Opinião | Tributaram aposentados – Parte 2

Se você fosse um lutador, escolheria lutar com o Mike Tyson no auge da carreira ou com o Maguila já aposentado? Se você respondeu com o Maguila aposentado, pensou como o governador de Mato Grosso. É o que o diferencia de um governador ousado, que poderia fazer história.

Na primeira etapa da reforma da previdência, o governo preferiu tributar aposentados, a mostrar que tinha coragem e ousadia para combater privilégios.

Os governos usam uma narrativa, imprimindo-a diariamente nos canais de comunicação, que tentam consolidar uma versão do governo sobre si mesmo. Uma face dele, como ele quer ser visto. O governo atual, tenta parecer ousado e destemido, aplicando medidas amargas.

O governo do estado, no tangente a essa reforma da previdência que taxou aposentados, quer fazer crer que era uma obrigação de Mato Grosso, pois que o governo federal aprovou uma lei e ponto final, não havia opção. O governador ainda cita outros 18 estados que aprovaram suas reformas e, compara a “danosidade” delas, com a aprovada em Mato Grosso.

Não é verdade. Nem que conte a mesma mentira mil vezes!

O governo de Mato Grosso tinha opção sim. As categorias mais corajosas e comprometidas com o bem comum, alertaram o governo. Debateram com ele números e cobraram dele memórias de cálculo e, cálculos atuariais atualizados que sustentassem sua proposta, além de proporem alternativas. O Governo nunca apresentou tais dados técnicos!

O governo tinha sim a obrigação de aprovar uma reforma da previdência em Mato grosso, que não cobrasse uma alíquota menor que a federal. Lembrando que o governo federal aprovou uma alíquota progressiva, variando de 7% a 22% a depender dos salários dos servidores federais. Até um salário mínimo: 7,5%, mais de um salário mínimo até R$ 2 mil: 9%, de R$ 2.000,01 a R$ 3 mil: 12%, de R$ 3.000,01 a R$ 5.839,45 (teto do INSS): 14%, de R$ 5.839,46 a R$ 10 mil: 14,5%, de R$ 10.0001,00 a R$ 20 mil: 16,5%, de R$ 20.000,01 a R$ 39 mil: 19%, acima de R$ 39.000,01: 22%.

No caso de trabalhadores do setor privado, a alíquota se aplica até o valor do teto do INSS.

É importante frisar, que cada percentual desse é aplicado em cima de uma faixa salarial, e no final se tira a média de todas essas alíquotas, ou seja, esses 7% cobra até um salário mínimo, se R$ 2.000 reais de salário, cobra-se 9% não sobre os R$ 2.000 reais, mas sobre R$ 1000 reais, pois já se cobrou 7% sobre um salário mínimo (ou seja, 1000 reais), e assim por diante. De modo que não ficaria 22% de alíquota no final, mas uma média de todas essas alíquotas aplicadas por faixa salarial, algo em torno de 16.5%, mesmo nos maiores salários, e não 22% com já dito.

O mais justo social e economicamente seria a Alíquota progressiva. Porém, o governo teria de ter a coragem de combater privilégios e de fato, combater aquilo que vem criticando desde o início do seu governo em seus discursos, sem dar nome aos bois, ou seja, os altos salários.

Aplicando a alíquota progressiva, seriam atingidos todos os servidores, mas quem ganha mais pagaria mais. Assim, abrangeria Promotores, Conselheiros do TCE, Procuradores do Estado, Delegados, Juízes e Desembargadores, Defensores públicos, Auditores de Controle Externo do TCE, os altos Salários da AL MT, entre outros.

Se assim o fizesse, não precisaria tributar as primeiras faixas salariais, dos já aposentados, que até então, eram isentas.

É bom lembrar, que pelas regras atuais, cobra-se previdência dos aposentados no serviço público Estadual, do que supera o teto do INSS, de pouco mais de R$ 5.800 reais. Então, se um aposentado ganha até esse teto, é isento. Se ganha, por exemplo, R$ 6.000,00, paga nas regras atuais, 11% sobre R$ 200,00 reais (que excede o teto), pagando para o fundo do MT PREV R$ R$ 22,00 reais. Lembrando que esta pessoa já contribuiu no mínimo por 30 anos se mulher e 35 anos se homem, com 11% descontado sobre o total da sua remuneração, na regra geral.

