Central dos Sindicatos Brasileiros

“Ficou claro para a população que esse desgoverno é um governo antipovo”, diz Antonio Neto

“Ficou claro para a população que esse desgoverno é um governo antipovo”, diz Antonio Neto

O Brasil tem vivido nos últimos anos piora da economia, aumento do desemprego e as tentativas de fragilizar o sindicalismo brasileiro. Esses foram assuntos tratados com o presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio Neto.

Neto, ajudou a fundar o Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados (Sindpd) em 1984 e foi eleito presidente em 1989 e em 2008 fundou a CSB que hoje agrega cerca de 800 sindicatos, 31 federações e 1 confederação.

Na entrevista dada ao Mundo Sindical, Neto fala que o sindicalismo precisa resistir diante dos ataques que tem sofrido desde a reforma trabalhista do Michel Temer e as dificuldades que o patronato tem colocado para as negociações. O atual governo é abordado por ele, ao falar sobre a incompetência de Paulo Guedes e atuação do governo durante a pandemia.

Mundo Sindical: O que é necessário para o fortalecimento do movimento sindical em período tão conturbado?

Antônio Neto: Primeiro é a resistência. Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe. Nós temos que ter paciência, o pior já passou. Já são três anos desse governo e em 2022 temos eleições, e provavelmente, alguma força progressista deverá ganhar. Ficou claro para a população que esse desgoverno é um governo antipovo. Todas as promessas que indicavam fazer reformas para gerar 2 milhões de empregos, 10 milhões em seis anos, aquelas coisas todas, mas pelo contrário, nada disso aconteceu. Aí vieram com a reforma da previdência e todo mundo está vendo que ninguém vai se aposentar e agora a reforma administrativa com a PEC 32 que quer destruir o funcionalismo público e legalizar a rachadinha dentro do serviço público. Com a pandemia ficou claro a importância do serviço público. Então devemos ter um pouco mais de paciência e resistir.

Devemos ir para cima dos patrões, fazer negociações. Até o Ministério Público mudou a sua visão sobre o custeio sindical. O fato de você não ter mais a contribuição compulsória faz o sindicato a ter contribuição assistencial ou negocial. Nas negociações com as empresas essas formas de contribuição tem sido aceita pelo patronal tranquilamente, ao ponto do Ministério Público soltar uma nota técnica número 3 de 2019 reconhecendo que, se o patrão pagar a contribuição negocial, não é uma prática antissindical. O movimento do Ministério Público está evoluindo para uma discussão e o Brasil começa a fazer uma discussão na relação entre capital e trabalho, o papel dos sindicatos que você precisa e que ao mexer na estrutura sindical, acabando com um dos pilares da estrutura sindical brasileira, que é a sustentação financeira, no caso a contribuição compulsória, você também mexe na representação erga omnes ou é só para filiados, ou só para quem contribui? Você tem toda essa discussão. Até nasceu a PEC 196 que está parada no Congresso e que achamos que o momento está muito complexo para debater esse tipo de coisa, mas você tem uma boa discussão dentro do movimento sindical da necessidade de que se redefina a forma da relação da capital e trabalho e a sustentação financeira, tanto dos sindicatos patronais como dos trabalhadores.

MS: A união das centrais sindicais é o caminho para a melhora da economia e defesa do trabalhador?

Antônio Neto: Sim. Você sabe que nós criamos o Fórum das Centrais durante a pandemia. Foi até interessante porque eu me reuni mais com os presidentes das outras centrais, do que com os diretores da CSB. Nós nos reunimos toda semana. Isso ordinariamente. Nós criamos vários protocolos. Além dessas reuniões entre nós, montamos também reunião com governadores, com o Fórum Nacional dos Prefeitos, Fórum Nacional dos Secretários de Saúde e especialistas em pandemia. Geramos protocolos e ofertamos para os governos. Nas reuniões com os governadores, nós nos inserimos dentro do que eles chamavam de gabinete de emergência.

Durante esse tempo, quanto mais convivemos, mais você vai perdendo o ranços pessoais, tanto que tivemos dois 1º de maio online com todas as centrais. Pode ser que ano que vem, um ano eleitoral, infelizmente a gente não consiga ter um dia do trabalhador unitário por causa da disputa eleitoral, mas temos conversado. Ontem mesmo (a entrevista foi realizada no dia 8 de outubro) a tarde era para todos nós, presidentes das centrais, estarmos na porta da General Motors aqui em São Caetano do Sul (SP) em apoio a greve dos metalúrgicos da GM, teve uma desarticulação, pois houve algum progresso na negociação. Isso mostra que a convocação de um presidente de central, no caso o Miguel Torres, presidente da Força Sindical, chamou todos para irem para lá. Eu também conversei com [Ricardo] Patah, presidente da UGT sobre a nota em defesa da manutenção de desoneração da folha de 17 setores e que essa diminuição de tributos acaba em 31 de dezembro e sabendo que não houve uma reforma tributária ampla, então sugerimos que se mantenha o que temos, pois isso mexe com trabalhadores de diversos setores e automaticamente todos os presidentes assinaram a nota, ou seja, a uma unidade muito grande e forte, no sentido de passar esse momento. Nós montamos uma trincheira e estamos todos juntos nessa trincheira, enfrentando esse ultraliberalismo, essa entrega da nossa nação e essa desregulamentação total, tanto que conseguimos colocar duas vezes o Brasil na lista suja da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Tudo isso é fruto de uma unidade e tem sido muito importante essa união.

