venham à tona para que não se repitam e para que as pessoas reflitam sobre as grandes possibilidades que temos para construir um novo modelo de sociedade”, finalizou Artequilino.