Adriano Benayon aponta projeto de governo de Getúlio Vargas como solução para a crise

Economista defendeu a necessidade do investimento em tecnologia nacional durante Seminário Nacional de Formação Política da CSB

A ampliação da indústria brasileira e a necessidade do desenvolvimento tecnológico foram os principais pontos defendidos por Adriano Benayon, doutor em economia pela Universidade de Hamburgo, na palestra “Situação Econômica atual e alternativas para a retomada do Desenvolvimento”. A apresentação fez parte do Seminário Nacional de Formação Política da CSB, realizado em São Paulo.

IMG_3519De acordo com Benayon, a economia brasileira está doente. O desemprego crescente, empresas fechando, violência e insegurança são ingredientes que compõem o cenário de crise que o Brasil enfrenta. “O período que estamos passando é apenas mais um que reflete os defeitos estruturais que assolam o País há mais de 60 anos. Não podemos confundir  crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) com desenvolvimento. Nunca houve desenvolvimento no Brasil. Para sobreviver como um país, é importante investir na indústria nacional, e isso implica no desenvolvimento e na criação de tecnologia própria”, disse.

A desnacionalização da indústria brasileira começou em 1954 com fim do governo de Getúlio Vargas e foi agravada com o governo do presidente Juscelino Kubitschek, explica o economista. “Com o fim da era Vargas, o Brasil adotou um modelo econômico que implantou a dependência financeira e tecnológica do País. Abortou-se, assim, a verdadeira indústria nacional, que surgiu ao longo no início do Século 20. A desnacionalização acentuou-se sob  o governo JK, que inviabilizou o desenvolvimento da indústria automobilística nacional, ao entregar o mercado à Volkswagen e a outras transnacionais. A ditadura militar deu continuidade a essa política econômica e financeira, que contribuiu para  a desnacionalização. Isso resultou na crise da dívida e na inadimplência. Desde  a década de 1970 a maioria dos empréstimos e financiamentos externos destinava-se a rolar dívidas”, disse.

Segundo Adriano Benayon, a economia brasileira perde qualidade por meio da concentração da renda, da desnacionalização, da desindustrialização e do consequente empobrecimento tecnológico. “A lavagem cerebral faz jornalistas e acadêmicos regurgitarem que os investimentos internacionais são fundamentais para o País e que o não investimento público nas multinacionais leva a perda de crescimento econômico. Isso é uma grande mentira da mídia. O superfaturamento de importações e a remessa de lucros das multinacionais colocaram o Brasil em uma rede econômica que ele não consegue se desvencilhar e jogaram o País em um abismo econômico”, argumenta.

Outro ponto criticado pelo economista foi a política econômica implementada pelo Banco Central, de aumento da taxa de juros. “Os juros fazem parte dos custos de produção, ou seja, além de dissuadir investimentos produtivos e assim reduzir a oferta de bens e serviços, também é determinante da alta dos preços. Essa política torna ainda mais concentrados a renda e o poder nas mãos dos oligarcas financeiros. Daí ser essa política promovida pelas autoridades monetárias e endossada pelos beneficiários das doações de grandes empresas e bancos às campanhas eleitorais”, argumentou Benayon.

Alternativa à crise  

Para o economista, o sistema político e econômico que temos no Brasil é gerador de crises econômicas e políticas. “As pessoas que estão sendo massacradas com os cortes do governo serão cada vez mais atingidas pela crise. A crise fiscal e externa vai levar o Brasil para um abismo ainda maior. A proposta do ajuste fiscal apresentada como solução para a crise funciona como uma intoxicação médica causada por remédios. A receita do médico pode funcionar a curto prazo, mas a longo mata o paciente. Para o País superar a crise, é preciso corrigir os erros estruturais”, afirma.

A estatização das empresas e a continuidade do projeto de governo de Getúlio Vargas são as soluções apresentadas por Adriano Benayon como uma possível saída para a crise. “Vargas, dentre os estadistas brasileiros, foi o único que apresentou um projeto de desenvolvimento sólido para o Brasil. Um País precisa investir na criação de tecnologia e na indústria nacional para se tornar independe, e foi esse projeto de desenvolvimento nacionalista que Getúlio deixou para nós. As empresas estatais foram os grandes legados deixados por ele, porém as estatais foram entregues a preços muito abaixo de seu valor patrimonial. Ainda por cima, a União despendeu centenas de bilhões de reais para sanear passivos trabalhistas e financeiros das empresas privatizadas. Um prejuízo para economia e para o desenvolvimento”, defendeu.

Em seu governo, Vargas criou a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Vale do Rio Doce, a Companhia Nacional de Álcalis, a Fábrica Nacional de Motores, a Hidrelétrica do Vale do São Francisco, a Petrobras e a Eletrobrás. “Todas essas companhias eram patrimônio público e poderiam estar contribuindo para o desenvolvimento real do Brasil, mas infelizmente houve a privatização de algumas delas. As transnacionais não irão desenvolver tecnologia aqui, porque isso geraria desemprego dos engenheiros nos países deles. A desnacionalização acarretou, entre outras desgraças, na desindustrialização. A indústria nacional tem perdido cada vez mais espaço no PIB nacional. Agora, as armas das multinacionais que têm perdido lucros no Brasil é atacar a Petrobras, a Eletrobrás e os empreiteiros que contribuíram bem ou mal para o desenvolvimento nacional. A Petrobras é muito desvalorizada, mas ela, como a Embraer, desenvolveu muitas tecnologias importantes para o Brasil. As estatais é que irão criar tecnologia nacional”, afirma Benayon.

Segundo o especialista, a solução para o crescente índice de desemprego que atinge os milhares de trabalhadores está na indústria nacional. “Com mais empresas brasileiras produzindo, mais empregos são gerados. As micros e pequenas empresas são as maiores geradoras de postos de trabalho do Brasil. O emprego faz movimentar a economia e contribui para o crescimento do País”, declarou.

O economista também explanou sobre a necessidade de se investir em infraestrutura que proporcione o surgimento de indústrias nacionais, tais como melhorias na produção de energia, no abastecimento de água, tratamento de esgoto e uso dos recursos naturais. “Temos que voltar para o desenvolvimento da indústria de pouco custo, ao contrário da estrutura atual, que possui alto custo devido a interesses internacionais. Além disso, as grandes potências econômicas não querem que nós desenvolvamos tecnologia própria de ponta, porque o desenvolvimento tecnológico implica no desenvolvimento bélico, e o poder bélico é o que segura o poder do dólar. Se o Brasil for capaz de desenvolver tecnologia, poderá criar armas que tenham poder, e isso seria uma ameaça a atual ordem mundial”, concluiu.

Veja a galeria de fotos do Seminário Nacional de Formação Política da CSB

Assista à integra da palestra de Adriano Benayon no vídeo abaixo:

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