MS: Tenho acompanhado você nas redes sociais e tem sido bem ativo na esfera política, principalmente nas críticas ao atual governo que quer acabar com o Brasil. Você acha que é essencial os trabalhadores se interessarem ainda mais sobre política, pois eles sofrem com os erros dos governantes?

Antônio Neto: É mais do que isso. Isso é muito importante. Temos que discutir com os trabalhadores, mas eu creio que em 2018 não houve uma discussão política durante as eleições. Teve só um tsunami de ódio e paixão na época. Quando olhamos para as eleições municipais em 2020, já começou a aprofundar a discussão, fruto da crise, da carestia, o valor da gasolina, o custo dos produtos da cesta básica, o salário mínimo caindo e o dólar disparando, toda essa questão de pandemia, falta de respirador, de máscara, kit de intubação, aí as pessoas começam a olhar de forma diferente. Nossa expectativa é que, em 2022 a discussão da campanha eleitoral, seja uma discussão mais politizada. Já não dá para pensar em brincar. Você que a imensa maioria diz que não é nem A e nem B e está procurando uma alternativa e não permita que o radicalismo daqui e nem o outro que trouxe isso aqui. Isso é muito importante nessa discussão da participação dos sindicatos, mas mais do que isso, teremos que participar como atores do processo político, que é disputar as eleições.

Hoje no Congresso Nacional temos 120 votos e se você espremer um pouco mais, cai para 80. Isso é insuficiente para fazer uma Lei, alterar a Constituição. Lembre-se, precisamos de 308 votos para alterar a Constituição e no caso do impeachment são 342 votos. Se não tiver nossos representantes e nisso eu creio que o Mundo Sindical tem um papel importante nisso, porque o patronato, a bancada da bíblia, da bala e do boi, só tem bancada deles e não tem bancada trabalhista. Nós teremos que fazer uma discussão com os trabalhadores e o movimento sindical sobre a importância de elegermos companheiros e companheiras que chegando tenham esse compromisso. Muitos dirigentes sindicais estão colocando seus nomes à disposição dos partidos políticos para disputar a eleição de deputado federal, de deputado estadual e às vezes até de senador, no intuito de ocuparmos o espaço também. Nós somos a maioria e sendo a maioria, devemos convencer as pessoas que precisamos ter representantes dele lá no Congresso, que defende as causas dos trabalhadores.

MS: Na economia temos um ministro da Economia que não se importa com o mais pobre, mas preocupado com as grandes empresas obterem lucros. Como você entende o Paulo Guedes e o seu “pseudo trabalho” à frente do Ministério da Economia?

Antônio Neto: Você já começou definindo claro. O cara que faz uma pergunta boa, já na própria pergunta tem resposta. Pseudo ministro da Economia.

