Central dos Sindicatos Brasileiros

Centrais sindicais debatem sobre os 36 anos da Lei da Anistia na Câmara

Centrais sindicais debatem sobre os 36 anos da Lei da Anistia na Câmara

Movimento sindical pede nova interpretação da lei e busca punição para  torturadores e empresas que financiaram a ditadura

A Comissão de Legislação Participativa promoveu, na quarta-feira, 26,  uma audiência pública para debater os 36 anos da Lei de Anistia (Lei 6.683/79). No encontro, o Fórum Trabalhadores e Trabalhadoras por Verdade, Justiça e Reparação, sindicatos e a Ordem dos Advogados Brasileiros pediram uma nova interpretação da Lei. A atual Lei de Anistia beneficia também os torturadores brasileiros. Por isso, o Fórum busca uma aplicação de uma nova interpretação. Com a mudança, será possível responsabilizar os militares e empresas responsáveis pelas perseguições e torturas contra os trabalhadores e opositores do regime militar.

Em 2010, oito meses depois que o Supremo Tribunal Federal  (STF) validou a Lei da Anistia, a Corte Interamericana determinou sua revisão, baseada no entendimento de que determinados atos ilícitos – como a tortura, morte e ocultação de cadáveres de adversários políticos – são considerados “crimes contra a humanidade”,  sendo, assim, imprescritíveis à luz do Direito Internacional.

Para o secretário-geral da Central dos Sindicatos Brasileiros, Alvaro Egea, a Lei precisa ser reinterpretada à luz do que entende a Corte Interamericana de Direitos Humanos. “Com a interpretação atual do STF, os torturadores e assassinos do período também foram anistiados.  A Lei de Anistia concedeu o perdão político a todos os presos, torturados e exilados durante o regime militar. A Corte Interamericana de Direitos Humanos já interpretou essa lei e diz que ela não se aplica aos agentes estatais que se envolveram com a repressão aos brasileiros que lutaram contra a ditadura”, afirmou.

Uma das alternativas de interpretação da Lei da Anistia, apresentada pelo Fórum, é a aprovação do Projeto de Lei 573/11 da deputada Luiza Erundina (PSB-SP) – que retira do texto da lei os agentes públicos, civis ou militares que cometeram crimes contra os opositores à ditadura militar. O PL aguarda votação na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados.

Egea explicou, ainda, que a CSB está realizando representações buscando uma reparação contra empresas públicas e privadas, ainda ativas no mercado brasileiro, que colaboraram com a ditadura e que permitiram que seus trabalhadores fossem torturados ou demitidos durante o período.

“A ditadura não teria sido implementada e se consolidado se não houvesse uma aliança entre os setores empresariais e os militares. Por isso, é absolutamente necessária a responsabilização dos civis colaboradores do golpe e da manutenção do regime militar. Assim como é necessário punir exemplarmente os agentes de Estado que torturaram, sequestraram, estupraram e mataram os presos políticos que estavam sob sua custodia”, disse Egea.

A reparação e responsabilização das empresas que contribuíram com o golpe militar faz parte do processo de democratização do País, explicou Egea. “Precisa haver esse processo de justiça de transição para que o Brasil se torne uma democracia completa. Ainda há muitos traços dos governos militares nas leis nacionais. A justiça de transição significa anistiar não só as vítimas, mas também fazer um levantamento da verdade e memória e punir os culpados. Enquanto isso não acontecer, o Brasil não será uma democracia completa”, avalia o dirigente.