Pela sobrevivência da categoria, taxistas do Rio fazem manifestação histórica

Mais de 10 mil trabalhadores tomaram as ruas da capital contra os aplicativos de transporte irregular de passageiros

Desde as primeiras horas desta quinta-feira (27), taxistas do Rio de Janeiro estiveram mobilizados nas ruas da capital fluminense para protestar contra os aplicativos de transporte particular de passageiros, como o Uber. As manifestações foram organizadas pelo Sindicato dos Taxistas Autônomos do Município do Rio de Janeiro (STAMRJ), entidade filiada à CSB, para condenar a operação dos aplicativos irregulares e o decreto que regulamenta o transporte com carros particulares. Cerca de 5 mil táxis amarelos participaram do ato, que contou com mais de 10 mil trabalhadores.

Os taxistas querem que o município descredencie os aplicativos 99 e Easy, uma vez que ambos operam a mesma plataforma para táxi e transporte particular; a prorrogação do prazo da vida útil dos veículos de seis para oito anos; fiscalização nos aplicativos que não possuem liminar para operar; posicionamento sobre o uso do taxímetro virtual; intensificação da fiscalização contra o estacionamento irregular nos arredores dos aeroportos Santos Dumont e Tom Jobim; fim do taxímetro virtual utilizado pelos aplicativos, que impõe a bandeira 1 em horários da bandeira 2, o que retira do taxista o direito ao seu adicional noturno; ação da prefeitura sobre a sonegação fiscal dos últimos 5 anos dos aplicativos e de seus motoristas.

Conforme definido em reunião entre o Sindicato e o Centro de Operações do município, as carreatas foram acompanhadas por batedores da Guarda Municipal e saíram de vários pontos da cidade em direção à prefeitura, na Cidade Nova, no Centro, passando pela Av. Brasil, Estrada do Galeão, Linha Vermelha, Av. Dom Hélder Câmara, Av. das Américas e Túnel Rebouças. Manifestações aconteceram em Copacabana, Barra da Tijuca, Del Castilho, Rodovia Presidente Dutra, Campo Grande, Realengo, Ilha do Governador, Tijuca e Irajá antes de os trabalhadores seguirem para a sede do governo municipal.

Dirigentes informavam a todo momento a população, em cima do carro de som, sobre as reivindicações da categoria, além de alertar sobre os riscos do transporte clandestino de passageiros feito pelos aplicativos não regulamentados. O Sambódromo, na região central da cidade, foi liberado para que os taxistas estacionassem os veículos durante a mobilização. A concentração dos taxistas aconteceu em frente à prefeitura para cobrar providências do prefeito Marcelo Crivella em relação às reivindicações da categoria.

Segundo Hildo Braga, diretor do Sindicato e vice-presidente da Seccional Rio de Janeiro da CSB, a categoria seguiu todas as diretrizes acertadas com a prefeitura na reunião de organização da manifestação.

“Foram cerca de 5 mil carros e nenhuma multa aplicada. Em todas as chegadas, as carreatas foram separadas de maneira organizada”, explica. As notícias que saíram na grande imprensa não refletem a realidade da mobilização, segundo Braga. O dirigente afirma que a Polícia Militar tentou impedir que os taxistas que já estavam na sede da prefeitura se deslocassem para receber os trabalhadores que chegavam nas carreatas.

“Quando um comboio que estava vindo de São João de Meriti foi anunciado pela organização do evento, fomos saudá-los. Nesse momento, surgiu alguém da Polícia Militar intervindo para que as pessoas não fossem ao encontro dos que chegavam. A PM, inflamada pelo volume de taxistas que estavam chegando, começou a jogar gás de pimenta em cima dos manifestantes”, afirmou o diretor do STAMRJ.

Ato histórico

O Sindicato tenta desde janeiro deste ano negociar com a prefeitura do Rio e com a Secretaria de Transportes as reivindicações da categoria. Hildo Braga ressalta que as manifestações do dia 27 foram a única alternativa após as recusas das instâncias municipais.

“Tem muitos taxistas que estão perdendo casa, que estão se matando por causa do que está acontecendo com a gente. Eu tenho 15 anos de praça. É muito pouco comparado aos senhores que eu vejo aí com 60, 70 anos trabalhando. É muito triste você encontrar um senhor de 60, 70 anos trabalhando 16 horas por dia para continuar sobrevivendo. Se esse prefeito não tomar uma solução e não acabar com esse sofrimento, ele vai acabar com mais famílias ainda”, disse o presidente da Seccional RJ.

Nesta quinta e sexta-feira, representantes do sindicato e lideranças da categoria se reuniram com a prefeitura. “Estamos negociando e vamos deliberar com a categoria”, avisou Braga.

Segundo o dirigente, a participação da CSB na organização do evento determinou o sucesso da empreitada. “Essa manifestação não teria acontecido se a gente não tivesse o apoio da CSB. A CSB foi fundamental para fazer esse negócio andar”, agradeceu em referência ao suporte direto recebido pela categoria do presidente Antonio Neto, de Francisco Moura, vice-presidente nacional e presidente da Seccional Ceará, e da Maria Barbara da Costa, secretária de Saúde e presidente da Seccional RJ.

“Para mim, ontem foi um dos dias mais importantes da minha vida como profissional taxista. Muitas pessoas que organizaram essa manifestação não têm nem o que comer em casa. Fizemos arrecadação de alimentos para os taxistas que não têm dinheiro para pagar nem a comida. Tem gente dormindo em carro. Esse governo não se importa, a prefeitura não se importa, as pessoas só estão pensando nos seus lucros e no seu bolso”, finalizou Hildo Braga.

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