Na verdade, o presidente Bolsonaro, já na campanha já dizia que não sabia nada de economia e que todos deveriam perguntar no posto Ipiranga. Até virou meme. Colocou cinco ministérios para ele, que não consegue gerenciar tudo isso. Na verdade, o compromisso dele é outro. É só ver agora a denúncia que saiu agora da Pandora Papers que aparece ele com R$ 50 milhões em paraíso fiscal, embora isso não seja a primeira vez. Meirelles quando foi ministro do Lula também tinha seus investimentos em paraísos fiscais. Mesmo sendo imoral, não é ilegal, então eu posso fazer. Veja que coisa absurda, o cara não acredita no país. Quando ele fala assim: Se eu fizer muita coisa errada é que o dólar chegará a mais de R$ 5, mas se ele tem interesse em investimentos aplicados em dólar fora, quanto mais o dólar subir, mais ele vai ganhar. Ele tinha R$ 36 milhões e agora tem R$ 51 milhões, fruto da taxa de aumento da moeda dos EUA. Então veja. Ele administra a economia nos seus interesses e no interesse daqueles que ele representa. Veja o caso da previdência. Esse mesmo projeto que ele apresentou aqui, foi o que ele levou para o Chile e que lá gerou toda aquela confusão que acabou em uma convocação de uma assembleia nacional constituinte para mudar todos esses parâmetros. Aí você vai olhar todas as questões da entrega do patrimônio nacional e para mim de uma maneira corrupta. Eu não tenho como provar, mas não é possível que eu tenho um gasoduto, oleoduto que eu vendo e depois alugo o mesmo gasoduto e oleoduto que em 5 ou 10 anos eu pago tudo de novo. Como você vende a sua casa, continua morando nela e paga aluguel. A única lógica disso é o da corrupção, do peculato, que o cara vai se beneficiar dessas coisas. Então, a verdade é que durante a pandemia e esses dois últimos anos desnudou a incompetência dessa gestão macroeconômica, que vem desde Fernando Henrique Cardoso. É a história do tripé superávit primário, câmbio flutuante e inflação, essas questões passaram por Fernando Henrique Cardoso, os dois mandatos do Lula, dois da Dilma, Temer e Bolsonaro. Esse é o grande problema e sempre favorece o rentismo. Na questão do petróleo, aí a submissão, principalmente ao capital americano que é tudo entregue para eles, agora aumentamos o índice de importação de óleo diesel e gasolina. Nós exportamos óleo cru, eles refinam lá e nós compramos de volta. Aí a política de preços da Petrobras é atrelado ao valor do barril do petróleo em Roterdã que é da especulação e o governo vem falar que o problema é o ICMS, que os governadores são os culpados, mas quando era R$ 2,20 a gasolina e agora que é mais de R$ 5, o valor da alíquota é a mesma, mas eles dizem que quanto maior for o preço da gasolina, maior vai ser essa fatia do ICMS e agora querem colocar um valor fixo. Até isso, esses idiotas estão pensando. Eles não pensam em reduzir o preço ou mudar a política de preço, pensam em prejudicar aquele recurso que vem para o Estado para educação, segurança e investimentos.

É péssima a gestão dele. Acho inclusive que pelos acontecimentos do Pandora Papers e até o Centrão que agora domina o governo quer a cabeça do Paulo Guedes. Ele provou ser incompetente. Como não mencionar a história da carteira do Banco do Brasil de R$ 1,2 bilhão que foi vendida por R$ 370 milhões para o banco BTG que é uma empresa do grupo dele. O que ele falou sobre a Pandora Papers foi: “A offshore que eu tenho lá não é minha, está no nome da minha esposa e do meu filho. Eu já me afastei disso”. É brincadeira, o cara precisa ser cara de pau para falar isso. É aquilo que eu disse. É imoral, é ilegítimo. É tudo que você possa imaginar, mas é legal, então pode.

MS: Estamos praticamente há um ano das eleições presidenciais e todos querem o impeachment do Bolsonaro. O que é mais importante no momento, buscar o impeachment ou trabalhar para divulgar cada vez mais o desastre e tirar ele por meio do voto?

Antônio Neto: Tem que ser os dois. A prioridade para mim, Antonio Neto, é tirar ele da presidência. Já são mais de 600 mil mortes pela covid. Saiu até a notícia que o governo não comprará mais a vacina da Coronavac, porque é ligado ao Doria e é do Butantan, e o governador pode sair candidato a presidente. Só que nós não aguentamos mais 15 meses com esse cara, então vamos tirar fora. Nós brincamos muito com alguns memes e aquele da mulher gritando como uma louca contra a gasolina a R$ 2,80, pedindo para não comprar, pois serão obrigados a baixarem o preço e hoje a gasolina está chegando em alguns locais a R$ 7 e essa galera passa pano para tudo. É como os companheiros do PT e da esquerda radical para com o Lula. Passa pano pra tudo. O Lula jantar com Eunício, com o MDB e os jornais estão noticiando que ele quer a Câmara e o Senado na mão do MDB. Os caras já estão dividindo ministério. Vamos lembrar o Fernando Henrique quando sentou na cadeira da prefeitura de São Paulo e o Jânio Quadros foi lá e desinfetou. Soberba é a pior das atitudes do ser humano.

Então, vamos tirar o Bolsonaro da presidência, vamos denunciar os desmandos, as mazelas. Denunciar tudo. É um governo corrupto, ladrão, peculato, e não adianta falar em rachadinha, isso é peculato. Além de genocida com 600 mil mortes de brasileiros por covid-19.

Eu infelizmente perdi minha mãe. Ela foi vítima da covid. Hoje (8 de outubro quando a entrevista foi feita) ela faria 95 anos, mas em primeiro de abril ela faleceu de covid. Fruto do descaso desse grupo que está gerenciando o Brasil. É só ver a CPI para ver o que foi a Prevent Senior, o uso do kit covid, utilizando vermífugo contra vírus. Você vai combater verme ou vírus. É uma coisa surreal.


Fonte:  Redação Mundo Sindical – Manoel Paulo – 19/10/2021