Política econômica não muda após eleição presidencial
*Leandra Peres
Há poucas dúvidas entre auxiliares da presidente Dilma Rousseff de que o ministro da Fazenda num eventual segundo mandato continuará sendo a própria Dilma Rousseff. Guido Mantega dará lugar a alguém que possa reconquistar alguma credibilidade junto a empresários e investidores, mas as decisões importantes continuarão sendo exclusividade do Palácio do Planalto.
Esse arranjo significa que um eventual segundo mandato petista continuará estimulando o consumo, financiando a política industrial e gastando na área social. “Não tem volta atrás”, é a descrição ouvida no QG da campanha petista.
A grande mudança esperada por quem acompanha os planos políticos da presidente é mais agressividade nas concessões. A presidente Dilma teria se convencido de que o modelo dá resultados mais rápidos e melhores que o investimento público direto. O exemplo da modernização dos aeroportos é citado com frequência.
Questões como o represamento de preços administrados, convergência da inflação para a meta de 4,5% ao ano, futuro da taxa de juros ou desempenho fiscal são tidas como conjunturais e vão esperar pelo calendário político. As certezas no momento são de que não haverá um “tarifaço” em 2015 ou após as eleições e que o custo de trazer a inflação para a meta num prazo curto é muito alto e socialmente injusto. Ajustes devem ocorrer, mas não no ritmo esperado pelo mercado e não mudarão o rumo da política econômica.
Aliás, sobre esse assunto, o governo tem tido uma única voz. Interlocutores da equipe econômica em conversas com investidores têm reforçado a percepção de que a inflação não caminhará a passos rápidos para os 4,5% ao ano. Mesmo reconhecendo que os índices atuais, na casa de 6,5% ao ano, são desconfortáveis, o Banco Central e o Ministério da Fazenda têm insistido que uma convergência rápida da inflação exigiria um sacrifício econômico desproporcional e não seria aceito por um eleitor que quer manter emprego e renda.
A estratégia de ajustes lentos na economia durante um segundo mandato da presidente Dilma Rousseff parte da convicção de que o colapso nos indicadores de confiança é parte do processo eleitoral e não um problema estrutural. Definido o vencedor das eleições presidenciais, acredita-se que o empresariado terá que trabalhar com o novo governo e, sendo reeleita, Dilma Rousseff terá o benefício da dúvida e um voto de confiança para começar a trabalhar.
A última pesquisa divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que os empresários estão pessimistas. O índice de confiança da indústria de junho foi de 87,2 pontos, o menor valor desde maio de 2009 quando havia alcançado 86,4 pontos. Se forem analisados os diferentes setores da indústria, é entre os fabricantes de bens de capitais onde a expectativa de piora no futuro é maior.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer participar mais ativamente das articulações de um novo governo do que fez no primeiro mandato. O grau de influência de Lula pode suavizar a política econômica de Dilma Rousseff, mas é preciso lembrar que o ex-presidente nunca foi contra o crescimento do mercado interno, aumento do crédito ou dos salários e dificilmente será um opositor agora.
Há clareza entre a equipe que coordena a campanha à reeleição de que uma deterioração econômica nos próximos meses é o principal e o maior risco ao segundo mandato. O outro consenso que se formou é que não há mais o que o governo possa fazer para mudar o cenário econômico até as eleições e será preciso convencer o eleitor com os indicadores que estão aí.
Os recentes pacotes de ajuda ao mercado de capitais, manutenção do IPI reduzido para automóveis, melhores condições para o pagamento de dívidas tributárias, crédito a exportadores e estímulo ao setor de máquinas e equipamentos têm como objetivo quase exclusivo não piorar o que já não anda bem e sinalizar ao setor privado que a política de desonerações e crédito subsidiado será mantida.
A campanha petista monitora dois indicadores econômicos quase que em tempo real: a inflação de alimentos e o mercado de trabalho. O indicador do IPCA cheio, que esta semana ultrapassou a meta chegando a 6,52% ao ano, tem importância relativa. Para o cenário eleitoral, só não pode chegar ao fim de outubro ainda acima do teto oficial.
Já a inflação de alimentos é considerada um indicador-chave. As pesquisas de opinião mostram que o assunto é sensível. Em junho a pesquisa CNI-Ibope mostrou que 71% dos eleitores ouvidos reprovaram a política de combate à inflação do governo.
Os analistas políticos da presidente apostam que o eleitorado insatisfeito com a inflação já começou a sentir no bolso a queda no preço de alimentos, efeito que se ampliará nos próximos meses na visão oficial. Os dados do IBGE mostram recuo na inflação de alimentos. Em junho, o IPCA registrou deflação de 0,11%. No primeiro semestre de 2013, o grupo alimentos e bebidas subiu 6% e neste ano, 5% no mesmo período.
O discurso econômico preparado para a campanha insistirá nos custos do ajuste proposto pela oposição. Sempre que a inflação for tema, a presidente Dilma está sendo aconselhada a dizer que um ajuste rápido exigirá cortes de salários. Se a discussão for crescimento da economia, deve lembrar dos 11 milhões de empregos que o Brasil criou desde o início da crise internacional e prometer preservar os salários.
Os nomes citados na campanha petista para o Ministério da Fazenda continuam sendo o presidente do BC, Alexandre Tombini, e do atual secretário-executivo, Paulo Caffareli. A grande dúvida é o que a presidente Dilma Rousseff reserva para o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, em quem deposita 101% de confiança. Ele sai da Fazenda, mas não há quem afirme com tanta certeza que se afaste definitivamente do governo ou perca influência.
*É repórter da editoria de política do jornal Valor Econômico.
Fonte: Valor Econômico