Ao invés de combater privilégios e fazer justiça com os mais pobres e necessitados, o governo tributou os já aposentados que ganham acima de um salário mínimo. Ou seja, um aposentado/a que ganha hoje R$ 5.800 reais e é isento, cumprida a noventena da lei, passará a pagar 14% do que excede um salário mínimo, ou seja, pagará, 14% em cima de R$ 4.800 reais, que dá exatos R$ 672 reais de tributo. Recordando que esse mesmo APOSENTADO/A era ISENTO/A, e da noite para o dia, governo e deputados insensíveis com o cidadão, impõe um tributo de R$ 672 reais por mês. Se usarmos o exemplo do aposentado que ganhava R$ 6.000 reais e pagava R$ 22,00 reais de previdência, este passará a pagar R$ 700,00 reais de imposto previdenciário todo mês. Mais o que já pagam de Imposto de Renda, consignados, remédios, asilos, cuidadores, é quase um decreto de morte para muita gente.

É preciso desmistificar outro argumento recorrente aos governantes. De que estão igualando as regras de aposentadoria do serviço público com a iniciativa privada. Ora pois, dizer isso é de uma ignorância técnica sem tamanho. Na iniciativa privada não se tributa o total da remuneração do empregado. Mas o teto. No serviço público se tributa 100% de sua renda.

Quando se aposentam na iniciativa privada, não se cobra mais previdência, nem dos menores nem dos maiores salários, já no serviço publico sim. Se tributava o que excedia o teto do INSS em 11% e agora, se tributará o que supera um salário mínimo em 14%. Um ataque sem precedentes aos aposentados mais pobres de Mato Grosso.

Não se enganem os servidores da ativa, todos irão cair nessa regra maléfica e injusta quando se aposentarem, se um dia se aposentarem. Com uma alíquota progressiva atingindo a todos indistintamente, se forçaria um debate mais sério sobre fontes alternativas de custeio da previdência com o governo, sem contar a pressão pra tornar superavitária a previdência e voltar a alíquota básica de 14% para todos, além de aumentar o controle sobre o fundo, já que todos estariam pagando mais.

Tudo por que faltou coragem e ousadia ao governo para combater os verdadeiros privilegiados. Na verdade, demonstra que governo e Assembleia Legislativa não temem o crivo do povo, da maioria, das urnas, mas se preocupam mais com uma minoria privilegiada, governam para poucos. Seja na concessão dos incentivos fiscais, seja na proteção de algumas categorias.

A segunda etapa da reforma da previdência pode acentuar isso ainda mais. Vamos ver a quem protege o governo afinal. Aí se poderá separar a narrativa oficial da versão real.

Por Antonio Wagner Oliveira

Fonte: Pagina News
Link: Tributaram aposentados

 

Compartilhe:

Leia mais
reunião tst centrais sindicais
Centrais têm reunião com presidente do TST sobre contribuição assistencial e emprego no RS
APOIO À NOTA TÉCNICA Nº 09 DA CONALIS
Centrais sindicais dão apoio à Nota Técnica da Conalis (MPT) sobre contribuição assistencial
acordo rodoviários porto alegre trt
Rodoviários de Porto Alegre terão reajuste no salário e no vale-alimentação
Apoio Financeiro RS prorrogado
Governo amplia prazo para empresas do RS aderirem a Apoio Financeiro a funcionários
prodesp descumpre cota jovem aprendiz
Tarcísio promete 60 mil vagas de Jovem Aprendiz, mas Prodesp descumpre cota
Fachada ministério do trabalho
Ministério do Trabalho notifica 1,3 mil sindicatos para atualizar informações; acesse a lista
falecimentot josé alberto rossi cnpl
Nota de pesar: CSB lamenta falecimento de José Alberto Rossi, ex-presidente da CNPL
3a plenaria conselhao
Centrais defendem esforço maior contra a desigualdade em plenária do Conselhão
Desemprego no Brasil cai em 2024
Desemprego no Brasil cai de 8,3% para 7,1% em um ano; massa salarial cresceu 5,6%
Encontro sindicatos BR-CHINA SP 2
CSB recebe sindicalistas chineses para apresentar atuação sindical no Brasil