O Presidente da CSB e do Sindpd participou do seminário “Reindustrialização do Brasil” realizado na Fiesp
O seminário, que teve como tema a urgente necessidade na retomada do crescimento industrial no país, convidou diversos especialistas em economia, personalidades do governo e representantes da sociedade para discutir o cenário atual das indústrias no mercado brasileiro, entre eles, estavam presentes o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o ex-secretário de finanças da Prefeitura de São Paulo, Amir Khair, o ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, a diretora da agencia brasileira de desenvolvimento, Maria Luisa Leal e o presidente da CSB e do Sindpd, Antonio Neto.
O presidente da CSB participou do painel que abordou o tema sobre “Instrumentos de política industrial e tecnológica para incentivar a reindustrialização do Brasil”, tratando do enfoque para o desenvolvimento de conteúdo local, compras governamentais, inovação tecnológica e concorrência.
Em sua intervenção, Neto disse que a utilização da tecnologia e inovação no processo produtivo é resultado direto de diversos fatores, dos quais três mais se destacam: “desenvolvimento da cultura da inovação, algo que está diretamente ligado à educação e investimento no desenvolvimento criativo desde a infância; propriedade da inovação tecnológica produzida, ou seja, quem será o dono desta inovação e para que ela será utilizada e financiamento, isto é, quem irá pagar a conta e qual será a origem deste recurso”.
Neto reforçou a importância da educação para este segundo processo de crescimento industrial no país. “Todo processo de desenvolvimento de inovação tecnológica passa, necessariamente, pela mudança e investimento no sistema educacional”, disse, referindo-se aos países que obtiveram êxito na inovação de seu sistema produtivo e na criação de novas tecnologias, como os asiáticos Japão, China e Coreia do Sul, que basearam seus crescimentos no desenvolvimento tecnológico.
“O Brasil vem avançando neste ponto [educacional], o governo têm feito esforços para ampliar o acesso dos jovens às instituições de ensino, sejam elas primárias, técnicas, de graduação e pós-graduação”, disse, Neto. “Mas este esforço, diante das nossas limitações financeiras, ainda está situado na quantidade e não na qualidade. Até 2012, mais de 1 milhão de vagas foram criadas através do ProUni. É um movimento importante que fornece maior escolaridade e qualificação para a nossos jovens, mas ainda está muito distante da necessidade de nosso país”, explicou.
Quanto à propriedade da tecnologia, Neto citou o problema endêmico que dificulta a inovação tecnológica. “Todos nós sabemos que o mundo é regido por grandes empresas multinacionais com atuação global. Para estes conglomerados pouco importa o lugar onde eles estarão estabelecidos”, ressaltou o presidente da CSB e do Sindpd, que logo criticou, “se o Brasil criar alguma restrição para a importação de seus produtos acabados, rapidamente eles instalam uma unidade para montar seus produtos no Brasil, colocando um selo de Made In Brasil, atendendo as exigências e mantendo o seu mercado cativo”.
Dessa forma, para Neto, independe do Brasil desenvolver ou não novas tecnologias, muito menos o Estado aplicar ou não uma política de desenvolvimento tecnológico, dificilmente essas determinações serão absorvidas pelos conglomerados, “podendo eles, facilmente, fechar suas portas no Brasil e transferir suas plantas para outros países”, citou.
Pensando nesses pontos cegos, principalmente no que diz respeito à competitividade industrial brasileira, Neto defende a criação de grandes blocos de demandas na esfera pública. “A nossa gestão precisa cobrar da iniciativa privada o desenvolvimento tecnológico e a inovação nos sistemas produtivos” explicou, dando como exemplo as licitações ou benefícios para produtos e serviços de empresas instaladas no Brasil. “Foi um mecanismo importante momentaneamente para trazer parte da produção para o nosso país, mas isso não resolve nosso problema estratégico, pois a propriedade da tecnologia ainda não é nossa”.
Com relação ao último ponto, o financiamento, o dirigente disse que o Brasil está deslocando um percentual muito grande do Orçamento da União para o pagamento de juros e encargos e que enquanto não forem adotadas medidas para diminuir este montante, o setor produtivo ficará buscando medidas paliativas para criar competitividade e ter recursos para investir.
“Todos nós, trabalhadores e empresários, estamos trabalhando incansavelmente para alimentar um sistema perverso e financista que drena o fruto do nosso trabalho para alimentar a fome voraz dos usurários. Aqui está o verdadeiro motivo de termos restrição de recursos para pesquisa, para educação, para saúde, para transporte, enfim, para que todos nós possamos nos desenvolver com dignidade. E se nós não tomarmos consciência disso, não começamos a enfrentar este problema, vamos permanecer o resto da vida reclamando que o problema do Brasil está na falta de competitividade, na alta carga tributária, nos custo trabalhista, na falta de mão-de-obra especializada”, afirmou.
Para o presidente da CSB, a falta de competitividade da indústria também não é fruto do gasto com salários. “O problema não é o alto salário pago ao trabalhador, pelo contrário. Nosso salário está muito abaixo do mercado internacional e a nossa produtividade também. O problema está no gasto com a dívida”, disse.
Matéria recente publicada no Jornal “O Globo”, mostra que em 2011, a hora de trabalho na indústria era de US$ 11,65 no Brasil, abaixo dos US$ 15,91 da Argentina, segundo dados do Escritório de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos (BLS, na sigla em inglês). Os números são bem menores que os registrados em países desenvolvidos como Estados Unidos (US$ 35,53), França (US$ 42,12) e Alemanha (US$ 47,38).
Ao mesmo tempo, dados da instituição de pesquisa americana The Conference Board, apontam que o desempenho da produtividade no país está aquém, comparado ao de outros emergentes. Em 2012, a produtividade no Brasil caiu 0,3%, na contramão do crescimento de 1,8% no mundo e de 4,8% nas maiores economias emergentes. O comportamento do país foi classificado pela entidade como um “declínio dramático”.
O Brasil já vinha registrando desaceleração: a expansão da produtividade, que tinha sido de 4,1% em 2010, caiu para 0,7% em 2011. “O Brasil já teve investimento e já defendeu o desenvolvimento da sua indústria. Em determinados momentos, tivemos que atrair empresas internacionais ou produtos com a finalidade de obter a tecnologia necessária para o nosso desenvolvimento. Mas muitas destas proteções foram desmanteladas, o que foi um equívoco”, finalizou.